Resenha: Baroness - Purple

Com "Purple" o Baroness te faz sentir como se você pudesse derrubar paredes e nada fosse capaz de te parar. Leia nossa resenha sobre o novo disco da banda.

Resenha: Baroness - Purple

A primeira sensação quando Purple começa a tocar é a de força, uma espécie de poder que a música da banda transfere para o ouvinte. Ouvindo Purple você novamente sente que pode derrubar paredes, nada pode te parar.

Não que a intenção da banda seja passar alguma mensagem depois de seu terrível acidente de ônibus em 2012. A sonoridade da Baroness sempre foi algo forte, transbordante. Mas há um sentimento diferente aqui. Cada riff parece ter sido esculpido à mão na rocha bruta. A experiência de quase morte fez metade da banda abandonar o trabalho. Os outros 50% (John Baizley e Peter Adams) precisaram de tempo pra se reerguerem com um novo baixista e um novo baterista. Obviamente, toda a questão relacionada ao trabalho com música deve lhes ter passado pela mente.  Assim, Purple é, além de tudo, uma resposta positiva a um problema difícil, a volta por cima, o “envergar e não quebrar”. Só isso já torna este um álbum essencial para qualquer um que procura pela boa música. Mas o disco é muito mais.

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A banda começou a sua história na sujeira sludge, mesclando faixas longas com a complexidade do prog metal que soava como feito por neandertais. Com o tempo chegaram ao refinamento do Blue Record de 2009, com instrumentais extremamente característicos e vocais sujos. Inclusive, muitos torciam o nariz para a banda por conta dos vocais.

No Yellow & Green (2012) uma base forte de fãs foi conquistada. Desaceleraram as músicas, diminuíram o peso e os vocais passaram a ser mais melódicos do que agressivos. Fãs mais antigos, no entanto, categorizaram o álbum como o pior da carreira.

Purple é o equilíbrio encontrado depois de tudo o que a banda passou. Talvez esse seja o melhor álbum da carreira da Baroness e isso fica evidente já na primeira audição. Os vocais ganharam uma parte da agressividade que perderam, mas permanecem melódicos. A genialidade da construção das melodias de músicas como “Chlorine & Wine” e “Try to Disappear” mostra que Baizley e Adams estão compondo como nunca e que os novos músicos se enquadraram bem ao formato da banda.

“Morningstar” abre o disco nos transportando para o universo do Red Album (2007) ou ainda da era dos EPs “First & Second” (2004-2005), quando os álbuns ainda não tinham nomes de cores. Toda a complexidade das guitarras estão aqui aliadas perfeitamente a uma incrível pressão sonora. Imperdível.

“Shock Me” é um hit instantâneo. Não há como negar que sua construção deve-se a uma evolução do entendimento do processo de composição da banda. A música mescla riffs que poderiam estar no Yellow & Green com linhas de voz mais explosivas e traz ainda um refrão maravilhosamente “colante”.

A já citada “Try to Disappear” é uma balada pesada. Uma letra cheia de emoção guia melodias comoventes que explodem em um instrumental desenhado em todos os detalhes. Cada convenção de bateria/baixo/guitarra parece entrar na hora certa. “Kerosene” vem com certeza do passado. O único fator que a torna atual na carreira da banda é o peso controlado (e não destruidor dos primeiros álbuns). E isso fica perceptível no interlúdio de violão/guitarra da música, abusando de construções melódicas complexas.

“Fugue” soa post rock, como um Hammock com um pouco mais de pressa que se mescla a guitarras de funk tocadas em uma velocidade muito menor. O dueto de guitarras é simples, melódico e dá o recado. Estamos agora entrando na segunda metade do álbum. O Lado B.

“Chlorine & Wine” foi inteligentemente lançada como um dos singles. Uma entrada climática com uma sequência de acordes hipnotizante nos faz entrar na música até que um fraseado de guitarra limpa e cristalina te saúda. Vozes roucas em uma interpretação extremamente sentimental fazem a música subir mais um degrau em direção às camadas de guitarra, que se adicionam até o solo em dueto cheio de fuzz. Aqui, em uma música, toda a carreira da banda é contada. Sublime.

“The Iron Bell” traz a introdução com aquela bateria gravada com um microfone colocado na sala ao lado. Um som orgânico e natural que tem muito a ver com o formato de gravação da Baroness. Nada de triggers, a banda soa orgânica e autêntica. A gravação traz inúmeras arestas a serem aparadas, assim como um disco de rock de verdade deve soar.

“Desperation Burns” mostra Sebastian Thomson como um baterista que trouxe mais elementos à banda. Ouça essa música por inteiro. Agora volte e ouça prestando a atenção na bateria.

“If I Have To Wake Up” é a última música do álbum (antes da despedida com a faixa “Crossroads Of Infinity” que é apenas voz distorcida). Mais uma vez destaco o baterista Thomson que com sua criatividade atribuiu a essa balada sentimental uma levada incomum que casou lindamente. Aqui a banda se despede sendo um novo grupo. Como se o neandertal citado lá em cima nesse texto estivesse aprendendo a ver o mundo de uma forma diferente. Aqui a rispidez do velho som se mistura ao macio do novo, na medida certa. Aqui a banda prova que veio para ficar, que veio para cumprir a sina de ser grande.

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