Resenha: Cage The Elephant - Tell Me I'm Pretty

Em seu novo disco de estúdio, Cage The Elephant traz grandes canções mas peca ao emular sonoridade das bandas do produtor do álbum, Dan Auerbach.

Cage The Elephant - Tell Me I'm Pretty

Quando surgiu em 2006, a banda americana Cage The Elephant abriu um sorriso no rosto dos fãs do rock alternativo que são chegados na mistura do gênero com outros como o garage rock.

Com shows explosivos a banda, que chegou a ser comparada com nomes como Iggy Pop e os Stooges, foi ganhando cada vez mais fãs e apostava em músicas rápidas que serviam como uma bela trilha sonora para as peripécias do vocalista Matt Shultz no palco.

No disco de estreia, homônimo, o punk, o rock alternativo e o garage rock aparecem em uma mistura que seria aperfeiçoada em Thank You, Happy Birthday (2011) com a adição de grandes refrães e melodias que tornavam o som da banda cada vez mais acessível.

O terceiro disco veio na forma de Melophobia em 2013 e o “medo da música” retratado no título foi refletido no medo de soar tanto como seus lançamentos anteriores quanto suas influências, então a banda direcionou a sua sonoridade para algo que se aproximou do rock psicodélico.

Tell Me I’m Pretty é o quarto disco de estúdio da prolífica banda que não para de excursionar e gravar novos álbuns e antes de qualquer opinião a respeito é importante ressaltar um aspecto chave do álbum: seu produtor.

Dan Auerbach foi o escolhido para se sentar na cadeira do chefe de estúdio e o cara, que já ganhou até Grammy como produtor, levou toda sua experiência para a jovem banda, só que foi um pouco além.

O músico, conhecido como guitarrista e vocalista do Black Keys, não apenas guiou a banda durante as gravações e foi destacado por Shultz como “um cara que fez a gente se desafiar cada vez mais”, como também despencou uma série de “influências” no álbum na forma de pedais de guitarra, efeitos nas vozes e ao que tudo indica, até mesmo riffs.

A faixa de abertura do álbum, “Cry Baby”, continua de onde Melophobia parou e tem até um quê da fase psicodélica dos Beatles, mas já evidencia vocais a la Auerbach antes de “Mess Around”.

A segunda faixa, uma das primeiras a serem liberadas antes do disco, chegou a receber críticas dos fãs e da imprensa por soar demais como o The Black Keys, e é justamente o caso. Se alguém tocasse essa música e lhe dissesse que o som é da dupla de blues/rock, você acreditaria.

A canção não é ruim, e isso é uma constante no álbum, são bons sons, mas em muitos momentos a identidade da banda acaba perdida por uma influência externa que pode ser ouvida também em “Sweetie Little Jean”, ainda que em doses menores.

“Too Late To Say Goodbye” embarca em uma interessante viagem sombria por uma narrativa hipnotizante cantada por Shultz que culmina em um refrão, esse sim, com a cara do que o Cage The Elephant já fez em outros momentos da carreira.

“Cold Cold Cold” volta a flertar com o rock and roll dos anos 60 e 70 antes de embarcar em vocais cheios de efeito que fazem mais uma vez referência ao produtor do disco, mas tem vida por si só, antes de chegar ao ponto alto do disco.

A sexta canção de Tell Me I’m Pretty, “Trouble”, é confessional, honesta, belíssima e mostra o que o Cage sabe fazer de melhor. Shultz utiliza sua voz para narrar uma história que tem belos riffs como panos de fundo e chega a um refrão que definitivamente irá render momentos emocionantes nos shows da banda. Se ao vivo o grupo é conhecido por sua energia, aqui mostrou que também pode fazer momentos intimistas tão bem quanto.

Outro momento semelhante, mas sem a mesma inspiração, se segue em “How Are You True” e “That’s Right” chega para aumentar a velocidade das coisas novamente com divertidas guitarras em verso e refrão.

Chegando ao fim do álbum temos mais um momento “Black Keys” na forma de “Punchin’ Bag” e esse é dos mais fortes. Os vocais dobrados e a forma como Matt canta a canção têm a cara e o jeito de andar de Dan Auerbach e o refrão não ajuda em muita coisa.

Para encerrar o álbum de vez a banda resolveu voltar às suas origens na forma de “Portuguese Knife Fight” e finalmente um sopro do que tornou a banda uma das mais quentes do mundo há alguns anos. Os vocais se livram das amarras do disco todo, ganham tons mais rasgados e estão muito mais próximos de Iggy Pop do que de Auerbach. A guitarra suja também ajuda no processo e o álbum chega ao fim com uma música como, muito provavelmente, fãs da primeira fase da banda gostariam.

Tell Me I’m Pretty é um bom disco. Não é um disco espetacular, mas tem bons momentos, grandes canções e foi gravado por uma banda que sabe o que faz. O pesar fica pelas várias passagens em que a influência do produtor foi exagerada e acabou refletindo, demais, na sonoridade. Ainda assim é interessante perceber que o grupo experimenta com novos elementos a cada disco que grava.