Entrevistas

TMDQA! entrevista: Move Over

Nossa equipe conversou com a vocalista do Move Over, Dri Santana sobre o lançamento do disco "Elemento Surpresa" , rock feminino e muito mais. Acompanhe!

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Depois de 12 anos de carreira, mudanças de formação, alguns lançamentos e shows no interior de São Paulo, a Move Over está lançando seu primeiro disco de estúdio, Elemento Surpresa. O álbum tem produção de Brendan Duffey (Angra, Dr. Sin, Kiko Loureiro, Malta, RPM), programações eletrônicas de Marcelo Baldin e a contribuição criativa de Eric Silver (NX Zero, Shania Twain).

Em entrevista por telefone, a vocalista Dri Santana falou com a equipe do TMDQA! sobre essa história, além de desenhar um paralelo entre a Move Over de antes e de depois do reality show SuperStar, comentar suas preferências no rock feminino e muito mais. Acompanhe!

TMDQA!: Vamos começar falando um pouco da história do Move Over, que tal? Vocês são uma banda já bastante experiente, com 12 anos de estrada, e estouraram com a participação no SuperStar. Como surgiu a oportunidade de participar do programa? 

Dri Santana: Bom, a gente completou 12 anos de carreira esse ano, na época do SuperStar eram 11 anos. A gente fala que esses anos de trabalho foram como uma escola pra gente, porque foi no independente, era uma ralação, mas a gente fazia tudo com muito amor, com muito cuidado, a gente queria que tudo fosse muito bem feito, com as condições que a gente tinha ali, né?  A gente sempre foi uma banda muito ativa, sempre lançava muito material para os fãs, fazia shows, etc. No interior de São Paulo o pessoal falava que a Move Over era a maior banda do interior. Acho que foi ali que os olheiros do SuperStar, que estavam procurando as bandas que se destacavam em cada lugar do Brasil nos viram. Aí a gente recebeu uma ligação, falando que ia rolar um reality de bandas e perguntando se a gente queria fazer uma audição, que seria um teste, pra de repente participar do programa. A gente também mandava muito material para a Globo, em tudo o que era coisa que envolvia banda, então eu acho que eles já deviam ter algum material nosso por lá e o fato de a banda também estar sempre em atividade ajudou. Eu sei que a gente foi bem, aí ligaram pra gente falando pra gente ir pro programa e foi bem legal.

[one_fourth]”Foram 11 anos de escola no independente pra gente conseguir chegar lá com uma sonoridade bacana, com uma personalidade”[/one_fourth]

TMDQA!: O que mudou na vida do Move Over depois da participação no SuperStar? 

Dri Santana: A gente fala que o SuperStar foi um divisor de águas na nossa carreira. Antes a gente fazia um trabalho que era em pequena escala, e aí o SuperStar trouxe uma visibilidade nacional pra gente, que é o que todo artista, toda banda precisa. O que a gente quer com a nossa música é de alguma forma tocar a vida das pessoas e o SuperStar foi isso, ele fez com que a gente tivesse uma visibilidade muito grande e a aceitação da galera para o nosso som foi incrível, a galera se identificou, a gente teve pontuações muito legais durante todo o programa, a gente cresceu muito. Foram 11 anos de escola no independente pra gente conseguir chegar lá com uma sonoridade bacana, com uma personalidade. Mostramos o que a gente sabia fazer e o pessoal super comprou a ideia. O aprendizado foi muito importante, o contato com a Ivete (Sangalo), a nossa madrinha, até hoje a gente se fala sempre, ela manda recados, conselhos, diz que está acompanhando. E também aprendemos muito com os outros jurados, fizemos contatos com bandas que a gente vai levar pro resto da vida, é uma coisa muito gostosa de viver. E claro, também se não fosse o SuperStar, talvez a gente não conseguisse chamar a atenção de uma grande gravadora. Hoje é muito legal estar com a Universal, que é uma gravadora que consegue dar uma expandida no trabalho, para que a gente continue fazendo algo sólido.

TMDQA!: Falando um pouco sobre o disco de vocês, o “Elemento Surpresa”,  o que a produção do Brendan Duffey acrescentou no trabalho e como foi trabalhar com ele? 

Dri Santana: Foi muito bom trabalhar com ele. A gente estava no meio da turnê do ano passado, e aí decidimos que iríamos terminar a turnê e parar um tempo para gravar, e começamos a pensar onde iríamos gravar, com quem, essas coisas. O Brendan a gente já conhecia de ouvir falar bastante no meio do rock, metal, ele era um cara que tinha uma experiência. A primeira vez que a gente se falou, já foram altas gargalhadas, porque ele é um gringo muito gente fina e muito engraçado, então ele já falou altas coisas bacanas pra banda e aí, já deu muito certo. Bom, eu lembro de a gente gravando e falando pra ele: “olha, aqui a gente quer tal timbre, tal sonoridade”, ai o cara vai lá e gira 5 botões e aperta 2 pedais e pronto, ele consegue tirar aquele som que você queria mas que não necessariamente sabia explicar o que era. Ele tem essa experiência. Foi muito bacana.

Eu lembro que no dia em que a gente estava gravando “O Tempo Se Vai”, uma música que fala de uma certa nostalgia, a gente começou a conversar que precisávamos colocar algum elemento que soasse como o interior de São Paulo.  Aí chegou o Vavá, que era um cara que fazia alguns trampos pro estúdio, com uma viola caipira, de 12 cordas, afinada no tom da música, tipo, tinha que acontecer né? Aí ele começou a tocar lá e a gente parou ele, do tipo: “Cara, você tem 10 minutos?”, e ele “Ah, eu tenho até 20!”, e aí a gente já jogou ele no estúdio, ele começou a tocar, foi um clima bem gostoso.

 

TMDQA!: Falando um pouco do lado pessoal de vocês, a gente vê na história da música algumas bandas que têm casais em sua formação, como o Pato Fu, o Arcade Fire, White Stripes, Leela, entre outros. Como é que a sua história com o Leandrinho (baterista) influencia no trabalho da banda? 

Dri Santana: Bom… antes de a gente começar a namorar a gente já era muito amigo, a gente gostava muito de conversar sobre música e sobre tudo, e começamos a perceber que aquela amizade estava muito colorida. Na época que a gente começou a namorar eu tinha uma banda de heavy metal mais pesado e o Lê tinha uma banda de heavy metal melódico. Como a gente levava tudo aquilo muito a sério, começamos a sentir necessidade de montar um projeto só nosso, a gente estava namorando, a gente ia viver daquilo, então porque não juntar o útil ao agradável? Já tínhamos uma veia mais apurada para composições, eu tinha algumas coisas que eu não mostrava pra ninguém, ficava ali no caderninho, mas era uma coisa mais misturada, porque eu também sempre tive uma veia muito pop, desde criança. Eu dançava street dance, jazz, enfim…

Acho que pelo fato de a gente, antes de tudo se gostar como pessoa, porque eu passava muito tempo com ele, rindo de tudo, eu não via o tempo passar, aí tudo foi dando certo. Acho que isso é assim até hoje. Claro, somos humanos, não somos perfeitos, mas acho que essa amizade, essa coisa dos gostos pelas mesmas bandas, pelas mesmas coisas, essa vontade de querer fazer uma banda e viver disso, tudo isso dá um certo equilíbrio pra relação e para o trabalho. Na banda, ele não é meu marido, meu namorado. Ele é meu companheiro, comparsa de rock’n’roll, de estrada, e eu posso falar tudo pra ele e ele vai me ajudar e eu vou ajudar ele e nós vamos trocando essas ideias. Eu acho que isso faz com que tudo fique mais tranquilo. Não tem cobrança, a convivência facilita tudo, as coisas tem um equilíbrio que é importante.

TMDQA!: A Move Over já passou por diversas mudanças de formação. Como vocês conheceram o Alex e a Fernanda para fechar a formação atual? 

Dri Santana: A gente passou muito tempo vivendo de ponte aérea entre Bauru e os outros lugares para onde a gente precisava ir. Aí o escritório da banda ficava em São Paulo, a gravadora, em São Paulo e no Rio. Infelizmente, não tinha mais como a gente ficar em Bauru, então a gente escolheu mudar para São Paulo. Como a gente já estava com algumas ideias um pouco diferentes daquelas dos nossos amigos que também estavam na banda, um dos meninos já estava quase perdendo a faculdade por causa da turnê o outro também já tinha outros projetos, e a gente conversou na boa e todo mundo se entendeu.

Eu sei que viemos pra São Paulo e aí conhecemos o Alex, que já tinha feito alguns trabalhos com a gente antes de entrar para a banda e que era um cara muito amigo, muito prestativo. Eu e o Lê sempre encabeçamos as coisas e o Alex sempre ajudava a gente a tirar aquelas ideias do papel e estava ali pra o que der e vier. E era isso que a gente precisava: um cara gente fina, um amigo, que toque bem, que tenha pegada, feeling, e que seja prestativo pra gente conseguir fazer esse trabalho mesmo.

E aí com a Fe foi a mesma coisa. O Alex falou pra gente que tinha uma amiga para apresentar, que tocava baixo e que era muito boa. E eu lembro que a gente ficou super empolgado porque nunca tínhamos parado para pensar em ter outra mulher na banda. Eu já fiquei mega empolgada porque a banda sempre teve só homem e eu sempre me dei muito bem com os meninos, mas a gente sente falta de um papo de luluzinha as vezes sabe? Falar sobre depilação, cabelo, tinta, maquiagem, essas coisas de desabafar com amiga mesmo, né? A gente se conheceu e ai já achamos ela muito legal, muito calma, sem contar que ela é linda né? Aí nós trocamos várias ideias e ficamos só esperando a hora de tocar pra ver se ia funcionar. Na hora que ela ligou aquele baixo… pronto! Era ela! Porque a gente sempre fala ,né? A fulana de tal tem pegada mole, não tem pegada…  E assim, ela pegou aquele baixo e já tocou muito melhor do que muitos que eu já vi tocar nesses meus 12 anos de rock. Aí eu falei “caraca véi! Vamos pegar essa menina aí!” E ela também já estava super afim, já começamos a marcar ensaio, gravações. Enfim, a química foi ótima e a gente fechou com todo mundo. Agora nós somos duas meninas e vocês vão ter que engolir isso aí! (risos)

TMDQA!: Vou aproveitar que você falou de ter duas meninas na banda para falar um pouco sobre o que você curte do rock feminino no Brasil.

Dri Santana: eu tenho visto aparecer cada vez mais mulheres no rock, várias meninas fazendo muita coisa legal, às vezes recebo algumas delas nas minhas redes sociais falando “olha, eu tenho uma banda, escuta aí” e eu acho isso muito legal… Eu acho que a mulher tem cada vez mais tomado seu espaço, sentido abertura para fazer suas coisas, cada vez mais colocando nossa opinião, as coisas que a gente pensa e que a gente sente. Acho que quanto mais a gente se unir, quanto mais a gente crescer, o rock só vai evoluir e a gente agradece, né?

TMDQA!: Quais são as principais influências do Move Over?

Dri Santana: olha, a gente fala de muita coisa. Eu como vocalista acho até meio clichê falar porque toda vocalista, toda cantora, a primeira coisa que fala é Elis Regina mas pra mim a atitude que ela tinha quanto pegava aquele microfone, chegava a chorar cantando, e tinha uma distorção na voz que é muito rock’n’roll. Aí tem a Janes Joplin que até o nome da banda surgiu por causa dela, que é uma referência de sentimento, de voz, e é claro, isso junto com uma sonoridade de uma banda que a gente ama e que influencia muito a gente que é o Muse. Tem também um cara que todo rockeiro de carteirinha se pudesse ia querer fazer uma parceria com ele que é o Dave Grohl né? A gente ama Foo Fighters, é uma das nossas bandas preferidas… Enfim, um monte de coisa, só que isso claro somado a uma pegada meio Alanis MorissetteThe Cranberries, que é uma coisa que a gente também gosta muito. Eu acho muito legal a gente misturar essa coisa da rebeldia com um certo sentimento assim, então o nosso CD tem um pouco de tudo isso. Acho que tudo o que a gente acaba ouvindo influencia de alguma forma.

TMDQA!: Para finalizar, vocês tem mais discos que amigos? 

Dri Santana: Cara, eu acho que sim viu? (risos). Acho que nós músicos, artistas e jornalistas, a gente tem mais discos, a gente tem mais livros, porque a gente passa o dia ouvindo música, é uma coisa impressionante. O tempo todo tem que ter trilha sonora. A gente nem percebe, na verdade. É que a gente é realmente movido à música e fica o tempo todo. E às vezes eu até acho estranho porque a gente tá em casa fazendo algumas coisas e eu falo: “Baby… tem alguma coisa estranha aqui…”, aí ele responde: “Ah, é que eu esqueci de por música”. Aí ele vai lá, põe alguma música e a gente pensa “Bom, agora vai”. Então sim, a gente tem mais discos que amigos, mas amigos também! Acho que tudo é importante, os amigos são tesouros na vida e os discos nem se fala.