Quando se ouve uma banda pela primeira vez, assim, sem qualquer informação prévia a respeito, usamos nossa própria bagagem auditiva para fazer referências e digerir mentalmente o novo. No caso do Speedy Ortiz, que lançou recentemente seu terceiro álbum de estúdio (Foil Deer, Abril/15), a associação mais fácil a ser feita é com o grunge e o movimento riot grrl, ambos dos anos 1990.
O tema é corriqueiro para a banda em quase todas as entrevistas, porém, eles sempre deixam claro que os anos 1990 não são sua maior inspiração, e sim as bandas contemporâneas como as da cena de Boston, capital do estado de Massachussets, onde vive o quarteto. O que faz termos essa associação mais superficial é o vocal feminino e a distorção de guitarras. Porém, “Tudo isso já existia antes do grunge,” sempre reforça Sadie Dupuis, vocalista, letrista e guitarrista do grupo.
O novo trabalho vem com uma camada mais grossa de dedicação em estúdio, já que é o primeiro em que eles não precisaram conciliar com outros empregos. E o resultado é claro, músicas melhor produzidas e ainda assim com aquele toque sujo do garage/rock. De certa forma, é um disco que pode até concorrer com o retorno do Sleater-Kinney.
Com 12 músicas, as letras merecem atenção especial. Em cada uma vemos que de fato o mestrado em poesia que Sadie completou recentemente valeu à pena. São jogos de palavras bem trabalhados, sempre com um pouco de fúria e certa introspecção. Em “The Graduate”, por exemplo, a compositora conta como “era a melhor em ser o segundo lugar”, música que transporta o ouvinte a esse universo “college rock” de bandas como Pavement e até de PJ Harvey.
“My Dead Girl” e “Ginger” fazem parte da segunda metade do trabalho e mostram a competência do guitarrista Devin Mcknight na criação de solos, brincando com distorção de uma maneira diferente em músicas mais lentas. Os jogos de guitarra se estendem em duplas combinações de Devin e Sadie. Como em “Homonovus”, onde se mescla explosão com momentos contidos entre os instrumentos do duo.
“Quantas voltas demora para você decidir que está de volta ao início”. Assim começam os primeiros versos de “Zig”, que vão ecoando num clima tenso, em um retrato da vida repetitiva, rotineira, como máquinas.
Um disco com um toque de complexidade, uma sonoridade segmentada, que deve atrair um público mais específico. Para quem gosta de viagens linguísticas e guitarras distorcidas e quase desconexas é um prato cheio.