Já se perguntou como é escolhida a ordem de aparição das bandas no pôster de um festival? Ou se a divisão de palcos, horários e dias influencia no lugar em que sua banda favorita será destacada no cartaz?
O site Consequence Of Sound entrevistou os organizadores de quatro grandes festivais norte-americanos, FYF Fest (Los Angeles, California), Fun Fun Fun Fest (Austin, Texas), Hopscotch Music Festival (Raleigh, Carolina do Norte) e Free Press Summer Fest (Houston, Texas), que responderam a várias perguntas, desde a escolha do layout até a confusão que se forma quando uma banda é colocada mais abaixo do ponto esperado.
Confira a seguir os inúmeros estágios para a montagem daquele pôster que a gente sempre fica ansioso pra ver.
Quem toma as decisões?
Se você imaginou uma grande mesa com dezenas de executivos dando dezenas de palpites, tire essa ideia da sua cabeça. Na verdade, o grupo que toma as decisões sobre o lineup é bem pequeno, e Greg Lowenhagen (Hopscotch) explica: “Não temos mais ninguém [além do pequeno grupo] trabalhando no lineup, e mesmo se o fizéssemos, seriam muitas pessoas tentando dar pitaco em um processo que deve ser o mais simples possível.”
Bandas em turnê VS. bandas locais
Dependendo da banda e da cena musical do local, isso muitas vezes não é um problema. É completamente possível que um grupo esteja estourando apenas na cidade do festival e seja alocado entre as bandas mais populares, que vêm de fora. Na primeira edição do Hopscotch Music Festival, havia bandas locais dentre as seis principais atrações do evento e, se uma banda local estiver muito em alta, ela será colocada acima das bandas internacionais.
Qual é a relação com os horários dos shows?
Cada festival tem sua forma de organizar o lineup no cartaz. Para o Fun Fun Fun Fest, que tem todos os 3 dias de evento agrupados em um único pôster, o horário dos shows não importa muito, e a única regra é deixar os headliners no topo e em destaque. Já o Hopscotch, que conta com diversos palcos, leva em consideração a agenda de cada dia ao montar a ordem das bandas na arte.
Naturalmente, é esperado que as bandas principais toquem nos últimos horários e fechem o festival, porém os organizadores do FYF Fest fazem diferente. “Existem bandas que estão bem alto no cartaz, mas tocam em horários iniciais”, explica Carlson, responsável pelo evento. “O cronograma se baseia na vibe e no que se encaixa melhor. Não se trata de tocar por último ou mais tarde, mas sim no horário que fizer sentido para o artista.”
O layout influencia na ordem das bandas?
Além de todos os fatores como popularidade, hits e gênero musical, o layout e a métrica do cartaz podem definir a ordem também. Para os designers do FPSF, a quantidade de letras que tem o nome de uma banda pode influenciar mais do que as estatísticas, por exemplo. Para o FYF, as estatísticas favoráveis à banda ainda contam mais do que a métrica. É o famoso “Bota na ordem aí que a gente dá um jeito de encaixar”.
Lowenhagen, do Hopscotch, revelou que usa a relevância das bandas menores nas redes sociais para decidir quem vai ficar na frente de quem, mas que a regra não se aplica aos maiores atos, com sucesso comercial mais explícito. Graham Willians, do Fun Fun Fun, explica:
Quando o Neutral Milk Hotel foi headliner do festival em 2014, eles haviam acabado de esgotar com antecedência duas noites em uma casa de shows para 5,000 pessoas. E eles tinham, sei lá, 40,000 seguidores no Facebook. Eles provavelmente montaram uma página na correria devido à reunião da banda, contra outras bandas que têm 400.000 seguidores e vendem metade dos ingressos deles. E olhe lá!
O conflito de egos…
A métrica e as cores dos cartazes parecem fichinha perto deste detalhe. Nos bastidores dos festivais, rolam os maiores estresses por conta do manejamento de horários, divisão de palcos e localização nos pôsteres, tudo porque as bandas querem sempre estar mais acima. Williams (FFFFest), descreve essa dor de cabeça da maneira mais franca possível.
Eu aposto que todo promotor de festival odeia essa merda. Há a pressão constante de ouvir coisas como ‘nós somos maiores do que tal banda, nós esgotamos tal show, temos mais seguidores nas mídias sociais.’ Muitas vezes, você vai ter uma série de bandas que são semelhantes em popularidade e gênero, e é realmente difícil de decidir quem vai ficar na frente. Eu compreendo porque alguns festivais colocam tudo em ordem alfabética.
Às vezes, quando o assessor de uma banda insiste muito, os promotores cedem e tentam amenizar a situação. Mas há também quem não abre mão da ordem já definida, e aí é aceitar ou abandonar o barco. “Algumas bandas não estão nem aí para seu lugar no lineup, outras estão. Eu entendo os dois lados,” diz Lowenhagen.
E os fãs?
É para eles, ou melhor, para a gente que tudo isso é pensado com tanto cuidado. Os promotores levam em consideração cada tweet furioso de um fã descontente, mas também sabem muito bem o que estão fazendo. “Eu vejo pessoas gritando por uma banda ter ficado acima da outra”, Carlson (FYF) disse. “Eu respeito isso, porque mostra que os fãs se importam. Eu gosto dos fãs que questionam as escolhas, mas eu acho que a decisão que eu tomo faz mais sentido.”
São o lineup e um cartaz bem planejado que irão vender o peixe do festival e ajudar o fã a decidir se vai e em qual(is) dia(s) vai. Em um época saturada com festivais mundo afora, cada detalhe da divulgação é extremamente importante, e é por isso que a ideia de colocar as bandas em ordem alfabética pode não ser tão boa assim. Sobre isso, Williams disse:
Se você está pagando pelos maiores grupos, é porque eles vendem mais bilhetes do que outros, então porque você colocaria o Yeah Yeah Yeahs no final da sua programação pelo nomes deles começar com Y, mas alocar um ato menor por seu nome começar com A? As pessoas geralmente batem o olho no lineup, e é por esse motivo que você deve dar destaque às maiores bandas, para que seja a primeira coisa que os fãs veem no cartaz.
Muitas vezes, os lineups podem não fazer sentido, e bandas maiores podem estar em palcos menores, ou vice-versa. O que temos de lembrar, entretanto, é que cada detalhe dos festivais são meticulosamente pensados, e com certeza há um bom motivo por trás daquilo, seja popularidade, contrato ou gênero musical.
Temos certeza que a partir de agora você vai olhar para os cartazes dos festivais com muito mais atenção, e questionar ainda mais cada escolha feito pelos organizadores. Não é?