Resenha: Brandon Flowers - The Desired Effect

Em seu segundo disco solo, vocalista do The Killers pesca elementos dos Anos 80 para um grande álbum pop.

Resenha: Brandon Flowers - The Desired Effect

Os Anos 80 foram um período esquisito na história da música.

Estilos como o Rock’n’Roll e o Punk haviam explodido na década anterior e interpretados e ouvidos à exaustão, fazendo com que a sede por novos gêneros logo popularizasse o surgimento e crescimento de tantos como o pós-punk e a new wave.

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Na música pop, grandes nomes começaram a criar seus sons com as então tecnologias revolucionárias para tanto e também fizeram bom uso da MTV, nascida em 1981 como uma baita plataforma para artistas com grande apelo visual e canções que grudam na cabeça das pessoas.

Não à toa, clipes e hits começaram a ser produzidos em massa e não é difícil identificar uma música dos Anos 80 quando você a ouve ou assiste, já que diversos elementos foram reutilizados por músicos, bandas, produtores e diretores.

Ainda assim, seja por nostalgia, apelo musical e/ou visual, muita gente ainda se identifica com os Anos 80 e seus clichês, como é o caso do vocalista do The Killers, Brandon Flowers.

Em seu novo disco solo, The Desired Effect, Flowers resolveu oferecer aos ouvintes uma passagem pelo túnel do tempo com data marcada para a época citada, tanto musicalmente quanto na aparência e nas artes utilizadas para a divulgação do álbum.

Assim como em seu primeiro disco, Flamingo, Flowers volta a falar da sua cidade, Las Vegas, explorando os lados obscuros da cidade do pecado logo de cara, na vibrante “Dreams Come True”.

Aqui, Brandon faz muito bom uso de seus vocais e da grandiosidade instrumental que utilizou em tantos grandes hits do The Killers. A decisão da faixa como abertura do álbum foi bastante acertada.

Logo na sequência, a volta ao passado começa em grande estilo com “Can’t Deny My Love”, suas batidas eletrônicas e afro, vocais cheios de efeito, backing vocals femininos e uma música pop de primeira que deixaria qualquer compositor dos Anos 80 com inveja ao chegar no seu refrão cheio de energia, clichês de guitarra e teclados.

“I Can Change” começa como uma balada e quando você acha que Flowers já diminuiu o ritmo das coisas, a canção se transforma em uma declaração pessoal dançante que flerta com o pós-punk e ícones dos Anos 80 como “Flashdance”.

A percussão, os sintetizadores e as camadas dão o tom de “Still Want You”, canção cheia de climas diferentes e uma letra que traça um paralelo de tudo que acontece no planeta enquanto o autor ainda quer o seu amor: “O tempo está passando / ainda quero você / o crime está aumentando / ainda quero você / mudanças climáticas e dívidas / ainda quero você / mais do que antes”.

“Between Me And You” vem na forma de uma canção que cresce ao passar do tempo enquanto Flowers conta uma história sobre como o mundo está lhe pressionando de todas as formas, mas ele “faz seu melhor” para que nada entre “em nosso caminho.”

A próxima canção, “Lonely Town”, volta a falar sobre as dificuldades da vida adulta, compara a velocidade de como ela gira a um brinquedo de parque de diversões e musicalmente faz uso de diversos clichês da música pop de outros tempos: instrumentos de sopro, teclados, autotune e até mesmo solos vocais.

É aqui, na música que foi lançada inclusive como single, que Brandon mostra como conseguiu reunir diversos clichês da música popular de décadas passadas sem fazer com que o resultado final virasse uma piada, por exemplo. Há uma linha tênue entre o que poderia ter sido um verdadeiro desastre e o que, de fato, aconteceu na forma de um álbum pop cheio de boas influências que tem a sua cara própria.

“Diggin’ Up The Heart” faz bom uso da mistura de música country com pop que também marcou a história através de teclados, guitarras marcantes e passos de dança que você pode imaginar assim que a música começa a tocar.

Enquanto “Never Get You Right” volta a apostar na fórmula de verso e refrão, fazendo novamente bom uso da voz de Flowers, “Untangled Love” prepara os trabalhos para a faixa que encerra o álbum na forma de “The Way It’s Always Been”.

A mixagem da última música do álbum faz com que a voz se destaque em relação à batida que dá o tom à boa parte da canção, e é como se o líder do The Killers estivesse cantando pra você. Ao final, diversas camadas são adicionadas ao bolo para que The Desired Effect seja finalizado como começou: de forma grandiosa.

São menos de 40 minutos e 10 faixas em que Brandon Flowers irá te levar por uma viagem ao tempo, pelas ruas de Las Vegas e por sua vida, de maneira bastante pessoal.

Para isso, resolveu prestar uma verdadeira homenagem a uma época em que era fácil se render aos clichês, abusar do que dava certo e limitar a criatividade. Ao contrário disso, Flowers soube pescar muito bem o que utilizaria no álbum e fez um disco solo muito superior ao anterior que mostra bem o seu talento como cantor e compositor e o traz de volta aos momentos mais interessantes do The Killers.

 

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