Há três anos, quando as garotas do Savages mostraram ao mundo seu debute, Silence Yourself, um disco profundo, pesado, cheio de camadas obscuras e temas que contornavam a quebra do patriarcado, o quarteto fez barulho no cenário independente mundial como mais uma grande aposta da nova geração pós punk, dessa vez resgatando a essência do final dos anos 70 sem deixar de lado seu revival eletrônico dos anos 2000.
A banda é conhecida também pelo apelo sensorial intenso em seus shows, principalmente quando executados em espaços menores e fechados. A densidade sonora do baixo de Ayse Hassan soa como ondas cerebrais que vão de encontro à voz da vocalista Jehnny Beth – que faz as vezes de Ian Curtis com Siouxsie Sioux -, soando eufórica, complexa e perturbadora por vezes. Em festivais, por exemplo, essa potência de som nem sempre é alcançada em sua totalidade como as grandes “bandas de arena”. O grupo esteve na edição 2014 do Lollapalooza Brasil e vimos de perto um pouco dessa característica do Savages.
Silence Yourself trouxe bastante fúria nas letras, como em “Husbands”, onde Jehnny canta palavras de empoderamento: “Minha casa, minha cama, meus maridos”. E até em “Hit Me”, que pode soar como uma música sobre abuso doméstico, mas se trata de sexo selvagem conceitual.
Já em Adore Life, segundo disco de estúdio lançado esse mês via Matador Records, a banda traz sua própria versão do amor, sem deixar a aura dark e com algumas faixas ainda mais brutais. O disco teve produção de Johnny Hostile, que dividiu a produção do primeiro álbum com Rodaidh McDonald.
Em recente entrevista à Billboard, Jehnny Beth contou que durante esses três anos elas excursionaram por vários lugares do mundo e tiveram recepções ótimas e cheias de afeto. “Você só pode ser cego ou um idiota para não ser afetado com isso”, disse. “A coisa toda é o que você faz com esse amor. Ignora? Ainda está sendo fiel a si mesmo? Como você devolve o amor recebido?” questiona a vocalista do Savages.
A resposta para essas perguntas veio com Adore Life. De punho cravado e com o coração em mãos, como induz a capa do disco, Jehnny, Ayse, Gemma e Fay retribuem aos fãs de todo o mundo o amor recebido. Sem deixar de lado todos os ângulos do amor: “Uma doença”, como Jehnny costuma dizer. Em suas novas canções o amor é retratado ora como angustiante e podre como em “T.I.W.YG”, ora como libertador, como é o caso de “I Need Something New”.
Destaque merecido, a primeira faixa “The Answer” abre o disco com impacto, guitarras mais marcadas e corridas. “O amor é a resposta”, declara. “Evil” traz uma sonoridade anos 80 ao estilo melancólico a la Morrissey. “Sad Person” e “Adore” seguem uma linha de conflitos pessoais e questões existenciais. “É humano pedir demais? É humano adorar a vida?”.
A exploração de músicas que vão crescendo até um pico explosivo ainda é a fórmula base do grupo, que consegue fazê-la sem se tornar repetitiva. Adore Life tem uma fachada de “menos sério” por conta da temática, menos política, mas soa sim questionador e forte o suficiente para um futuro próspero.