Lançamentos

Resenha: Zac Brown Band - Jekyll + Hyde

Zac Brown Band faz laboratório em novo disco, mas erra o passo na falta de organicidade.

Resenha: Zac Brown Band - Jekyll + Hyde

Por Giácomo Tasso

Zac Brown Band conseguiu, nos últimos trabalhos, chamar atenção misturando suas raízes country com o rock e o blues. Essa mistura fez com que fãs desses gêneros apreciassem uma banda que era denominada apenas como country até então.

Um exemplo foi a parceria com Dave Grohl , que resultou no EP The Grohl Sessions e na participação de Zac Brown no disco / documentário Sonic Highways na faixa / episódio “Congregation”, gravada no (desculpe o trocadilho) celeiro musical da country music americana: Nashville.

Jekyll + Hyde (nome da clássica história de Robert Louis Stevenson sobre o doutor que separa seu lado bom de seu lado ruim em duas personalidades, Jekyll e Hyde), quarto disco de estúdio da banda, já nos avisa em seu título que ouviríamos um lado diferente do grupo. Com novas misturas e experimentos. Zac chegou a dizer que o resultado final do disco poderia surpreender o público. De fato, surpreendeu, mas não de uma maneira boa.

Poderíamos muito bem dividir o álbum em duas partes: a que funciona e a que não funciona. Mas correríamos o risco de deixar um lado muito maior que o outro. Portanto, o disco se inicia com “Beautiful Drug”, uma faixa que emula faixas EDM como uma espécie de “Hey Brother”, de Avicii. É o primeiro exemplo de novos gêneros que a banda tenta incorporar, e o primeiro exemplo de como faz isso de maneira ruim. “Loving You Easy” é uma espécie de balada que soa extremamente clichê, apesar de seu ritmo inicialmente interessante, mas ao chegar em seu refrão acaba com a boa primeira impressão.

“Remedy” é uma das melhores faixas do álbum ao nos trazer algo mais familiar aos fãs da banda, com alguns toques gospel (como o backing vocal excelente). É uma canção diferenciada, mas com as raízes de Zac Brown. “Homegrown” segue com a boa sequência, nos trazendo um country mais pop de grande alcance. Ótima faixa.

Ao chegarmos a “Mango Tree” vemos uma tentativa de jazz standard onde a voz de Zac Brown não convence, e apesar da boa participação de Sara Bareilles, a música é fraca.

“Heavy Is The Head” é a faixa mais pesada do álbum. Com a participação de Chris Cornell, a canção é cheia de riffs e solos. É uma canção boa, mas a sua localização no contexto do álbum soa estranha, e ela fica deslocada. “Bittersweet” vem então para acalmar os ânimos. A faixa é uma bonita balada que logo se desenrola em uma pegada mais rock. Essa com certeza iria para o lado bom do disco. “Castaway” é uma amostra da mistura do álbum, com ritmo caribenho misturado com reggae e com “ai ai ôs”, dá vontade de pular de música.

Dando continuidade ao álbum, temos “Tomorrow Never Comes”, uma canção com grande potencial, mas que é estragada pelo “batidão” semelhante ao de “Beautiful Drug” e seus toques eletrônicos. Se você imaginar a faixa sem a batida, dá pra ter noção de como ela seria uma bela balada. “One Day” foi co-produzida por CeeLo Green e nos entrega uma pseudo-balada (o álbum é cheio delas) com um ritmo um pouco mais groovy, mas que soa extremamente genérico. O mesmo pode ser dito de “Young and Wild”.

“Dress Blues” é uma bela história anti-guerra com uma slide-guitar bem trabalhada e um trecho com violinos bastante marcante. É então que Jekyll + Hyde chega em seu ponto alto: “Junkyard”. A faixa é uma mistura de rock com o country da banda, mas feita de maneira progressiva, até atingir seu ápice com solos de guitarra, violino e a voz de Zac, aqui se mostrando excelente. A canção seria uma ótima faixa final, demonstrando mais uma vez a falta de cuidado com a posição das músicas presente em todo o disco.

“I’ll Be Your Man (Song For A Daughter)” é a posição em que a banda parece mais confortável, com seu country mais pop, e transmite uma sensação orgânica. Aqui não fica aquele gosto de faixa genérica, também presente em boa parte do disco. E o álbum se encerra com “Wildfire”, uma faixa dançante (no melhor sentido, não como “Beautiful Drug”) e que me passou a sensação de que o disco estava de ponta cabeça, pois podia muito bem abrir o álbum de maneira excelente ao invés de estar em último aqui.

Ao chegar ao fim de Jekyll + Hyde é realmente difícil gostar do conjunto da obra. Um disco extenso, com 15 faixas onde somente 7 são interessantes, e que foi a tentativa de Zac Brown Band atingir novos horizontes. As experimentações são sempre bem-vindas (como em “Junkyard”, uma faixa excelente!), mas na maioria dos momentos do álbum, o que se sente é que estamos ouvindo algo extremamente genérico, uma mistura de ritmos apenas por misturar.

Em seus pontos altos, Zac e sua banda conseguem nos passar ótimas faixas, emocionantes, experimentais dentro de suas raízes e orgânicas. Mas infelizmente, em sua metade má, não sentimos nada disso. Sem desmerecer o trabalho que foi feito ou as experimentações em si, o que mais incomoda ao fim do disco é a falta de organicidade com que as experimentações são feitas ou o excesso do sentimento genérico, o “fazer por apenas fazer”, sem a cara da banda.

O que fica na memória depois de se ouvir o quarto disco de estúdio de Zac Brown Band são as poucas faixas boas de seu total e a noção de como The Foundation, You Get What You Give e Uncaged eram bons.