Resenha: 19º Cultura Inglesa Festival

Evento trouxe shows de <strong>Gaby Amarantos</strong>, <strong>The Strypes</strong> e <strong>Johnny Marr</strong>

Festival Cultura Inglesa no Memorial da America Latina

Textos: Rakky Curvelo e William Galvão / Fotos: Marcos Bacon

A 19ª edição do já tradicional Cultura Inglesa Festival aconteceu neste domingo, 21, no Memorial da América Latina, em São Paulo. Esse ano, o evento coincidiu com o primeiro dia do inverno brasileiro. Ao contrário da chuva que acompanhou o Los Campesinos! e o Jesus and Mary Chain no ano passado, o dia teve sol e até deu uma esquentada.

Publicidade
Publicidade

Esse intercâmbio cultural entre o Brasil e o Reino Unido já faz parte do calendário oficial de eventos de São Paulo. Os paulistas puderam conferir de perto shows da banda de alunos Blue Drowse, a banda de professores da Cultura Inglesa Staff Only, a artista Gaby Amarantos cantando divas britânicas com seu toque tecnobrega, os irlandeses do The Strypes e o show solo do lendário ex-guitarrista do The Smiths, Johnny Marr. Além do festival, há sempre uma programação paralela e também gratuita de cinema, espetáculos, bate-papos e exposições.

 

PROGRAMAÇÃO CULTURAL VAI ATÉ 5 DE JULHO

Até o dia 5 de Julho o público ainda confere no Centro Brasileiro Britânico três exposições de artes visuais: a “Portrait Gallery”, mostra do artista Mauro Piva, inspirada no maior museu de retratos de Londres; a “Princípia”, exposição inédita baseada no gênio Isaac Newton; e a também inédita “Utopian News From Nowhere”, da artista Thais Albuquerque Braga inspirada em William Morris.

A visitação é gratuita e pode ser feita de segunda a sexta-feira, das 10h às 19h, e aos sábados, domingos e feriados das 10h às 16h. O Centro Brasileiro Britânico fica na Rua Ferreira de Araújo, 741, em Pinheiros (SP).

 

THE STRYPES

Pela primeira vez no Brasil, o quarteto irlandês The Strypes apresentou a turnê de seu segundo disco de estúdio, Little Victories, lançado em Julho desse ano. Claro que eles também tocaram algumas músicas do debut, Snapshot, de 2013.

Após o duo inicial com a explosiva “Now She´s Gone” e o blues-indie moderninho de “What a Shame”, o simpático guitarrista Josh McClorey exclamou: “Eu quero ver todo mundo dançando, pulando e ficando maluco”, já engatando em “Best Man”, que tem uma pegada punk nas vocalizações do introspectivo Ross Farrelly.

Sempre limitada ao guitarrista, a comunicação da banda com o público no show variou entre “obrigados” (também em português) e elogios ao público. Um deles foi bonito de se ouvir: “vocês são um público maravilhoso, muito obrigado”. Já no fim da apresentação, o guitarrista afinou a guitarra com o solo de “Someday” do The Strokes, uma das grandes influências do grupo.

Então, finalmente, antes da última música, Ross (vocalista) falou com o público para agradecê-los, mas logo teve seu brilho ofuscado por Josh (guitarrista), que aproveitou o momento para fazer uma selfie com a plateia.

No único bis da apresentação, que contou com “I Need To Be Your Only”, o baixista Pete O’Hanlon também deu sua dose de simpatia ao público quando foi buscar um balão do Bob Esponja na plateia e o “fez cantar” o refrãozinho gritado “oooooo” da música. Ao todo, o setlist teve 16 músicas e parece ter agradado tanto fãs quanto o grupo.

GABY AMARANTOS

Abrindo para o Johnny Marr, a cantora paraense misturou seu gingado tecnobrega às canções das divas britânicas. A artista entrou no palco ao som de “Bohemian Rapsody”, do Queen, vestida de rainha. Ao cantar “I Want To Break Free”, explica: “Estou aqui pra homenagear as maiores divas britânicas e pra mim ele [Freddie Mercury] é a maior diva de todas. Viva Freddie Mercury”.

A apresentação de Gaby foi marcada por bradar contra o preconceito e à intolerância religiosa. A cantora citou o pastor fundamentalista Silas Malafaia e disse: “Estamos vivendo um momento de muita intolerância. Ninguém pode falar qual a sua sexualidade ou qual a sua religião”. Para combater essa intolerância toda, Gaby também deu a receita: “Vamos espalhar o amor! Vamos espalhar o amor!” e dizia isto enquanto jogava girassóis para a plateia, com “Dog Days Are Over”, de Florence And The Machine que era remixada pelo DJ que acompanha a cantora em seus shows.  Em outro momento, quando o guitarrista Manoel Cordeiro e a cantora Lia Sofia fizeram uma participação em homenagem ao Culture Club, Lia aproveitou o ensejo e mandou um “Foda-se Malafaia”, em protesto. O pastor tem sido um dos nomes acusados de incitação ao ódio, principalmente contra LGBTs, em seus templos religiosos.

Com uma versão “sósia” de Amy Winehouse no palco, Amarantos cantou uma versão de “Rehab” e se auto-denominou “rainha da fuleragem” ao falar da música que faz e do Pará. Entre músicas próprias e versões, ela mostrou o poder de sua voz em um show cheio de rebolado.

Com mais duas convidadas paraenses (Ayla e Luê), os Smiths também foram homenageados. A artista cantou ainda uma versão de “Blue Monday”, do New Order em uma sessão karaokê com Dani Peixoto.

Para o final do show, uma metralhadora de hits ingleses se misturou a grandes sucessos de público dos anos 90 e 2000 nas ruas do Brasil, formando um imenso “karaokê ao vivo”, jeito de Gaby de descrever o que estava acontecendo no palco. Clássicos do rock como “A Little Respect”, do Erasure, “Suedehead” do Morrissey, “London Calling”, do The Clash e até duas canções da chamada “musa britânica da sofrência”Adele, foram mixadas com sucessos da própria Amarantos como “Ex Mai Love”, outros sucessos britânicos como “Wannabe” das Spice Girls e alguns hits do funk carioca como “Cerol na Mão”“Elas Estão Descontroladas”“Ah, LehLek Lek Lek Lek”.

Para encerrar a apresentação, Amarantos chamou todos os convidados que já haviam entrado no palco em outros momentos para cantar e tocar junto com ela “Galera da Laje”, música que tanto ela quanto a Gang do Eletro apresentam em seus shows.

JOHNNY MARR

Às sete da noite em ponto, o lendário guitarrista dos Smiths, Johnny Marr, sobe no palco para o encerramento do 19º Cultura inglesa Festival empolgado, assim como o público, que não hesitou nas palmas e coros dessa festa oitentista.

Com um setlist de 18 músicas, Marr deu espaço a seis canções do The Smiths, além das músicas de seus dois álbuns solo (The Messenger e Playland), incluindo sua versão de “I Feel You”, do Depeche Mode. Essa é a segunda vez que o guitarrista toca no Brasil. Sua primeira passagem pelo país foi em 2014, no Lollapalooza, quando fez uma surpreendente apresentação.

Abrindo com a faixa-título de seu álbum mais recente, Playland (2014), Johnny Marr não poupou a ânsia dos fãs por sua antiga banda e já emendou em “Panic”, um dos maiores clássicos dos Smiths. O público sucumbiu de alegria.

Após um momento de atenção com “The Right Thing Right”, veio o hit “Easy Money”, levantando novamente a plateia na cantoria. O músico se comunicou bem com o público, com muitos “obrigados” em português. As cerca de 12 mil pessoas que estavam ali, em sua maioria fãs incontestáveis da banda anterior de Marr, ditaram a essência da apresentação.

Mesmo que um tanto apáticos a algumas músicas da carreira de Marr como em “24 hours” e “New Town Velocity”, o público se mostrou bastante atento e receptivo a canções como “Candidate”, “Back in the box”, “Generate! Generate!” e a “Getting Away With It”, do projeto Electronic, que fez com o líder do New Order, Bernard Sumner.

Carentes de qualquer aparição do The Smiths no Brasil, o público deixou claro que estavam ali muito mais pela lendária banda oitentista do que pelo guitarrista de fato, ainda que curiosos. Isso pôde ser constatado muito bem com a explosão de euforia quando o músico tocou “Bigmouth Strikes Again”, “There is a Light That Never Goes Out” ou “Stop Me If You Think You’ve Heard This One Before”. Apesar de “How Soon Is Now?” ser o maior hit smithiano, parece não ser a preferida entre os brasileiros.

Mesmo com todos os pormenores, é fato que Johnny Marr sabe muito bem conduzir grandes públicos, seja por sua capacidade de comunicação oral ou corporal: ele não parou um minuto no palco, deu altas levantadas de guitarra e mostrou que pular é com ele mesmo. Sua festa oitentista terminou rica, ainda muito requisitada e, com certeza, tem uma vida ainda longa pela frente.

Sair da versão mobile