A banda Mustache e os Apaches faz tempo abandonou as calçadas da Avenida Paulista, região central de São Paulo, para tocar nos bares e casas de show de todo o país e até de fora dele. A simplicidade do grupo de indie-folk porém, não ficou jogada nas calçadas em que o washboard de Lumineiro e o contrabaixo de Tomas começaram a chamar a atenção entre os outros músicos que formam o quinteto: Time Is Monkey, segundo disco da banda, mostra que as misturas simples e certeiras daquele tempo em que “Twang” fez as meninas rebolarem ainda está com tudo.
Na abertura do trabalho, a faixa título é um recado direto à pressa e à imperfeição: o tempo que nos faz correr feito macacos para conquistar o suado dinheirinho do fim do mês ainda não faz menção de parar e, enquanto isso, o que é que estamos fazendo com ele?
As dançantes “Eco”; que poderia ter sido uma sobra do primeiro trabalho, não fosse a previsão temporal que faz do personagem que conversa com seu “próprio eu”, ao mesmo individualista, arrogante e solitário; “Touro Pelos Chifes”, que conta a história de uma mulher corajosa, dominadora e que sabe o que quer, sem receios ou dúvidas e “Mambo Jambo”, a mais caribenha, misturando referências nordestinas aos ritmos dos “hermanos”; mostram a versatilidade do grupo quanto o assunto é criar músicas para dançar.
Ao mesmo tempo, a psicodélica “Sono” remete à Mutantes, com sua harmonia que poderia praticamente ser batizada como uma versão 2.0 de “Meu Refrigerador Não Funciona”, tão gritada por Axel como por Arnaldo Baptista, a dura “Albatroz”, continuidade de “Time Is Monkey” na pauta da correria sem freio e do caos do dia a dia das grandes metrópoles, condicionando os humanos a serem apenas vítimas de suas próprias agendas e a ácida “Figurantes do Showbiz”, que traduz a luta pelo sucesso à “qualquer custo”, tão assistida quanto perseguida por tantos, traduzem a versatilidade do grupo ao questionar pautas tão presentes quanto necessárias na correria caótica dos nossos dias.
Outro destaque do disco macaquístico é o primeiro single, que ganhou um clipe gravado no centro velho de São Paulo. “Orangotango” tem refrão pegajoso, batidas pontuais e volta a nos comparar com macacos. O simbolismo do disco machuca, assim como toda verdade bem dita.
As faixas mais românticas, para dançar à dois, são “Quantos em Mil”, que conta histórias de vidas que ainda não se encontraram, mas fala de possibilidades, “Surra de Mar” que compara a velocidade das ondas aos efeitos avassaladores das grandes paixões, e “Ah, Vida Errante”, que fecha o disco entregando boas metáforas, foram feitas para dançar, mas longe da pista. Esta última, mais intimista, peca apenas por quebrar o ritmo crescente do disco em sua melancolia tão visceral quanto certeira.
O disco inteiro é pautado no tempo, nas relações entre presente, passado e futuro e no questionamento a respeito do que é que de bom vamos levar destes pequenos espaços de tempo puderam construir. É um disco para se ouvir com calma, várias vezes, e fazer com que as letras façam parte de você aos poucos. E mostra um novo caminho para os Mustaches: depois de dominar o mundo das ruas, é hora de dominar outros mundos.