Entre tantos nomes, citações, vazamentos, delações e textões, muitos textões, um nome de pouca expressão no cenário político nacional ganhou destaque na noite de quinta-feira (17): o do deputado Rogério Rosso (PSD-DF), que em manobra da oposição foi escolhido presidente da Comissão Especial da Câmara que analisará o pedido de impeachment da presidenta Dilma Rousseff.
Talvez você nunca tenha ouvido falar em Rosso. Omisso no Congresso, de fato o deputado pouco fez para chamar atenção. Mas antes de chegar à Câmara dos Deputados, Rosso despontou no cenário político ao ser escolhido para assumir o Governo do Distrito Federal, após o impeachment do ex-governador José Roberto Arruda, em 2010. Na mesma época, uma faceta curiosa de Rosso tornou-se pública: a do fã de heavy metal.
Politicagens à parte – Rogério Rosso é cria política de Joaquim Roriz e aliado de Eduardo Cunha – o atual deputado criou-se baixista, tecladista e guitarrista, e se diz fã de Dio, Iron Maiden e Whitesnake, entre outros clássicos do metal e do hard rock. Quando governador, chegou a manifestar o sonho de levar uma versão do Wacken Open Air, o maior festival de metal do mundo, para a capital federal. Como hoje sabemos, não deu.
O ponto alto da trajetória de Rosso como headbanger surgiu como homenagem ao primeiro cinquentenário de Brasília, comemorado dias após a posse dele como governador. Sob o pseudônimo R. Schumman, Rosso ajudou a compor e produzir “Brasília Magical Journey”, um metal épico gravado por 35 músicos da cena headbanger brasiliense com direito a clipe à la “Hear n’ Aid”, uma espécie de “We Are The World” do metal.
Veja:
Lançada oficialmente em 22 de abril de 2010, nos telões de um show que o Megadeth fez na capital, “Brasília Magical Journey” ultrapassa os 10 minutos de duração – 3 deles dedicados exclusivamente a solos de guitarra – e faz referências à profecia de Dom Bosco, que em 1883 teria sonhado com a construção de Brasília. Neste outro vídeo, também de 2010, o presidente da comissão abre as portas do Rossom, estúdio pessoal dele, vestido com uma camiseta do Heaven & Hell, projeto temporário de integrantes e ex-integrantes do Black Sabbath que passou por Brasília meses antes da filmagem.
O gosto musical do deputado Rogério Rosso em nada interfere na sua atuação como parlamentar, é óbvio. Mas a ironia da situação me fez imaginá-lo Presidente da República, substituindo a bossa nova das ligações grampeadas pela Polícia Federal por uma versão karaokê de “Holy Diver”. Na posse, de repente, ele reuniria a formação clássica do Angra para entreter os convidados no Palácio do Itamaraty, semanas antes de anunciar André Mattos como Ministro da Cultura.
As conexões começaram a fazer sentido e parei de elocubrar. Dadas as convulsões e revoluções do cenário político nacional, nada mais parece impossível. Vai que… Não, melhor não.