O Nada Surf é uma clássica banda de indie rock que surgiu nos anos 90. Em mais de vinte anos de carreira, o grupo liderado por Matthew Caws lançou oito discos de estúdio – o mais recente, You Know Who You Are, saiu no começo deste mês.
Aproveitando o lançamento do novo álbum, tivemos uma conversa bastante produtiva com Caws durante a qual falamos, entre outras coisas, sobre a longa carreira do Nada Surf, suas influências, a onda de artistas independentes que surgem a cada instante, e o Brasil. A banda é representada no país pela agência cultural Inker.
Leia a entrevista abaixo!
TMDQA!: Qual é a sensação de estar lançando seu oitavo disco de estúdio com o Nada Surf? Quando começou a banda, mais de vinte anos atrás, você se via chegando aonde está hoje?
Matthew Caws: Eu estou muito feliz com o lançamento do disco. Nós quase terminamos ele um ano atrás, mas demos uma analisada imparcial e percebemos que poderia ser melhor. Foi especial trabalhar em algo que já estava pronto. Havia um sentimento diferente, como se não tivéssemos nada a perder. Sobre a longevidade da banda, tenho dois sentimentos: não poderia imaginar que chegaríamos até aqui ou faríamos tudo o que fizemos, mas é como um casamento – pretendo fazer durar para sempre.
TMDQA!: Agora que a banda tem quatro membros [o guitarrista Doug Gillard entrou em 2012], houve alguma diferença no processo de gravação do novo álbum em relação aos anteriores?
Matthew Caws: Sim. Doug já tocava conosco antes, mas é a primeira vez que ele participou nos arranjos e nos ensaios todos também. Isso ajudou para que as músicas fossem finalizadas mais rapidamente, porque ele vinha trazendo informações e ideias novas em um ritmo intenso.
TMDQA!: Temos a impressão de que a turnê que a banda fez para o álbum The Stars Are Indifferent to Astronomy, em 2012, foi muito divertida – tanto que vocês decidiram lançar um disco ao vivo para um dos shows daquela turnê. A recepção positiva que o álbum de estúdio recebeu influenciou na decisão de lançar um disco ao vivo?
Matthew: Nós nos divertimos demais naquela turnê e ficamos muito felizes em lançar um álbum ao vivo, mas pra ser sincero a decisão veio a partir de duas coisas: primeiro, nosso amigo e produtor John Goodmanson sabia que a casa de shows em que iríamos tocar em Seattle tinha o equipamento necessário e era boa para gravações, então nos propôs que a fizéssemos, e segundo, sabíamos que nosso próximo álbum iria demorar um pouco, então precisávamos de algo para preencher aquele tempo.
TMDQA!: Como músicos dos anos 90, vocês presenciaram o surgimento, auge, e decadência da mídia física, e a era digital com os serviços de streaming. Ser um músico hoje é mais difícil do que era antes?
Matthew: Essa é uma resposta complicada: é mais difícil porque há menos dinheiro na venda de discos, e é mais difícil porque existe um número muito maior de artistas (graças às gravações caseiras), mas também é muito mais nivelado. Há muito mais bandas conseguindo se sustentar hoje do que havia antes. E nunca foi tão fácil encontrar um público, construir esse público e conhecê-lo. E acima de tudo, é muito mais fácil fazer com que quem goste da sua banda fique sabendo quando você vai tocar na cidade deles.
TMDQA!: Você já disse no passado que queria fazer algo como o que o Sonic Youth e outras bandas indie daquela época faziam, mas tinha dificuldades em aceitar o fato de ser um músico pop. Hoje, se sente confortável com as suas qualidades e habilidades e a forma que elas tomam no processo de composição?
Matthew: Sim, eu tinha esse pensamento porque, durante algum tempo, me senti desconfortável com a simplicidade das músicas que eu escrevia, em termos de progressão de acordes. E eu tentava fazer esses acordes serem mais complicados, deixava-os mais estranhos. Mas agora estou em paz com o fato de que posso fazer um pouco dos dois. Não existe ‘legal’ ou ‘não legal’ pra mim; tenho pensamentos simples e pensamentos complicados, diálogos superficiais e diálogos profundos. Aprecio todos eles e não posso escolher quando devo fazer o quê. Apenas tento me abrir aos meus entusiasmos e segui-los.
TMDQA!: Quais tipos de música influenciaram o novo álbum? Fora suas influências primárias, existem artistas novos que vocês admiram?
Matthew: Deixa eu ver, Courtney Barnett, Beach House, Alvvays… de alguma forma a música “Archie, Marry Me” [do Alvvays] influenciou o ritmo hipnótico de “Friend Hospital” [do novo disco do Nada Surf]. Também amo o Kurt Vile. Acho que, por um lado, SEMPRE há um monte de coisas novas interessantes. É algo absolutamente sem fundo e sem fim. Mas com certeza há momentos em que mais artistas estão ganhando destaque, como agora, e isso é uma coisa muito positiva.
TMDQA!: É verdade, parece que nunca houve tanta música sendo produzida quanto agora, então de qualquer jeito vamos presenciar vários artistas muito talentosos surgindo com frequência.
Matthew: Sim, concordo com isso. A gravação caseira ajuda muito nisso. Qualquer um pode fazer um disco. É um desenvolvimento perfeito, porque já houve tanta gente com ótimas ideias mas nenhuma condição de divulgá-las.
TMDQA!: Depois de mais de vinte anos com o Nada Surf, em que direção você enxerga a banda indo? Houve uma pausa relativamente longa entre este álbum e o anterior – você acha que novos lançamentos irão demorar mais a partir de agora?
Matthew: Não sei dizer. Ter o Doug participando no arranjo das músicas ajudou muito a acelerar o processo. Sempre sonhei em fazer as coisas mais rápido, mas não posso dizer que sempre tenho o controle disso. Aposto que daqui a outros vinte anos, teremos muitos mais álbuns. Alguns virão rápido, outros levarão tempo!
TMDQA!: Podemos esperar que vocês voltem ao Brasil logo?
Matthew: Nós esperamos que sim! Fomos ao Brasil duas vezes e ambas foram experiências incríveis. Eu amo as pessoas, a comida e… as plantas e árvores e animais!
TMDQA!: É ótimo saber disso. Temos orgulho do fato de que, na maior parte do tempo, somos uma experiência boa para as bandas de fora. Uma pena que seja tão difícil para elas virem.
Matthew: Sim! Não sei o porquê disso. Talvez voos muito caros? Nós sempre queremos ir o mais longe possível. Estive no Japão semana passada e amo o quão diferente é em relação ao meu país.
TMDQA!: Você tem mais discos que amigos?
Matthew: Com certeza tenho mais discos que amigos. Mas tenho muita sorte na amizade, e a música ajudou nisso. Eu amo a ideia de ir a uma festa, mas a verdade é que minha vida noturna é tão intensa por causa da banda que, quando tenho tempo livre, prefiro ficar em casa. Sentar com meu toca-discos é um dos maiores prazeres da vida.