Sábado – 16/05 – Palcos Pyguá e Yguá (Centro Cultural Oscar Niemeyer)
O segundo dia de apresentações começou mais cedo do que o dia anterior, por volta das 19:30, já com um destaque instrumental: a banda Camarones Orquestra Guitarrística. Os potiguares apresentam um som denso misturando elementos de rock, ska e surf music com uma pegada que tem se destacado entre as produções instrumentais do país.
Ainda com público tímido no início, a banda Carne Doce foi a segunda a se apresentar. Interagindo bastante com o público, os goianos empolgavam a plateia com a extravagância da voz de Salma e a pegada instrumental certeira dos outros músicos da banda.
Chegando a inserir algumas faixas novas no repertório, a banda mostra que a cada apresentação em grandes festivais aumenta seu público, ousando mais a cada vez que aparecem ao vivo. Chegou a rolar lançamento de disco para a plateia (no sentido literal da palavra “lançar”: foram jogados alguns discos mesmo) e um stage diving inesperado da vocalista do grupo que quis se incluir no meio das danças do público.
Lê Almeida e Câmera tiveram suas apresentações um pouco afetadas por parte do público que preferiu enfrentar as (grandes) filas do festival para comprar fichas de alimentação e bebida, mas as composições lo-fi de Lê repletas de distorções e o indie rock dos mineiros da banda Câmera (mais uma vez com uma inclinação para a psicodelia que marcou o festival) alcançaram os ouvidos atentos da plateia destacando a variedade interessante de gêneros que o festival trouxe para esta edição.
Outro destaque deve ser feito para a apresentação dos americanos da King Tuff. Com um rock dançante, riffs poderosos e distorções pesadas, o power trio espontâneo e divertido prendeu a atenção do público e fez dançar até mesmo os que estavam mais distantes do palco durante a apresentação. Era possível perceber um ar de interesse em boa parte da plateia que parecia não conhecer muito bem as músicas da banda mas comentava positivamente sobre a primeira atração internacional da noite e se divertia ao som de um bom rock sem frescuras.
Os gaúchos da Apanhador Só também tiveram boa aceitação no festival. Se apresentando em Goiânia pela primeira vez, a banda apostou no experimentalismo com diferentes instrumentos (incluindo parte de uma bicicleta e uma chave de fenda, usados para fazer um curioso som) e pôde presenciar o público cantando a maioria de suas músicas, pedindo faixas mais antigas como “Nescafé” e “despirocando” de vez (como diz a letra de “Despirocar“, também bastante aguardada pelo público).
A apresentação foi uma surpresa para a banda que não esperava uma recepção tão calorosa na cidade e foi uma ultrapassagem de expectativas para o público que aguardava há tempo uma apresentação dos caras por aqui. De quebra, os fãs presentes ainda ficaram sabendo de novos projetos da banda, que incluem um financiamento coletivo para um novo disco além de uma turnê por 21 cidades diferentes se apresentando em salas de estar de residências locais. É algo a se aguardar e, principalmente, se observar.
Empurrando o festival para um ritmo bem mais calmo e contido, J Mascis subiu ao palco sozinho e assim se manteve durante toda a apresentação. Com um show acústico e intimista, viajando da calma do dedilhar de um violão elétrico à riffs estridentes e repletos de efeitos, o mítico guitarrista e vocalista do Dinosaur Jr. conseguiu hipnotizar boa parte dos presentes, mesmo trocando poucas palavras com o público e quebrando o ritmo atônito e corrido habitual do festival.
Um dos ápices da noite foi, com certeza, a apresentação de Karol Conká. A rapper curitibana trouxe de volta para o festival a loucura e a animação, levando àqueles que estavam presentes em massa de frente para o palco a se divertirem bastante e até mesmo participarem da apresentação em cima do palco.
Com sucessos bem voltados para um ritmo mais pop como “Corre, Corre Erê“, “Gandaia” e “Tombei” (parceria com os headliners da noite, Tropkillaz), Karol deu também uma maior leveza às críticas sociais presentes em algumas de suas letras (a exemplo de “Bate a Poeira“) com sua performance teatral e feminilidade, dando destaque ao seu som pela mistura de funk, hip hop, rap e influências negras. Uma festa, um mix que foi além das barreiras estabelecidas para alguns “festivais alternativos” e deu certo.
Ainda em uma onda de loucura, a próxima atração da noite foi o Bonde do Rolê, trio sem limites, sem pudores, polêmico e depravado. Com direito a um boneco inflável de Jesus dançando (?) no palco, o grupo apresentou suas letras ácidas combinadas a cada faixa com diferentes ritmos como funk, forró, música eletrônica e até rock.
O público foi convidado ao palco, subiu nas caixas de som e fez até uma performance à parte com tentativas de pole dance improvisadas na plateia. Loucura generalizada, que deixou algumas pessoas até mesmo incomodadas. Hits bem conhecidos pelos fãs como “Picolé“, “Geremia“, “James Bonde” “Vida Loka” e “Bang” fizeram parte do repertório.
O encerramento da segunda noite de maratona de shows no CCON foi feito com uma vibe de festival eletrônico. Ao som das pesadas batidas de trap/bass music das pick-ups do duo Tropkillaz em parceria com Cachorro Magro (também conhecido como MC Shawlin), o público ouviu grandes sucessos da música atual (como a faixa “Turn Down For What“, de Lil Jon e Dj Snake, que vibrou todo o centro cultural com graves e com a empolgação do público) sempre com uma pegada de originalidade. Os produtores Zegon e Laudz conseguiram levantar o ânimo até dos mais cansados, trazendo Karol Conká de volta aos palcos em determinado momento do show.
KING TUFF
Divertidos e bem acessíveis, os americanos da banda King Tuff curtiram o festival junto com o público, assistindo às diversas apresentações que aconteceram no sábado, aproveitando a receptividade dos fãs brasileiros, a cultura e a culinária regional e até mesmo gravando uma parte do Brasil na pele (como foi o caso do vocalista Kyle Thomas que resolveu se tatuar no evento). “Os brasileiros são bem amigáveis e acolhedores, estamos nos divertindo bastante por aqui, é tudo o que procuramos nos lugares onde vamos nos apresentar!”, disse Kyle.
Sobre o festival, Kyle destacou o bom senso do público e organização da estrutura montada: “Existem alguns festivais onde você vai e está cheio de babacas, vomitando nos lugares… você não vê isso por aqui. E além disso tem essa mistura de atrações: arte, skate e música, tudo isso anda lado a lado, o que faz muito sentido.” O trio ainda mandou um recado para os fãs brasileiros: “Estamos muito felizes de estarmos aqui no Brasil, sempre quisemos vir aqui e vocês não nos desapontaram. Amamos vocês!”