O primeiro disco da Atalhos, Onde a Gente Morre não vai fazer você cortar nenhum caminho. Ouvir o trabalho e tentar entender a construção e a desconstrução de cada música é uma tarefa árdua. É que o álbum de Gabriel Soares (bateria e voz), Conrado Passarelli (guitarra), Marcelo Sanches (guitarra) e Alexandre Molinari (baixo) conta boas histórias de amor, de medo e algumas fantasias, mas é necessário deixar a correria do dia a dia e prestar atenção em cada uma delas.
Já na primeira faixa, “Sozinho Contra Todos” você encontra os principais elementos que precisa para decidir se vai ou não à frente: uma mistura de instrumentos e efeitos, ampliando o interesse por aquelas histórias do cuidadoso trabalho fotográfico encartado do vinil. O desabafo gritado de Gabriel em uma voz embargada, entrega os caminhos trilhados por quem conhece bem as referências Neil Young e Wilco, que aparecem quase que permanentemente ao longo das canções.
O disco, que on-line tem 12 faixas e se transformou em um belo LP duplo, tem bons destaques, e vai do indie ao post rock. Em todas as faixas encontramos uma linha para pensar em uma grande viagem lúdica que passa por cenas do cotidiano, narra histórias e contos ou trabalha a instrumentação, fazendo com que o ouvinte se deixe levar enquanto a agulha percorre os sulcos do vinil.
A balada “Só o Amor no Fim”, é uma historia mil vezes já contada daquele casal que infelizmente não deu certo, com o jeito do Atalhos de dizer isso. Já a dançante “Cowboy da Estrada de Terra” é a história de um funcionário de uma grande empresa que quer se libertar das obrigações do dia a dia. O folk instrumental de “Thomas Bernhard”, chama para a estrada de terra, uma música para deixar rolando e imaginar novas trilhas, enquanto a imaginação te faz correr para outras direções.
Em “Coroados 3666Km”, o violino aparece marcando a letra mais profunda de todo o disco. “Onde a Gente Morre”, que dá nome ao trabalho, volta a falar de amor de um jeito mais suave e certeiro.
“Ínsula”, com a participação de Lucky Paul (baterista da Feist), é o mais simples registro do trabalho, com o violão como base e a mistura de sintetizadores marcando as viradas do som. As canções de maneira geral, relembram em breves momentos a poesia suja de Augusto dos Anjos e sua falta de pudor para usar o que na época era chamado de “linguajar esdrúxulo” na expressão cotidiana das letras.
Trabalhando com gente como Mark Howard (k.d. lang e Red Hot Chilli Peppers), e com as participações do já citado Lucky Paul, além de Eduardo Ramos (Schoolbell) e Ana Eliz Colomar (arranjos de cordas e cello), o trabalho ainda conta com um acabamento lindo do encarte com abertura de livro, e imagens em P&B que reforçam o conceito intimista do álbum. A vitrola pede esse disco.