Imaginem uma banda de metal extremo que muda de uma só vez seus dois guitarristas. Em geral, as guitarras são boa parte da alma das composições extremas e, em uma banda como a Cradle Of Filth, elas não só têm a função de dar peso; também soam principalmente como os violinos e cellos em uma orquestra, dando o direcionamento melódico de cada música.
Esperar um álbum totalmente diferente do Cradle Of Fitlh seria bem natural. E eis que Hammer Of The Witches segue a tradição de composição e clima de uma das melhores bandas de metal. Poderia dizer inclusive que os novos integrantes (a tecladista também é uma nova integrante, participando nas vozes) souberam captar a atmosfera de álbuns ótimos como Cruelty and The Beast (1998) e Dusk… And Her Embrace (1996) em composições inspiradas.
Hammer Of The Witches é mais um álbum conceitual da banda, que já tem um trabalho duradouro nesse formato, iniciado no supracitado Cruelty and The Beast (1998). Com a sonoridade sinfônica do Cradle Of Filth, encarar o álbum como uma trilha sonora de uma história de terror é algo bastante natural. E esse álbum cumpre de forma magistral o seu propósito.
Com a temática voltada para o paganismo europeu do século XV, quando foi publicado o Malleus Maleficarum, ou o “Martelo Das Bruxas” (um manual que mostrava como identificar, julgar e punir bruxas, incluindo detalhes de como torturá-las, o que seria teoricamente o cumprimento da lei), o álbum conta o que seria a história de um Coven de bruxas que se vingam contra a humanidade que destrói a Deusa Mãe Terra e sua religião. Um álbum que deve cair no gosto de muitos seguidores da Bruxaria Moderna.
O álbum abre tradicionalmente com a instrumental “Walpurgis Eve”, fazendo alusão à celebração pagã de fim de inverno e entrada da primavera, festividade essa que foi, assim como vários símbolos pagãos, condenada a algo demoníaco pela igreja católica da idade média. A faixa já mostra o trabalho dedicado da nova tecladista/vocalista Lindsay Schoolcraft em um exemplo de bom gosto. A introdução desemboca em “Yours Immortally…” que empolga pelos ótimos riffs tocados com extrema competência pela nova dupla de guitarristas Richard Shaw e Ashok que realmente souberam absorver a tradição da banda.
O riff de abertura de “Enshrined In Crematoria” já é um clássico instantâneo. A performance de Dani Filth é certeira, sem exageros vocais (já cometidos em álbuns anteriores), permitindo que os instrumentais tenham seu destaque.
“Blackest Magick In Practice” é uma canção linda. Não há o que retocar. Ótimos riffs seguidos de orquestrações colocadas na medida certa. Theremins e pianos preenchendo melodicamente e dando o clima a cada momento, fazendo com que a música transpasse atmosferas ríspidas e melódicas com velocidade.
A introdução de “Right Wing Of The Garden Triptych” é provavelmente o momento mais baixo do álbum. Por um curto tempo, pequenos sons eletrônicos compõe ao lado de pianos de da voz da Tecladista/Vocalista algo que destoa completamente da atmosfera do álbum. Ao menos é algo rápido pois a música se torna uma das mais rápidas do disco, obviamente com suas posteriores quebras de andamento.
Realmente é um álbum que deve ser ouvido aos poucos, tamanha é a quantidade de informação, o que na verdade não é nenhum problema. Nele é possível encontrar o espírito do passado do Cradle Of Filth, o que já o torna acima da média.