Quando Zachary Cole Smith criou o DIIV, nunca imaginou que o projeto fosse algum dia sair do seu quarto no Brooklyn, em Nova York. Sozinho, o músico escreveu e compôs todas as músicas que fizeram parte do primeiro álbum de estúdio do projeto, Oshin (2012). A sonoridade do disco se apoiou no sucesso da mistura de indie rock com dream pop marcado por bandas como Real Estate e Beach Fossils, da qual Zachary fez parte por um tempo, tocando bateria e guitarra.
Após o disco ser bem recebido pelo público e pelos críticos, o grupo partiu em uma turnê que não durou muito tempo: em 2013, Smith cancelou os shows marcados na Europa por motivos de “exaustão” e queria trabalhar em novas músicas para lançar um segundo álbum.
Durante os quatro — longos — anos de espera entre os trabalhos, a banda passou por várias situações desagradáveis: além da saída do baterista Colby Hewitt devido ao seu vício em drogas, o próprio Zachary também se envolveu em diversos casos de abuso de heroína e cocaína, chegando até a ser preso por porte de drogas juntamente de sua namorada, Sky Ferreira. Todos esses acontecimentos foram altamente influentes para o processo de composição das 17 faixas do novo álbum de estúdio do DIIV, Is The Is Are.
Pelo fato de que, dessa vez, todos os membros contribuíram nos arranjos do álbum, Is The Is Are se mostra muito mais rico melodicamente. A banda não teve medo em tomar riscos e evitar estruturas manjadas de composição, e provavelmente tomou uma nota ou outra de bandas como The Cure, especialistas em grandes introduções e outros. Camadas e mais camadas de guitarras marcam músicas e até mesmo deixam os vocais em segundo plano em muitos casos, como por exemplo “Under the Sun” e “Take Your Time”.
Algo muito curioso nas composições é a falta de refrão em muitas faixas. Músicas como “Out of Mind”, “Bent (Roi’s Song)” e “Incarnate Devil” apresentam somente poucas estrofes que vão se repetindo ao longo da faixa. O vício de Zachary em heroína e seu processo de reabilitação são temas recorrentes nas letras, e durante boa parte do álbum elas são muito bem escritas, mas em meio a tantas melodias e articulações, os vocais às vezes soam desinteressantes, preguiçosos, ou até mesmo acabam se perdendo em meio aos instrumentos — sem contribuir com os arranjos de modo algum — como acontece em “Yr Not Far” e “Mire (Grant’s Song)”. É quase como se algumas faixas tivessem letras apenas para não fugir tanto da norma e da zona de conforto do grupo, sendo que muitas músicas no disco ficariam bem melhores se fossem apenas instrumentais.
Além disso, embora os riffs do álbum sejam em sua maior parte únicos e bem escritos, algumas vezes um ou outro soam parecidos ao longo do disco, causando similaridades entre canções que acabam cansando o ouvinte e deixando os 63 minutos de duração um pouco maçantes em determinados pontos do trabalho.
A única participação especial em Is The Is Are é da namorada do frontman, Sky Ferreira, na faixa “Blue Boredom”. O vocal de Ferreira faz um bom contraste comparado ao resto das faixas no disco, mas a falta de uma letra mais significativa machuca muito na entrega final da canção.
Apesar dos defeitos, a banda acerta em diversos aspectos. As faixas “Dopamine”, “Loose Ends” e “Dust” são alguns dos pontos altos do disco, onde a banda mostra que sabe balancear as belas harmonias de guitarra com os vocais. E até mesmo nos pontos onde a voz de Smith fica em segundo plano, o cantor a utiliza como uma ferramenta para complementar o som dos outros instrumentos.
O segundo esforço do DIIV é admirável. A banda conseguiu fugir das normas e da estrutura genérica que toma conta da cena indie atual e entregou um disco rico em melodias e com um instrumental quase impecável. As falhas são visíveis — mas são poucas. O grupo ainda tem muito espaço para crescer, e se os quatro anos gastos na composição de Is The Is Are são algum indicativo, Zachary Smith e seus amigos têm todo o tempo do mundo para voltar com um terceiro disco do DIIV ainda melhor.