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Resenha: The Darkness - "Last of Our Kind"

Trabalho com pinta de autoafirmação mostra que o grupo está em melhor forma do que nos últimos anos.

Resenha: The Darkness - Last of Our Kind

Escutar o novo disco dos caras do The Darkness é equivalente a experimentar a viagem no tempo. Quando surgiu em 2000 e estourou em 2003, o grupo britânico fez questão de mostrar que era uma tradicional banda de heavy metal farofa (ou glam, se preferir), ao estilo oitentista. Foi assim até 2006 e se sucedeu da mesma forma com a reunião em 2011, que rendeu os álbuns Hot Cakes (2012) e Last of Our Kind (lançado no finalzinho de Maio).

Como o nome indica, Last of Our Kind é um registro de autoafirmação, que começa invocando a herança viking que se ajusta perfeitamente aos headbangers antigos. Não fosse a postura debochada do The Darkness e a atmosfera cômica que a banda insiste em carregar, a faixa de abertura (“Barbarian”) seria levada mais a sério por conta do riff pesado, da letra carniceira e dos agudos famosos do vocalista Justin Hawkins. Na sequência, a exaltação do hard rock clássico e das trevas permeiam a excelente “Open Fire”, que parece ter sido retirada da trilha sonora de algum filme de ação de décadas atrás, estilo Top Gun, Dias de Trovão ou Caçadores de Emoção.

O endeusamento próprio fica evidente na música que dá nome ao trabalho. Pode até parecer excesso de presunção o fato de os membros do grupo se considerarem os “defensores do legado”, mas desde os tempos de Antigo Testamento existiam profetas que se julgavam os últimos de seu tipo. Esse tema também é a principal característica de “Conquerors” (última faixa), que se sobressai a “Last of Our Kind” por causa do sentimentalismo e do clima leve de uma boa e velha balada metaleira.

Roaring Waters” e “Mudslide”, que carregam riffs a laWalk This Way”, não apresentam a safadeza que suas guitarras prenunciam, preferindo falar sobre temas catastróficos, deixando a responsabilidade de baixar o ritmo para as músicas românticas. “Wheels of The Machine” e “Sarah O’Sarah” desempenham o papel, sendo a tal Sarah objeto de afeto das duas canções.

Além da já citada faixa número dois, os maiores destaques do registro ficam com “Migthy Wings” e “Hammer & Tongs”. Na primeira, o teclado simples abre a narrativa épica inspirada na mitologia grega e é aqui que a voz Justin Hawkins alcança as notas mais altas, capazes até de derramar lágrimas e quebrar copos (créditos devidos para a produção de Dan Hawkins, que fez questão de deixar seu irmão bem à vontade). Já a outra é digna de nota e indispensável devido à atmosfera blueseira e divertida. O encerramento, também mencionado acima, merece igual atenção.

É bem provável que se fosse lançado na época de ouro do heavy metal farofeiro, Last of Our Kind seria apenas um álbum bacana, perdido no meio de tantos outros. Com bons refrães e músicas nada chatas ou enroladas, o trabalho é tão consistente e coeso quanto Permission to Land. Um retorno digno depois do mediano e mal criticado Hot Cakes (o que prova que pausas são saudáveis para que as bandas retornem com força maior). No caso do The Darkness, um belo acréscimo para a sua discografia. Tomara que não seja o último da espécie.