Resenha: Iggy Pop - Post Pop Depression

Post Pop Depression pode tropeçar e se arrastar, mas em sua maior parte é um álbum digno de encerrar a carreira de Iggy Pop se for o caso.

Iggy Pop - Post Pop Depression

Iggy Pop é um dos grandes titãs da música. O icônico vocalista lançou vários álbuns notáveis ao longo de quase cinquenta anos de carreira, tanto com a sua banda The Stooges, como em carreira solo e também em várias parcerias — a mais bem-sucedida sendo com David Bowie. Com os álbuns Lust For Life e The Idiot, Bowie ajudou a trazer o melhor no cantor: letras provocativas, espontaneidade e certa dose de experimentação. E, embora em uma escala bem menor, é isso o que a parceria de Iggy com Josh Homme tentou emular em Post Pop Depression.

Provavelmente por culpa de Homme, o novo álbum do cantor tem uma forte inspiração no som do Queens of the Stone Age, como pode ser visto logo na primeira faixa, “Break Into Your Heart”. Nela, Iggy mostra toda a potência de sua voz, a utilizando de uma forma sombria — o que combina muito bem com o tom obscuro dos teclados e da guitarra, em um riff quase hipnótico.

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E ao mesmo tempo em que essa influência seja também muito aparente em várias canções, “Gardenia” parece ir em uma direção completamente oposta — mas não necessariamente ruim. Embora a faixa não tenha me impressionado quando foi anunciada como primeiro single, no contexto do disco ela se encaixa muito bem como uma balada para contrapor os arranjos mais sinistros das demais canções.

O contraste de ritmos e melodias entre as faixas é recorrente em Post Pop Depression de modo que, quase sempre, a faixa anterior será bem diferente da próxima. Mas uma vez que você ouve “On A Rope”, do Rocket from the Crypt, é difícil ouvir o arranjo de teclados em “American Valhalla” sem fazer os paralelos entre os riffs. Apesar disso, a canção apresenta um dos melhores momentos líricos de Iggy Pop, onde o cantor expressa, de forma quase mórbida, a sua busca por um paraíso onde ele possa finalmente “descansar em paz” e fugir de tudo — o que com certeza transmite um pouco de medo para os fãs do cantor.

“In The Lobby” marca o primeiro momento do disco em que as coisas parecem terem sido feitas sem esforço. Quase tudo nessa faixa é desinteressante: letras, riff, refrão e, em geral, os arranjos. Mas algo que chama a atenção é a parte de Matt Helders, baterista do álbum e mais conhecido pelo seu trabalho no Arctic Monkeys. A contribuição de Helders no disco chega a ser notável e, em determinadas partes, é até possível traçar relações entre Post Pop Depression e AM, dos Monkeys. Mas o grande destaque do baterista vem em “Sunday”, um dos pontos altos do disco.

Quase como um oposto completo da faixa anterior, Sunday apresenta todos os membros da banda em seu ápice: a bateria de Helders, o backing vocal de Homme, as letras de Iggy e até o solo de guitarra são extremamente contagiantes. Todos eles culminam em um grande outro orquestrado que chega a deixar o ouvinte sem palavras. Após uma experiência tão boa, é até surpreendente que uma canção dessas fosse acompanhada de outra tão medíocre. Nada em “Vulture” me faz querer ouvi-la de novo — e algo similar acontece em “German Days”. Comparadas a (quase) todo o resto do álbum, essas duas faixas são extremamente mornas, onde nem a banda e muito menos Iggy conseguem fazer algo que seja minimamente interessante ou diferente.

E apesar de “Chocolate Drops” ser mais um esforço louvável do grupo, é em “Paraguay” que a magia acontece. Iggy Pop está completamente assustador na faixa, e o que começa parecendo uma calma balada sobre se retirar do mundo agitado para aproveitar a “aposentadoria” no Paraguai acaba se transformando em um grande ad lib agressivo em forma de desabafo. Ao chegar no final, os gritos de Iggy passam a impressão de que o cantor está cansado e simplesmente vai embora, para o lugar onde os “maus-perdedores vão”.

Post Pop Depression pode tropeçar e se arrastar, mas em sua maior parte é um álbum decente, digno de encerrar a carreira de um cantor tão icônico como Iggy Pop se for o caso. Nele, Josh Homme, Dean Fertita e Matt Helders agem como ferramentas para expressar os pensamentos melancólicos de alguém que, após quase cinquenta anos de carreira, precisa de um descanso, provavelmente longe de tudo e todos.

E enquanto Iggy pode até cantar “I’m not the man with everything. I’ve nothing, but my name”, eu diria que o músico está errado — ele tem o carinho de milhões de fãs que são gratos por incontáveis horas de diversão e escape em vários álbuns que ajudaram a definir gostos e gêneros ao longo da história da música.

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