Os caminhos trilhados pelo Black Metal sempre foram controversos. Sendo uma das culturas do metal extremo que mais está preocupada com a arte, o estilo sempre foi renegado ao submundo da música. Obviamente, o Black Metal nunca foi um estilo para se tornar mainstream. A profundidade de suas músicas e, na maioria das vezes, a aspereza de suas interpretações afastavam os que queriam apenas mais uma música pop tocando em seu carro.
A Immortal foi uma das mais importantes bandas para a existência e desenvolvimento do Black Metal. Surgida nos anos 1990, a banda é muitas vezes catalogada como pertencente a uma segunda encarnação do estilo.
Depois de ter lançado dois álbuns de qualidade extremamente alta (Sons Of Northern Darkness, de 2002 e All Shall Fall, de 2009) a banda se colocou num hiato de onde surgiu uma disputa pelo nome iniciada pelo próprio Abbath. Atualmente a Immortal segue sem o vocalista/guitarrista e, teoricamente, compondo um novo álbum.
Abbath decidiu então lançar o material que (contam as histórias) estava escrevendo para o novo álbum do Immortal como um projeto solo e agora, em 2016, somos brindados com um dos melhores álbuns de Black Metal dos últimos tempos.
“To War!” inicia o álbum mostrando que a fábrica de riffs e vocais sujos está aberta. A banda, composta também por King Ov Hell (Gorgoroth) e Baard Kolstad (Borknagar), mostra-se competente e extrema com o uso de blast beats e convenções muito bem desenhadas.
A introdução de “Winterbane” é uma mistura de satisfação com confusão: isso é um disco do Immortal? Definitivamente Abbath é o Immortal e será difícil provar o contrário. A maior música do álbum (com quase 7 minutos) é concisa e tem linhas de bateria extremamente criativas. Vocais falados, quase melódicos, e dedilhados acústicos somam num quase hino à batalha.
“Ashes of The Damned” é uma energética canção com constantes blast beats e palhetadas velozes. Aqui podemos ouvir uma orquestra ao fundo que aparece um pouco mais em alguns momentos, mas de uma forma tão bem dosada que se une ao instrumental de forma simbiótica. O respiro de guitarra dedilhada ao fim da música é só o fôlego para mais uma explosão extrema que provavelmente tem o único acorde maior em todo o disco.
“Ocean Of Wounds” retorna à levada mais compassada e constante. Uma grande música que termina em um fade out que se encontra com o som da chuva que abre “Count The Dead” essa com um riff tão duro que nos remete ao industrial até explodir no mais puro raw black metal.
Provavelmente uma das melhores músicas do álbum, “Fenrir Hunts” une riffs velozes, baterias velozes, vocais certeiros e um baixo grave e melódico. A capacidade de Abbath de unir em seus riffs a agressividade e a melodia ficam evidentes nessa música. Um dos grandes momentos do álbum.
“Root Of The Mountain” é o equivalente à “balada romântica” dos discos de hard rock do início dos anos 1990. Digo isso apenas pelo fato de ser uma música mais lenta, com um espaço maior para que o baterista possa respirar. No entanto, a música é mais uma aula de composição e produção, mudando de andamento e terminando em um quase dom metal.
“Endless” é a faixa de despedida e isso não pode ser feito de maneira melhor. Pura, seca, ríspida. A música nos remete às vertentes mais extremas do black metal da segunda geração que fazem música com a temática da guerra. A segunda parte da música é composta por uma levada de bateria pouco comum ao estilo, seguida de Blast Beats para depois cair numa espécie de heavy/thrash metal e novamente retornar ao puro Raw Black Metal.
Abbath fez um trabalho invejável em sua estreia solo e segue ao vivo com essa banda, tocando, obviamente, clássicos do Immortal. Só nos resta desejar vida longa a esse projeto de tamanha qualidade.