Inovar e mudar o seu som a cada álbum ou manter-se em seu estilo? Esse é um dilema de muitas bandas e, seja qual for a escolha, nunca agradará a todos os fãs e críticos.
Dito isso, o The Cribs nunca mudou muito desde seu álbum de estreia em 2004, sendo as pequenas alterações restritas às peças complementares à banda: produtores. Uma participação digna de nota foi a de Johnny Marr em 2008, o que de certa forma deixou o som da banda mais enxuto, mas durou até 2011 apenas.
Agora, os irmãos Jarman se uniram ao produtor Ric Ocasek (vocalista do The Cars) para gravar o sexto álbum de suas carreiras: For All My Sisters. Ocasek é bastante lembrado pelos seus trabalhos com o Weezer (Blue Album, Green Album e Everything Will Be Alright In The End) e deixou algumas de suas marcas nesse novo trabalho do Cribs.
For All My Sisters abre com uma trinca de ótimas faixas. “Finally Free” é uma canção inicialmente quebrada e com riffs não muito convencionais que logo se converte em uma música pop com seu refrão explosivo. Na sequência conhecemos “Different Angle”, faixa típica da carreira dos irmãos Jarman que possui todos os riffs da natureza indie garageira deles com um refrão memorável.
“Burning For No One” é um dos pontos altos do disco; sua marcante linha de baixo e bateria enquanto Ryan desfila com seus riffs de guitarra é ainda mais impressionante quando aliada às metáforas sobre solidão. Em versos como “Like a candle on a vacant table / Being so denied / I’m burning for no one”, é impossível não se deixar levar por essa canção.
“Mr. Wrong”, “City Storms” e “Summer Chances” nos transportam para a época em que o Cribs “estourou” no Reino Unido com os discos The New Fellas e Men’s Needs, Women’s Needs, Whatever. Essas faixas demonstram como a banda não tenta reinventar a roda e sim se tornar experiente em seu estilo de composição.
Por outro lado, “An Ivory Hand” e “Diamond Girl” mostram o toque de Ric Ocasek no disco. O teclado que caminha junto da primeira, e sua própria levada, lembram muito Weezer em sua fase inicial, enquanto “Diamond Girl” impressiona com seus diversos riffs. O mesmo é presente em “Pacific Time”, uma quase balada do Cribs que chama atenção ao uso de teclado para acompanhar a melodia da faixa, dividindo espaço com a guitarra onipresente em seu refrão. Aqui se encontram as maiores “mudanças” do disco.
A faixa que fecha o disco é “Pink Snow”, que merece todo destaque. Aqui temos o estilo de composição do The Cribs que chama atenção pelo seu formato “calmo / agressivo”. Isso mesmo, tal qual “City Of Bugs” em Ignore the Ignorant e até mesmo a épica “Be Safe” com Lee Ranaldo em Men’s Needs… , “Pink Snow” tem seus versos mais cadenciados até chegarem ao explosivo refrão onde estão os gritos e bateria e guitarras aceleradas. A faixa é excelente e marcante durante seus sete minutos. The Cribs em sua melhor forma.
Mas nem tudo são flores. Ouvir esse disco de cabo a rabo pode soar enjoativo de primeira, mas é uma sensação que some a cada nova audição, dando lugar à sensação de que algumas faixas parecem ser desnecessárias por tão simples e pobres que são. Inegável o fato que a banda sempre primou para uma simplicidade, se mantendo no estilo de garagem que gostam, mas “Simple Story” e “Spring On Broadway”, por exemplo, não encontram seu espaço no disco, e se ficassem de fora do álbum, nem mesmo a primeira sensação de enjoativo poderia aparecer.
No fim, For All My Sisters mostra o melhor lado do The Cribs na maior parte do tempo, escorregando em alguns momentos. Fica evidente que Ric Ocasek consegue dar uma nova roupagem para algumas faixas, mas o Cribs tem sua própria forma, quer você goste ou não. Manter-se à sua forma pode soar preguiçoso, mas não é o que ocorre aqui. Com roupagens novas ou não, a identidade da banda é sempre presente, e isso é admirável.