A Megadeth é uma banda de extrema importância para a minha geração. Para todos aqueles que passaram suas adolescências ouvindo álbuns como Rust In Peace (1990) e Countdown To Extinction (1992), ouvir um álbum com riffs inspirados e vocais muito bem executados e agressivos de Mustaine é quase uma nostalgia.
Em uma banda que sofreu com inúmeras mudanças em sua formação, a constância é obviamente um desafio. Um exemplo rápido disso está nos discos entre 1997 e 2001 tendo o Risk (1999) como o ponto mais evidente da inconstante sonoridade da banda.
Em Dystopia temos uma nova formação contando com o brasileiro Kiko Loureiro (Angra) nas guitarras e Chris Adler (Lamb Of God) na bateria, cumprindo muito bem suas funções. A banda (que desde 2004 não divide mais o palco com bandas de black metal) parece ter conquistado mais uma vez muitos dos seus antigos e novos fãs sem ter que criar algum tipo de polêmica.
O álbum abre com “The Threat Is Real” com um riff palhetado em alta velocidade. A estrutura da música obedece um formato baseado realmente em seus álbuns mais antigos. A quase irritante demonstração de técnica de guitarra, tocando solos extremamente rápidos, porém, diminuem a agressividade da música e a tornam um pouco “música para músicos”.
“Dystopia” é realmente uma grande música. Vocais extremamente bem encaixados e uma letra escrita com simetria. Riffs muito bons que são mais uma vez jogados níveis abaixo com solos que remetem apenas à técnica e perdem em passar melodia ou agressividade. A parte instrumental quase no fim da música realmente soa como uma distopia, passando longe de algo interessante. Ao menos, ao fim da música, o dueto de guitarras faz a música crescer novamente.
Em “Fatal Illusion” temos riffs ótimos e uma introdução vocal muito boa (inclusive, meus parabéns a Mustaine por suas linhas de voz nesse álbum). No meio da música, uma mudança de andamento demonstra todo o profissionalismo do baterista Chris Adler, que é preciso em sua execução e não comete exageros desnecessários, dando à música o que a música pede.
“Bullet the brain” abre com um dedilhado acústico até que novamente os riffs matadores voltem a invadir nossos ouvidos. Definitivamente um refinado Thrash Metal que flerta levemente com o Heavy Metal em alguns momentos, assim como em todo o resto do álbum.
Em “The Emperor” encontramos um andamento e uma pegada um pouco diferenciados. Uma levada mais rápida seguida de um refrão mais melódico a tornam provavelmente a faixa mais pop do disco. Isso não quer dizer que ela é ruim. Observando esses detalhes e adicionando a aparente simplicidade da letra, parece essa ser realmente uma música com um propósito mais radiofônico.
Em suma, um álbum que merece ser ouvido várias vezes para se captar cada ideia. Há um conteúdo muito rico aqui (o que vai contra a velocidade de consumo de música dos dias atuais) e performances louváveis dos quatro músicos envolvidos.