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Resenha: Wolfmother - Victorious

Em novo disco do Wolfmother, Andrew Stockdale aposta em canções para grandes estádios e parece reencontrar sua sonoridade.

Wolfmother - Victorious

A Austrália é uma terra sagrada para bandas de rock. Vieram de lá nomes como AC/DC, Jet, Airbourne, Silverchair, INXS e, é claro, o Wolfmother.

Em 2005 o trio formado cinco antes antes lançou um disco homônimo e, como era comum naquela época, “salvou o rock and roll” com um revival certeiro e preciso do hard rock na forma de ótimas canções como “Woman” e “Joker And The Thief”.

De repente, e não mais do que de repente, a banda cheia de uns bons riff, visual que passaria no teste de qualquer roqueiro e bastante energia estava dominando o palco de festivais mundo afora, tocando na televisão e levando seu som até destinos bem distantes da sua terra natal.

O rock mostrava um novo caminho ensolarado para Andrew Stockdale, Chris Ross e Myles Heskett, que ao mesmo tempo em que faziam referências a nomes como Black Sabbath e Led Zeppelin, também incorporavam novos ares dos anos 2000 a uma sonoridade razoavelmente moderna.

O problema é que o rock também é cheio de armadilhas e com a fama vieram as brigas internas e tudo que sobrou do Wolfmother foi seu vocalista e guitarrista, Andrew Stockdale.

Naturalmente o cara é parte fundamental da banda, já que representa a sua voz e seus poderosos solos e acordes, mas ficou claro que as mãos do baterista e do baixista eram imprescindíveis para a banda, já que os dois discos seguintes, Cosmic Egg (2009) e New Crown (2014) são pouco inspirados, para dizer o mínimo.

11 anos após seu debut, o Wolfmother volta com mais um disco de estúdio na forma de Victorious, e desde o título já é possível sacar que Stockdale não quer nada além de um alto posto com o novo trabalho.

Para começar, o músico recrutou nomes de peso que estiveram ao seu lado durante as gravações. Na bateria, Josh Freese (Nine Inch Nails, Guns N’ Roses, DEVO, Weezer) gravou sete das dez faixas, enquanto as outras três ficaram com Joey Waronker (Beck, R.E.M., Atoms For Peace).

A produção ficou por conta de Brendan O’Brien, que já trabalhou com nomes como Pearl Jam, Stone Temple Pilots, Red Hot Chili Peppers, Rage Against The Machine, AC/DC, Mastodon e muito, muito mais. Dessa forma, Andrew estava bem assessorado para seguir com o seu plano e o fez.

Desde o início do disco com “The Love That You Give” fica bem claro que o intuito do álbum é recolocar o nome do Wolfmother no mapa. Um riffão abre os trabalhos antes de que a voz característica do músico entre e nos leve direto para um túnel do tempo do hard rock nos anos 70, o que continua com a faixa título, ambas interessantes.

Faixas como “Baroness” fazem um contraponto interessante às duas primeiras canções, já que apostam em um andamento diferente, mas todas consolidam o propósito de Victorious: lotar os shows da banda.

Com cara do rock que tem abertura completa para ser pop, meio que bebendo na fonte do Eagles, Stockdale declara abertamente que suas novas músicas estão prontas para “shows de arena”, e “Pretty Peggy” reafirma essa condição. A balada está prontinha e embalada para que o público cante e chega até mesmo a lembrar nomes recentes que têm misturado música alternativa e folk com pop e rock, como Mumford & Sons, Fun. e, pasme, Imagine Dragons.

“City Lights” lembra momentos inspirados do primeiro disco do grupo e “The Simple Life” antecede outra balada: “Best Of A Bad Situation”. Nomes como Grateful Dead são lembrados aqui em mais uma fórmula que apesar de batida, funciona bem para o seu propósito.

“Gypsy Caravan” também funciona, nos lembra naturalmente do Black Sabbath, tem guitarras quentes e cremosas, teclados e toda cara de que será um dos novos pontos altos dos shows da banda.

É ao final do disco, porém, que Andrew Stockdale não tem pudor nenhum em popularizar o seu som. “Happy Face” é um rockão cheio de guitarras que fala basicamente sobre como “tudo se encaixa no lugar certo quando ela coloca um sorriso no rosto”. O rock alternativo dos anos 90 que tomou conta das rádios através de nomes como Jane’s Addiction parece ter sido a escola aqui e eu não me surpreenderia se a canção fosse utilizada como single em algum momento.

A última faixa é “Eye Of The Beholder” e antes de encerrar os 35 minutos de Victorious apresenta um pouco mais do mesmo que já ouvimos durante todo o álbum.

Vale aqui uma ressalva de que o quarto disco da banda é também o mais curto de toda a carreira. Se nos outros tínhamos pelo menos 40 e poucos minutos e nos aproximamos até de uma hora, aqui o trabalho é conciso e enxuto, justamente para ressaltar que o foco está em canções construídas para terem vida própria.

Victorious é uma espécie de retomada para o Wolfmother e um disco que deve colocar os sons da banda nas grandes rádios e grandes palcos. Melhor do que seus antecessores, apresenta ótimos momentos e ainda vive à sombra de uma estreia avassaladora do grupo há uma década, mas dá sinais de que seu único membro original pode finalmente estar entendendo melhor a sua própria sonoridade.