Resenha: Iron Maiden - The Book Of Souls

Gigante do Heavy Metal volta com um dos mais consistentes discos de sua carreira. Leia resenha para o novo álbum do Iron Maiden.

Iron Maiden é uma unanimidade da música. Dificilmente você vai encontrar alguém que dirá que não gosta ao menos de um dos álbuns em sua extensa discografia.

A banda, que lançou o primeiro disco em 1980, definiu seu estilo e o destilou com maestria, como pode ser notado nos álbuns lançados com Bruce Dickinson antes de sua saída, se tornando um ícone de sua própria forma de composição, e começou a repetir sua fórmula álbum após álbum. Ótimas músicas foram compostas, mas sempre algo que obedecia a tradição da donzela de ferro.

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A saída de Bruce Dickinson após o mega sucesso de Fear Of The Dark (1992) balançou os alicerces da banda, que retornou em 1995 com o ótimo The X Factor, já com o criticado Blaze Bayley nos vocais. Em 2000 a banda se uniu novamente a Dickinson e também a Adrian Smith, que havia deixado a banda em 1990, ficando assim com três guitarristas.

Após o ótimo álbum Brave New World de 2000, a banda se enveredou por caminhos pouco óbvios, deixando de lado um pouco da tradição que a consagrou, e em 2015 retorna com uma força descomunal em seu novo The Book Of Souls.

Para que o ouvinte possa entender aonde ele vai entrar assim que apertar o play, deixe-me explicar: o livro das almas não é meramente um álbum de uma das melhores bandas vivas do mundo, é realmente uma aventura, uma história em que você vai se perder.

Com canções de duração longa como por exemplo “The Red And The Black”, a sonoridade da banda flerta muito com o seu passado, porém, de uma forma completamente diferente, adicionando influências de rock progressivo sem perder o punch e a veia orgânica de suas composições. Em sua hora e meia de duração, a banda emociona qualquer ouvinte antigo e com certeza impressiona novos e desavisados fãs.

O álbum se inicia com sintetizadores comuns a um álbum de rock progressivo da década de 60/70. Os vocais de Bruce soam tão potentes quanto em The Number Of The Beast (1982), onde fez sua estreia com a banda. E a música evolui até explodir na tão clássica “cavalgada” à antiga moda Iron Maiden. Eis aqui uma canção que nos traz para dentro do universo do disco, o primeiro passo dessa caminhada do livro das almas.

Em seguida ouvimos o primeiro single liberado pela banda. “Speed Of Light” traz uma levada mais rápida, que lembra bons momentos pesados de sua carreira. O grito de abertura da música nos transporta para o Seventh Son (1988) e é de arrepiar os cabelos de ouvir, tantos anos depois, a capacidade vocal de Dickinson inalterada. É interessante dizer que essa música não ilustra o álbum (que é muito melhor do que a expectativa gerada por ela). Apesar de ter riffs interessantes e solos maravilhosos, o refrão se torna maçante exatamente por um exagero do próprio Dickinson.

“The Great Unknown” se inicia com um dedilhado que nos transporta para 1995, lembrando as linhas melódicas de The X Factor, álbum esse que realmente volta à mente em muitos momentos de The Book Of Souls. Como por exemplo na introdução com violões e baixo acústico de “The Red And The Black”.

A música mostra o Iron Maiden com força e crueza em riffs e fraseados que ficarão na mente por muito tempo até desembocar no arrepiante refrão vocalizado de “ÔôÔ”s. Ela é empolgante em cada um dos seus treze minutos e meio.

“When The River Runs Deep” abre com uma introdução de guitarra que grita alto na mente: Somewhere In Time (1986)! A sonoridade de algumas guitarras aqui lembram as sintetizadas utilizadas no álbum da década de 1980. Algo sutilmente nostálgico em uma canção memorável. Se o álbum terminasse aqui eu já estaria sorrindo de orelha a orelha.

“The Book Of Souls” abre com um violão incomum para o Iron Maiden. A introdução desacelera um pouco o coração de quem está vindo da correria de “When The River Runs Deep”. Em seguida um riff tocado sobre um andamento mais arrastado se inicia seguido por linhas de teclado que nos remetem ao maravilhoso Powerslave (1984). A performance vocal de Dickinson no refrão dessa música é emocionante, algo que deve ser realmente impressionante de se ver ao vivo. A música segue arrastada e tensa até pouco mais da metade onde mais uma vez nos deparamos com as “cavalgadas” do Iron Maiden, quando ela então passa a duelar partes de solos dobrados e vocais em uma viagem sem igual.

“Death Or Glory” é mais um hino desse álbum (que realmente me faz querer saber o porquê de “Speed Of Light” ter sido escolhida como single). Uma música cheia de punch com um refrão realmente contagiante e melódico.

“Shadows Of The Valley” parece a reencarnação de “Wasted Years” (do álbum Somewhere In Time) em sua introdução. Um riff realmente muito similar, tocado a uma velocidade mais baixa. A música evolui para uma levada de tempo médio, com muita presença de teclados segurando as bases, o que deixa o clima mais tenso. Novamente um refrão muito melódico e bonito seguido de fraseados de guitarra que culminam em um solo que lembra as guitarras sintetizadas do disco citado acima.

Em “Tears Of A Clown” o riff de introdução lembra um pouco mais o trabalho solo de Bruce do que o Iron Maiden propriamente dito. As linhas de baixo de Steve Harris se encarregam de dar a tonalidade certa à música, trazendo-a para o universo do Iron. No entanto, o refrão também nos remete a discos como Accident Of Birth (1997) e The Chemical Wedding (1998) de Dickinson.

“The Man Of Sorrows”, a penúltima canção dessa aventura nos prepara para a viagem final de “Empire Of Clouds” com os seus quase vinte minutos de duração. “The Man Of Sorrows” é uma das músicas mais climáticas e progressivas do álbum. Com mudanças de andamento e tonalidade, foge da tradição do Iron Maiden e mostra uma capacidade de composição diferenciada, bem dosada, que resulta em uma qualidade elevada.

E finalmente, a gigantesca “Empire Of The Clouds”. A música se inicia com linhas de piano seguidas por Harris com o seu baixo. Violinos e cellos compõem o instrumental de abertura que nunca seria categorizado como algo do Iron Maiden se fosse ouvido de forma isolada. O clima é realmente de muita harmonia e beleza. Os instrumentos vão entrando aos poucos, cada um em seu lugar até chegar a vez da voz. Aos sete minutos a música parece iniciar uma nova parte, elementos de rock progressivo e prog metal aparecem, tudo bem dosado e no lugar, nenhum exagero.

A banda soa coesa, lapidada ao extremo e ao mesmo tempo, orgânica. A viagem instrumental parece um mantra de guitarras até explodir em um solo inspirado. Mudanças de andamento seguidas de orquestra mostram que o Iron realmente estava planejando um final magistral para essa obra. A música termina suave, como um adeus ao fim de uma grande aventura. E tudo o que nos resta é apenas colocar “If Eternity Should Fail” novamente pra tocar.

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