Ontem a Vice disponibilizou na íntegra a primeira entrevista da banda Eagles Of Death Metal a respeito dos terríveis ataques terroristas que mataram 89 pessoas em show da banda que acontecia na casa Le Bataclan, em Paris.
No mesmo dia, a Noisey, canal de música dentro da Vice, disponibilizou também uma entrevista com Rodrigue Mercier, fã da banda que estava no show e conseguiu escapar do local, e ele falou sobre os momentos na casa de show, reação depois dos ataques e mais.
Separamos alguns trechos traduzidos logo abaixo.
Eu comprei meu ingresso de última hora: às 6 da tarde na Sexta-feira pelo evento do show no Facebook, de uma menina que estava vendendo o seu ingresso. Eu deveria ir com alguns amigos, mas acabei indo sozinho. Durante a banda de abertura eu fui ao bar ao lado para alguns drinks. Algo estranho aconteceu – só um detalhe, mas me chamou a atenção – durante uma hora antes eu ouvi várias vezes uma música do primeiro disco do Soulsaver, “Longest Day”. A letra diz, “Essa deve ser a porta certa / não tenho para onde correr / quero correr / é melhor eu correr agora / correr / o mais longe possível.”
Então eu fui ao Bataclan apenas alguns minutos antes do EODM começar seu show. Tudo estava bem, eu estava na grade, muito feliz. Em determinado ponto do show eles tocaram uma música do disco novo que eu não gostava muito então fui pegar mais um drink. Do outro lado do bar eu vi alguns amigos conversando. Preferi não interromper, e pensei que os veria novamente durante a noite de qualquer maneira. Aí a banda tocou outra música que eu não gosto muito, então fiquei na parte de trás da casa, perto da mesa de som.
Aí eles iam tocar “Kiss The Devil”, uma das minhas músicas favoritas, então corri para a frente. Um momento depois, ouvi um… barulho. Eu não sabia exatamente o que era, e com uma abordagem profissional [ele é engenheiro de som] pensei em um defeito no equipamento do palco. Barulhos bem curtos e de explosão. Meu primeiro pensamento foi olhar para a mesa de som e pensar, “Que merda é essa, caras?” Mas eu também estava me sentindo mal pelo engenheiro porque é um saco quando isso acontece.
De repente a banda para de tocar. E o barulho continuou. O que eu senti então, e jamais esquecerei, foi o silêncio absoluto da casa de shows. Eu não sei se foi apenas a minha percepção ou se realmente aconteceu assim, mas o silêncio foi assustador. Ninguém gritava, ninguém disse uma palavra. Não havia um som sequer, exceto os tiros. Achei que eram fogos de artifício, sabe.
Olhei para trás novamente tentando entender o que acontecia, mas o local ainda estava escuro. Aí de repente todas as luzes foram ligadas. Eu virei e vi um monte de gente no chão no pit. Eu ainda estava de pé e, por reflexo, me “enrolei” – eu não conseguia deitar, pela falta de espaço. Imediatamente eu percebi que alguém estava atirando com uma arma. Ainda fazia silêncio. Mas eu comecei a ouvir o barulho dos impactos das balas. Eles estavam matando pessoas. Aleatoriamente, estavam mirando em qualquer pessoa.
Literalmente eles estavam dando muitos tiros no pit inteiro. O cara do meu lado foi atingido. Eu não o conhecia, mas passamos a maior parte do show juntos. Em certo momento, ele acendeu um cigarro lá dentro, o que me deu uma vontade enorme de fumar também, então acabei acendendo um cigarro. Ali eu estava, estático, ainda entendendo que aquilo não ia parar, achando que eu deveria fazer algo se quisesse permanecer vivo. Olhei para cima e vi a luz da saída de emergência, logo do meu lado, a uns sete ou oito metros de distância. Era a única saída.
E como você chegou à porta?
Todos estavam no chão, mas eu não sabia se eles estavam rastejando para a saída ou já estavam mortos. Havia muito sangue, era impossível saber. Como eu não queria empurrar ninguém e as pessoas estavam caindo no chão, eu literalmente pulei pela porta para passar por cima das pessoas. Perdi meus óculos e caí fora do Bataclan, no beco Amelot.
O fã da banda ainda diz que entrou com gente ferida em um restaurante próximo e as pessoas demoravam para entender a gravidade da situação. O gerente deixou que eles ficassem por lá, mas achou que se tratava de uma briga ou algo do tipo, e o movimento do restaurante continuou o mesmo, com cozinheiros recebendo pedidos e garçons atendendo normalmente.
À medida que as informações foram chegando, as pessoas faziam perguntas “estúpidas” como “mas foi um ataque mesmo? com armas de verdade?”
Você pode ler a entrevista na íntegra clicando aqui.