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Resenha: Jamie xx - In Colour

Em seu primeiro disco de estúdio o produtor esbanja criatividade, vasto conhecimento musical e ótimas participações especiais.

Resenha: Jamie xx - In Colour

O modo de que as pessoas se relacionam com a música é extremamente pessoal. Uma banda, disco ou canção podem fazer uma pessoa feliz, mas ao mesmo tempo fazer outra se sentir triste. E muitas vezes a mensagem do compositor não é bem evidente — e talvez esse nem seja o objetivo na maioria dos casos. No primeiro disco de estúdio do produtor Jamie xx, In Colour, essas emoções vão se sobrepondo e o ouvinte parte em uma viagem por diversos estilos e sons, como UK Garage, Trip Hop e, principalmente, o house.

Jamie Smith, mais conhecido pelo seu trabalho com o The xx, vem produzindo conteúdo fora da banda há anos. Em 2010, o músico foi contatado por Richard Russell, dono da XL Recordings, para remixar o último álbum gravado por Gil Scott-Heron. O resultado, We’re New Here, foi bem recebido e chamou a atenção de todos os críticos pela criatividade e “audácia” de Smith em querer se distanciar do disco original. Desde o álbum, o DJ vem lançando vários singles, e a maioria deles faz parte do seu novo trabalho.

O álbum começa com “Gosh”, que apesar de parecer simples de início, dá um bom tom de como será o resto do disco. Os sintetizadores estão bem presentes e muito bem aplicados não somente nessa faixa, mas também ao longo do álbum inteiro. Seguindo a faixa de abertura está a também ótima “Sleep Sound”. Quando Jamie lançou esse single para audição (no ano passado), a faixa tinha um pouco mais de 6 minutos de duração, e o belo clipe feito para a música é ainda um pouco mais longo, mas por algum motivo o músico decidiu cortar a canção para um pouco menos de quatro minutos — o que é uma pena.

“SeeSaw” marca a primeira aparição de Romy Madley-Croft, integrante do The xx, em In Colour. O modo como a canção pega o embalo da faixa anterior, com uma transição perfeita, é mais um acerto por parte do produtor.

Ao ouvir “Obvs” pela primeira vez, eu fiquei um pouco confuso. Os tambores de aço fazem a canção parecer muito fora “de posição” no álbum, apesar da faixa não ser ruim por si só. É verdade que, ao longo de “Obvs”, os arranjos começam a fazer muito mais sentido e se mostram bem mais condizentes com o “tema” do disco, mas a música poderia facilmente ser tirada do tracklist sem grandes perdas. Após isso, “Just Saying” serve como um pequeno interlúdio, indicando a transição para a segunda metade do álbum, que é composta somente por ótimas faixas.

Para começar, “Stranger In A Room” é marcada com uma participação de Oliver Sim, outro companheiro de Jamie no xx. Aliás, essa música poderia muito bem ser colocada em um dos discos da banda. Tanto a letra quanto o arranjo passam a sensação intimista do trio de indie pop, e até chega a deixar qualquer fã do grupo ansioso para o próximo trabalho em estúdio dos membros.

Logo após “Hold Tight”, outra faixa que soa mais como um interlúdio, é hora de Romy voltar para os vocais em “Loud Places”. Esse é mais um dos pontos altos do álbum, e mostra toda a capacidade de Jamie de aproveitar ao máximo as melhores habilidades de cada convidado — claro que essa parceria já é bem “manjada” devido ao dois serem companheiros de banda, mas isso também chega a ser bem presente em “I Know There’s Gonna Be (Good Times)”. A colaboração entre Smith e os artistas Young Thug e Popcaan é uma grande surpresa, tendo em vista que ela se distancia um pouco do UK Garage e tem influências (e elementos) de dancehall e trip hop. Apesar dessa música também não se conectar muito com as outras presentes no álbum (como mencionado em “Obvs”), o resultado acaba agradando bastante.

Para completar o álbum, “The Rest Is Noise” e “Girl” são duas faixas instrumentais fenomenais que mostram que, apesar das colaborações serem o grande destaque do disco, Jamie Smith consegue muito bem se virar “sozinho” e fazer algo perfeito — principalmente se tratando de alguém lançando seu primeiro disco solo. Aliás, as escolhas de samples usadas pelo produtor chamam bastante atenção: “Girl”, por exemplo, conta com trechos desde “Burning”, do The Whitest Boy Alive, como “Our Prayer”, de Brian Wilson (Beach Boys).

Em geral, In Colour é mais do que um ótimo álbum. Com ele, Jamie xx mostra cada vez mais ao mundo o seu potencial como produtor e músico, esbanjando criatividade e um vasto conhecimento musical. Além das participações especiais no disco serem muito bem aproveitadas, o experimentalismo de Smith também é notável — apesar de isso nem sempre funcionar como esperado.

O álbum provavelmente vai agradar os amantes da música eletrônica e seguidores do The xx. E se você é como eu e nunca foi muito fã desse gênero, aqui vai minha dica: ouça o disco, você pode acabar se surpreendendo!