Humor crítico e melodias alegres são as características que podem definir bem o trabalho do quarteto mineiro de Belo Horizonte Valsa Binária. A banda acaba de lançar seu segundo álbum de estúdio, 10, que saiu no final de Julho, e vem depois de quatro anos do álbum de estreia, que leva o nome do grupo no título.
Entre o primeiro e o segundo disco, eles lançaram ainda um EP. Formada em 2009, a banda é composta por Leo Moraes (guitarra e voz), Danilo Derick (guitarra e teclado), Salomão Terra (baixo) e Rodrigo Valente (bateria).
O novo disco está disponível para download gratuito no Site Oficial da banda, e também para audição online no Soundcloud.
Em entrevista com o vocalista do Valsa Binária, Leo Moraes, falamos sobre o novo disco, o primeiro clipe do álbum, para a música “Céu de Abril”, que sai em Outubro com exclusividade no TMDQA!, o cenário musical mineiro, e muito mais. Leia abaixo a íntegra:
TMDQA!: A banda acaba de lançar o segundo álbum, 10. Antes vieram um álbum de estreia e também um EP. Qual o conceito por trás desse novo trabalho e no que ele se difere do álbum de estreia e do EP já lançados?
Leo Moraes: Quando começamos a tocar juntos, nem havia o objetivo de gravar nada. Eu, Leo Moraes, o Rodrigo Valente, e o Alex Reuter vínhamos de outras bandas (eu dos Gardenais, Alex e Rodrigo do Carol Nas Nuvens) que passaram por processos estressantes de dissolução. Nos encontramos um dia em um barzinho e combinamos um encontro pra tocar sem pressões e pretensões. Queríamos mesmo era voltar a curtir fazer música.
Os encontros foram se tornando mais frequentes e num determinado momento achamos que valia a pena registrar aquele momento. Tanto o EP quanto o álbum Valsa Binária foram frutos desse registro. Algumas das músicas, inclusive, são canções que não tiveram espaço nos Gardenais. Acabou que o álbum teve uma repercussão legal, e durante o processo acabamos assumindo o projeto como uma banda mesmo. Já o atual disco, 10, é fruto de uma busca por uma identidade artística.
Com a saída do Alex e a entrada do Salomão Terra e do Danilo Derick a banda mudou bastante e levou algum tempo até que nos descobríssemos como grupo. O Valsa Binária é uma banda muito aberta, uma democracia plena mesmo. E com personalidades tão diferentes o desafio foi encontrar a região de interseção para ali trabalharmos. 10 é o resultado dessa busca pelas afinidades.
TMDQA!: O Valsa Binária está preparando o lançamento do primeiro videoclipe do disco, para a música “Céu de Abril”, que deve sair em outubro com exclusividade aqui no TMDQA!. Como está sendo esse processo e o que os fãs podem esperar desse trabalho?
No primeiro disco, fizemos os clipes nós mesmos. A proposta era low-fi, produções caseiras com um conceito forte e recursos limitados. “Afogamento” foi feito todo com um celular, “Dessa Água” e “Degradê” foram filmados com câmeras portáteis, tipo cybershot. “A Mais Bonita” foi inteiro com imagens de arquivo familiar do Rodrigo Valente. “Por Esse Lugar” foi um plano sequência em stop motion gravado durante um almoço na minha casa, e ganhou menção honrosa no Fest Clip 2012 em São Paulo. Para os clipes do novo álbum resolvermos dar um passo à frente na proposta.
Para esse primeiro clipe, o roteiro, criação, direção e fotografia são nossos, mas contamos com o pessoal da Twist FX para realizar a pós-produção. A ideia é manter o controle criativo nas mãos da banda, característica que acreditamos criar uma intimidade com o público, mas evoluir e atingir um resultado tecnicamente mais ousado e profissional. O clipe mistura imagens reais com animação e computação gráfica, o que pra gente é uma novidade.
TMDQA!: Antes do lançamento de 10, a banda passou por um hiato de quatro anos. Por que isso aconteceu e como vocês decidiram pelo retorno?
Com a saída do Alex, passamos por uma busca por novos integrantes. Várias pessoas passaram pela banda e demorou um tempo até que encontrássemos essa formação e sentíssemos que fazia sentido lançar um novo trabalho. Não chegamos a parar nesse período, continuamos fazendo shows, mas não produzimos novo material.
TMDQA!: Conta pra gente como foi o processo de composição e gravação do disco?
O processo é bastante aberto e fragmentado. Não temos um método de composição, cada música do álbum surgiu de uma forma diferente. Algumas chegam já bem encaminhadas por algum dos integrantes, como é o caso de “A Esquina”, trazida pelo Danilo, e “Nuno Nu”, trazida por mim. Outras partem de uma curta frase melódica ou poética e é desenvolvida no ensaio por todos, como “Receita” e “Desinventar”, por exemplo. Há ainda o caso de músicas que chegam praticamente prontas, mas que mudam radicalmente no processo, como foi com “O Palhaço”, que de rock passou a ser valsa, o que direcionou a própria temática da letra.
Enfim, cada música tem uma história diferente. Já a gravação, em ambos os álbuns, o processo foi longo, o que traz uma heterogeneidade na abordagem das músicas que são gravadas em épocas diferentes. O estado de espírito durante a produção muda e pra nós isso é muito perceptível. Outra coisa que vale ser mencionada é que evitamos trazer outros músicos para gravar. Tínhamos o intuito de nos afirmar enquanto banda, então tudo foi gravado por nós.
As exceções são a guitarra solo em “Céu de Abril”, mas que foi gravada pelo Leo Maldonado, que na época da gravação era integrante da banda, e o coro em “Quis”, que foi gravado pelo Rond Gaspar e pelo Ari Nóbrega.
TMDQA!: Na audição do álbum, percebemos letras com um tom sarcástico ao lado de melodias leves e mais calmas. Como a banda consegue unir esses dois lados em suas canções?
Isso é uma característica que se manteve desde o primeiro álbum. Acredito que isso se deva a nossas personalidades. Somos todos essencialmente alegres e brincalhões, mas ao mesmo tempo temos uma visão bastante crítica sobre muito do que se passa no mundo. Também temos nossos momentos de introspecção e reflexão. Como não temos um direcionamento pré-definido de temas e linguagem, todas essas camadas acabam transparecendo em um ou outro momento.
TMDQA!: Assim como algumas cidades brasileiras, Belo Horizonte tem mostrado um cenário musical contundente, sempre trazendo bandas interessantes para o cenário nacional. Os maiores exemplos que temos disso são o Pato Fu, Jota Quest, Tianastácia e mais recentemente o Pense. Como vocês avaliam a cena de BH e como vocês se veem dentro disso tudo?
Você cita alguns nomes da geração anterior, e o Pense, que é na novíssima safra. Com os Gardenais, fui contemporâneo do Tianastácia. Foi aquela geração que pegou a rabeira da era das gravadoras, onde o trabalho de um grupo musical tinha um foco muito bem definido. De lá pra cá passamos pela ressaca da revolução digital, e hoje vemos a consolidação de um novo modelo de gestão de carreiras artísticas.
O Pense representa isso muito bem. É uma geração que assume as rédeas da própria carreira de uma forma mais contundente que as anteriores, que dispunham e dependiam de estruturas bem maiores pra fazer isso. Dessa nova safra posso citar Lupe de Lupe, A Fase Rosa, Nobat, Todos Os Caetanos Do Mundo, Aldan, Zombizarro, entre tantos outros. É uma turma que toca pelo Brasil inteiro, cada um usando as ferramentas que conhece pra conseguir fazer sua música chegar a seu público.
Não há um caminho que sirva para todos, mas há uma infinidade de caminhos. Esteticamente isso torna essa geração mais livre que a anterior, pois não há pressões por seguir determinados padrões considerados radiofônicos, ou comerciais. O Valsa Binária é um caso interessante, pois pela diferença de idade entre os integrantes, há a visão de quem viveu aquele antigo modelo, e a de quem já entrou na música nessa atual realidade. Pessoalmente não me lembro de ter visto um momento tão prolífico na música, tanto em qualidade, quanto em quantidade e diversidade.
TMDQA: Por onde a banda vai passar com a turnê nesse segundo semestre? Quando o público paulista poderá assistir a um show de vocês?
No final de setembro estaremos no sul, e logo em seguida pretendemos ir a São Paulo. Ainda não há datas fechadas, mas a expectativa é de estarmos em São Paulo no início de outubro.
TMDQA!: E, pra encerrar, a pergunta que não pode faltar. Sempre queremos saber a relação dos artistas com os discos, então nos digam: o Valsa Binária também tem mais discos que amigos?
(Risos) Olha, são tantos discos e tantos amigos que não consigo nem contar.