Para entender como uma banda da “onda emo” de uma década atrás ainda é relevante nos dias atuais, é preciso estabelecer um fato: o Panic! at the Disco fez sua fama em cima da imprevisibilidade. O pop-punk teatral de A Fever You Can’t Sweat Out ganhou tração ao encontrar seu espaço em meio a nomes como o Fall Out Boy e o My Chemical Romance e foi o centro das atenções em 2006; metade eletrônico e metade vaudeville, o disco de estreia vendeu feito coquetel de gin em cabaré, rendeu prêmios e capas de revistas, e conquistou fãs e críticos em igual número.
“É essa a nossa fórmula pro sucesso! Vamos aprimorá-la e continuar vendo a grana cair do céu!”? Os garotos de Las Vegas eram mais ambiciosos que isso. Brendon Urie e cia fizeram um 180º e lançaram uma execução razoável de uma péssima ideia – fazer Beatles sem ser Beatles. Pretty. Odd. (2008) era tão cartum quanto, mas menos inspirado e mais inoportuno que Fever. A imprevisibilidade anda de mãos dadas com a inconsistência.
A história comprova que apostar no garantido é a forma mais fácil de manter seu nome na boca dos fãs, mesmo que o afaste da dos críticos. Exemplo esdrúxulo: o AC/DC está lançando a mesma música há mais de 30 anos, entupindo os mesmos estádios e recolhendo os mesmos milhões da época de Back in Black. O Panic! não é AC/DC, mas também não é David Bowie – não que alguém o seja. Em Vices & Virtues (2011), Urie e Smith perceberam isso, vestiram novamente suas cartolas desnecessariamente altas e tiraram delas o álbum mais seguro da banda. Em alguns momentos, morno e insosso. Quem os culparia?
Cinco anos depois, a segurança que o Panic! tinha bebeu demais e desfilou só de lingerie por Hollywood. Urie se tornou o único integrante fixo da ‘banda’, e adora isso. Death of a Bachelor retrata o período de transição entre a vida de solteiro e o abandono da mesma. Casado aos 28, o cantor nunca esteve tão à vontade para gritar, afinar, usar samples de músicas grudentas, colocar crianças para cantar as primeiras linhas do disco… apesar de tudo, Death of a Bachelor não é nenhuma loucura. Urie já passou dessa fase.
Bombástica, “Victorious” abre o álbum fazendo o trompete encontrar a batida eletrônica bem como um copo de cerveja barata é sucedido por um espumante francês: abruptamente, sabendo dos riscos envolvidos, mas sem medo de vexame. Os ganchos estão por toda parte, e a voz do talentoso frontman se destaca em cada espaço, afirmando-se ainda mais nas menos otimistas, mas tão dançantes quanto, “Don’t Threaten Me With a Good Time” e “Emperor’s New Clothes”.
Urie sempre teve técnica vocal superior à de quase todos seus colegas do pop-punk, e não deixa o crescente número de instrumentos em suas músicas impedir sua evolução a cada álbum. Alguns dos efeitos vocais, porém, se mostram mais irritantes do que úteis, como nos versos de “Hallelujah”. A superprodução característica de álbuns pop como este começa a jogar contra o propósito da obra – o excelente vocalista conseguiria atingir todas as notas apresentadas no disco sem a “maquiagem” do estúdio, artificial e desnecessária.
Por isso, menos pode significar mais – como atestado na faixa-título. Ela troca efeitos, vocais em coro e excessos em geral por um baixo pulsante e metais cheios de charme. Urie canaliza a Broadway que existe dentro dele em uma performance exuberante na incontestável melhor música do álbum, forte candidata a auge da carreira. A caricata “Crazy=Genius” retoma os exageros, que continuam não sendo totalmente essenciais, mas compensa com inúmeros ganchos impossíveis de esquecer.
Urie continua reproduzindo suas inspirações, do hip hop a Frank Sinatra, nos últimos momentos de Death of a Bachelor. A ponte de “LA Devotee” e a repetição do refrão em “The Good, The Bad And The Dirty” limitam, mas não impedem as canções de manterem uma inegável qualidade pop, enquanto “Impossible Year” reaplica o conceito de minimizar os meios para maximizar o resultado, contemplando a sutileza da combinação piano + voz.
Em mais de uma década de carreira, o Panic! at the Disco – com ou sem o ponto de exclamação – sempre se mostrou empolgado com o desconhecido e disposto a reinterpretar ideias familiares. Agora um projeto solo de um frontman estabelecido, busca as mesmas ondas sonoras que habitou quando ainda era uma criança de lápis no olho com uma aptidão para o teatro. De olho nas tendências da cultura popular, mas sem perder sua essência cartunesca, o Panic! vive uma lua de mel consigo mesmo na forma de Death Of A Bachelor e continua ganhando território – imprevisível que é, pode voltar a botar tudo a perder na próxima obra. Que Pretty. Odd. tenha ficado definitivamente para trás. Aleluia!