Resenha: Sublime With Rome - Sirens

Em segundo disco de nova fase, Sublime With Rome peca com músicas, temas e letras superficiais, além de falta de unidade do álbum.

Resenha: Sublime With Rome - Sirens

O Sublime With Rome é uma banda que nasceu da vontade, longos anos depois, dos integrantes remanescentes do Sublime seguirem com a banda que havia encerrado as atividades após a morte prematura do talentoso vocalista, guitarrista e compositor Bradley Nowell.

Cheia de boas intenções, a dupla formada por Eric Wilson (baixista) e Bud Gaugh (baterista) encontrou em Rome Ramirez uma voz para liderar o grupo, e mais importante, uma voz que lembrava inclusive a de Brad Nowell.

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Em 2011 veio o primeiro disco, Yours, Truly, e apesar de uma amostra de que seguiria a linha clássica do Sublime com uma mistura precisa de punk rock, ska e reggae, como no single “Panic”, a banda agora acompanhada do “with Rome” em seu nome mostrava que dedicaria seu tempo muito mais a hits radiofônicos do que histórias contadas através de letras, ritmos e guitarras que marcaram a carreira e sucesso do Sublime.

Era um disco morno que teve certo sucesso comercial e pouco apelo a velhos e novos fãs, que começaram a enxergar de forma mais clara uma banda descolada do Sublime, o que foi reforçado pela saída posterior de Bud Gaugh, que deixou o trio e de original só ficou Eric Wilson no baixo.

Quatro anos depois o Sublime With Rome está de volta com um novo disco, Sirens, e a empreitada começa com uma faixa título baseada no reggae e no vocal de Rome, que ainda conta com a participação especial do Dirty Heads, grupo que acompanhou a banda por algumas turnês nos últimos anos.

Os primeiros segundos da canção podem até lembrar o ouvinte de outra abertura, com “Garden Grove”, do clássico álbum homônimo do Sublime, mas o vocal pop de Rome e o hip hop do Dirty Heads entram logo para nos lembrar que isso já passou há muito tempo.

“Wherever You Go” é a representação praticamente desenhada do que é o Sublime With Rome e do que nunca foi o Sublime: uma balada / reggae preparada para as rádios. Uma história de amor, ao invés das histórias sobre vandalismo e viagens regadas a drogas que a banda contava com precisão décadas atrás.

Em uma homenagem ao Brasil, onde tem tocado com bastante frequência, aparece a terceira faixa, “Brazilia”, chamada por Rome na letra de “segundo lar”. Com ar menos pop e mais sombrio, o reggae não empolga, assim como não o faz “House Party”, na sequência.

Não é como se esperássemos que as músicas fossem todas alegres, pra cima e com batidas rápidas. O problema é que as canções, mesmo quando arrastadas, normalmente nos traziam boas letras, o que está longe de acontecer aqui: “it’s a motherfuckin house party” é uma das linhas da canção que ainda fala sobre os clichês de uma festa adolescente e surpreendente pela profundidade das composições de Rome, semelhantes a uma poça d’água após longas horas de Sol.

“Been Losing Sleep” é outro reggae feito para as rádios enquanto “Promise Land Dub” é, como o nome diz, um dub. Mais acessível do que dubs experimentais complexos, mostra pelo menos a vontade da banda em experimentar com diferentes ritmos ligados à sua sonoridade.

Ao contrário disso, em “Best Of Me”, parece que o Sublime With Rome resolveu “cumprir a cota” de músicas com guitarras distorcidas, e a escreveu somente com esse propósito. Quando o Sublime misturava punk e ska, naturalmente e de forma praticamente perfeita, tudo era muito orgânico, e aqui tudo é forçado, inclusive os clichês das músicas mais pesadas.

“Put Down Your Weapon” pode ser chamada de “experimental”, tem diferentes camadas, efeitos, distorções, mas não diz muito a que veio com seus pouco mais de dois minutos, e antecede “Run And Hide”, punk anos 80 que irá lembrar (até demais) nomes como Suicidal Tendencies.

Na sequência, “Skankin” é um ska daqueles bons para dançar pulando e cantando. Ainda que seja uma boa canção totalmente ligada à cara da banda, reforça como o disco é espalhado, não está trabalhado como um todo e varia demais. A impressão é de que as faixas foram compostas e gravadas separadamente e inseridas no disco como uma coletânea.

Por fim, “Gasoline” é mais uma aposta pop de Rome que soa ora como grupos vocais dos anos 60 e 70, ora como uma banda de ska sem muito destaque.

No seu segundo disco, o Sublime With Rome conseguiu se diferenciar e se separar completamente do Sublime, que o originou, mas não por ter construído uma sonoridade própria ou lançado um grande trabalho, e sim por ter apostado em letras, temas e canções que jamais seriam abordados, ainda mais de forma tão rasa, por um dos grupos mais interessantes dos anos 90.

O novo disco do Sublime acaba quando você menos percebe, e a vontade de dar um play novamente é pequena, para ser generoso.

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