No submundo do rock, longe dos holofotes da cultura popular, centenas de bandas vêm e vão a todo instante. A indústria fonográfica e sua incapacidade crônica de encontrar uma alternativa viável à pirataria fazem do “ser músico” uma atividade ingrata.
Com sorte, os jovens que gravam uma demo na garagem do baterista e passam meses levando o trabalho aos cantos mais escuros da internet chamarão a atenção de um selo independente, lançarão um ou dois discos e farão shows para até 300 pessoas. Por não serem bonitos como o One Direction nem terem os compositores da Katy Perry, retornarão aos palcos apertados dos bares sujos que habitaram em suas origens, eventualmente colocando a banda pra hibernar devido ao baixo ou nulo retorno financeiro.
Não é sabido se a falta de libras em caixa foi o fator principal para os cinco britânicos do Basement pendurarem as palhetas. O anúncio da pausa nas atividades veio pouco antes do lançamento de Colourmeinkindness, segundo álbum de estúdio da banda, em 2012. E é a partir daqui que o quinteto se mostrou diferente dos outros grupos fadados ao hiato: durante os dois anos de silêncio, seu número de fãs parece ter multiplicado, dada a repercussão gerada com seu retorno.
O Basement voltou em 2014 como um dos nomes de maior calibre da Run For Cover, gravadora independente que vem ganhando terreno com revelações como Modern Baseball, Tigers Jaw e Turnover. Um EP bem recebido e shows lotados pavimentaram o caminho para um terceiro álbum com a promessa de alavancá-los a novos patamares. Este álbum é Promise Everything: 28 proveitosos minutos de rock alternativo melódico inspirado pelo emo e enraizado no punk.
A obra é repleta de riffs que, mesmo pouco diversificados entre si, dão tons diferentes a cada faixa. A inaugural “Brother’s Keeper” começa visceral, desacelera abruptamente, explode no refrão e termina sem cerimônia, acompanhando a ambivalência dos vocais apático-exclamativos de Andrew Fisher. “Hanging Around” apresenta versos guiados pelo baixo de Duncan Stewart e refrães levados pela dupla de guitarristas Alex Henery e Ronan Crix. O baterista James Fisher se limita a ser fiel à simplicidade do punk, e não compromete, mas poderia aproveitar mais os espaços, como faz uma única vez em “Hanging Around”.
Durante a pausa, o quinteto demonstra ter expandido seus horizontes musicais para além do que apresentaram nos dois primeiros discos. As novas influências são exemplificadas nas duas faixas-destaque: “Aquasun”, cuja repetição melancólica da expressão “dive into me” (“mergulhe em mim”) remete ao Smashing Pumpkins de meados dos anos 90; e “Oversized”, intimamente construída sobre acordes limpos e vocais contidos, quase acústica em sua essência.
“Blinded Bye” retoma os riffs distorcidos sob o lirismo introspectivo – “eu quero ser o único / enterrado sob o verde, debaixo de um sol / esperando ver o que me tornei” – e a faixa-título resgata os refrães explosivos que até então haviam ficado na primeira metade do disco, embora eles logo deem lugar à emotiva “Halo”, encerrando a obra mais calmamente do que ela começou. Curto e conciso, Promise Everything simboliza a capacidade que uma das bandas mais comentadas do momento no underground tem de corresponder às expectativas criadas por críticos e fãs – em seu terceiro álbum, o Basement nunca soou tão preparado.
Aqui no Brasil o álbum está sendo lançado pela gravadora Hearts Bleed Blue.