As bandas ZeroZero e Lo-Fi, voltadas ao punk rock e underground brasileiro, estão lançando um split em K7 onde apresentam novas músicas e novas fases.
A banda ZeroZero, por exemplo, está mostrando novamente sua mistura certeira de punk, hardcore e surf music, mas agora com letras em português, enquanto o Lo-Fi continua fazendo rockão sujo em Inglês no trabalho.
Além de ouvir as músicas logo abaixo, você também pode ler uma entrevista exclusiva que o TMDQA! fez com Juliano Enrico, vocalista do ZeroZero, onde ele fala sobre a banda, seus lançamentos, Vila Velha, esgoto e mais.
Divirta-se!
TMDQA!: Essa é uma nova fase para a banda, que passou por mudança na formação, na sonoridade e nas letras das canções, agora em Português. Como tem sido trabalhar com a Zero Zero e o que motivou todas essas novidades?
Juliano: Depois de lançar o EP Back to Basics rolou uma dispersada e de repente todo mundo percebeu que estava com 30 anos e que a banda já tinha tempo demais de existência (tipo uns 7 anos). Escolhemos continuar tocando, mas para isso ser possível era preciso algum tipo de objetivo. Objetivo é um saco, mas acabou sendo bom porque incorporamos um cara novo chamado Chico Cuíca e passamos a fazer músicas novas para ver como elas soariam. Junto com a banda fui percebendo que não fazia muito sentido cantar em inglês e que poderia ser mais divertido escrever em português. No final das contas acaba dando no mesmo porque não dá pra entender do mesmo jeito. Eu não entendo a maioria das letras do Zerozero. Não entender é mais legal do que entender, tem isso também. Mas o legal de tudo isso é a possibilidade de ter uma música chamada “Pele de Cobra” por exemplo.
TMDQA!: Há 4 anos vocês lançaram o EP Back to Basics, e agora voltam com um split com o Lo-Fi. Há planos para gravar um disco cheio?
Juliano: Então. Depois de juntar umas 19 músicas novas, tivemos que encontrar um outro objetivo. Daí decidimos gravar um disco. Gravar um álbum meio que era um sonho mágico de cada um da banda. Um vinil com capa, fotinho, letra, encarte e pôster todo conceitual. Essas seis faixas da fitinha k7 split são as primeiras experimentações pra esse nosso primeiro disco de verdade. Ainda não temos um nome pra ele, mas vamos gravar agora no final de abril em SP no abençoado estúdio Costella. Essas seis musiquinhas da fitinha k7 sofrerão transmutações e entrarão nesse disco com mais uns 14 ou 15 sons inéditos. Estamos animados com a possibilidade de gravar pela primeira vez todo mundo juntinho. O próximo objetivo depois disso não sei. Acho que talvez fazer um show na caçamba de um caminhão.
TMDQA!: Quais são as principais dificuldades ao fazer letras em Português para encaixar em um estilo tão conhecido por bandas internacionais?
Juliano: A dificuldade é a vergonha. Às vezes rola uma preocupação de soar meio Detonautas, sei lá. Tenho pesadelos com isso. O português é uma língua perigosa, mas é divertido perceber que as pessoas entendem algumas palavras no show. O inglês acaba sendo mais fácil porque você pode se esconder usando umas palavrinhas maneironas, mas gostamos de muitas bandas de hardcore que cantam em português então acaba soando natural também cantar em português.
TMDQA!: Ouvindo os trabalhos de vocês dá pra perceber que não há muita preocupação em soar como algo. Desde Back To Basics, que já fugia dos padrões do punk/hardcore até agora, onde há surf music, rock de garagem e mais, a impressão é de que a maior preocupação é criar, seja o que for. Como é o processo de composição das canções da banda? Que influências vocês podem citar como importantes para as músicas do split?
Juliano: O surf sempre rolou, mas talvez agora isso seja mais perceptível. A gente ensaia revezando uma semana em Bairro República e outra em Novo México. Dois lindos lugares. Ensaiamos muito tempo num estúdio chamado TPM, gerenciado pelo Seu Edson (fotógrafo da banda), mas uma vez o Lucas quase morreu lá sofrendo um ataque de asma grave. Esse estúdio era nossa casa desde o começo e fica no coração de Vila Velha bem na frente de um enorme valão com uns cavalos de rua passando. Esse ambiente bucólico serviu de inspiração pra algumas canções desse split k7 e do nosso novo disco ainda sem nome. Eu moro no Rio, mas passo uma vez por mês em Vitória/Vila Velha para ensaios e shows (quando tem). Cada um leva sua ideia e juntamos tudo nesses ensaios repletos de discussões impagáveis com argumentações esdrúxulas sobre quantas vezes repetiremos cada riff ou qual seria a velocidade certa pra começar ou terminar ou apenas nos agredindo verbalmente dizendo quem tá errando mais ou pra qual direção as correntes de esgoto seguem depois de desembocarem no mar (dizem que todo o esgoto de Vila Velha vai parar nas praias de Vitória). É divertido. Seria legal lançar um DVD da banda com as melhores discussões e dar nome pra cada uma delas como se fossem músicas. Uma pérola ou outra acaba sendo incorporada nas letras. Ano passado rolou um esquema meio Los Hermanos de ir todo mundo num sítio aí. Algumas músicas legais do disco novo saíram desse dia também.
TMDQA!: Com músicas que raramente alcançam os dois minutos, como é um show da Zero Zero? Que covers vocês tocam no setlist entre as próprias dos trabalhos que já lançaram?
Juliano: Já tocamos um cover de Bad Brains. Acho que foi “Big Takeover”. Atualmente não tem rolado cover. O show do Zerozero costuma ser meio doido. Doido em algum sentido que não sei explicar muito bem, mas vou tentar: tudo soa muito diferente do que tocamos nos ensaios e gravações. Não sei se é diferente de um jeito bom ou ruim. Não sei se o público (quando tem) chega a se divertir, mas a gente se diverte muito. De certa forma é bom ser uma banda nada conhecida porque ninguém percebe ou se importa quando erramos. Estamos tentando fazer nosso show durar 30 minutos, mas é meio complicado porque toda música arrebenta alguma corda que precisa ser trocada ou tem algum treco sobrenatural de cabo ou mal contado de pedal ou alguém precisa pegar uma guitarra emprestada ou só tem uma caixa de guitarra. O show é sempre um momento confuso em nossas vidas, mas decidimos que esses contratempos fazem parte do nosso espetáculo musical. Nesse nosso espetáculo musical dia 6 agora pro lançamento do nosso split com LO-FI, vamos tocar muitas músicas do novo disco além de executar o K7 ao vivo. Queria que a banda toda se vestisse de cowboy, porque roupa de cowboy dá muita autoconfiança.
TMDQA!: Por fim, como você descreveria o som da banda para a pessoa que vai apertar o play no split agora?
Conflituoso e reverberante.