Resenha: Weezer - Weezer (White Album)

O novo álbum do Weezer é bom. Muito bom.

Weezer - Weezer (White Album)

Em uma boa época, o Weezer detinha a fama de ser um dos gigantes do Power Pop. Após uma rápida ascensão à fama com o seu primeiro álbum de estúdio, o Blue Album, Rivers Cuomo e seus companheiros embalaram gerações com hits como “My Name is Jonas” e “Buddy Holly”.

Os problemas surgiram quando a banda decidiu lançar seu segundo álbum. Pinkerton, com seu tom mais obscuro e letras sinceras — até mesmo doentias —, não foi bem apreciado tanto pela mídia quanto pelos fãs em seu lançamento, o que fez Rivers entrar em um estado depressivo que foi a causa principal do grande “descarrilhamento” da carreira da banda.

Publicidade
Publicidade

Buscando um som cada vez mais popular para que nunca mais tivesse que lidar com o desafeto dos amantes de música e ao mesmo tempo conquistar um grande público, o Weezer acabou cavando seu buraco ainda mais profundamente. Apesar do Green Album e Maladroit terem sido relativamente bem recebidos — e o fato de que todos estavam errados em relação ao Pinkerton e, hoje em dia, o disco ser considerado um dos melhores álbuns de todos os tempos —, ao longo dos anos 2000 a banda acabou de mal a pior a cada novo lançamento.

Desde uns tempos para cá, o grupo vem tentando recuperar a sua “era de ouro”. Enquanto Hurley (2010) brincava um pouco com a ideia de “voltar no tempo”, foi com Everything Will Be Alright In The End (2014) que o Weezer teve sua maior tentativa de conquistar de volta seus fãs. Apesar de algumas faixas daquele álbum serem um pouco preguiçosas ou até mesmo desinteressantes, o trabalho mostrou um futuro promissor para a banda. Mas parecia que todos esses últimos anos foram um mero treino para o que veio a se tornar o melhor álbum do Weezer em mais de uma década, o (popularmente conhecido como) White Album.

Primeiramente vale a pena ressaltar que, do ponto de vista técnico, tudo nesse álbum parece estar no ponto certo. Tanto a mixagem quanto os instrumentos estão muito polidos e, com um tom californiano constantemente presente nas músicas, o disco consegue fluir naturalmente com facilidade e parece até mesmo acabar muito antes do que deveria.

A faixa de abertura, “California Kids”, ajuda a estabelecer o tema do disco, e já mostra Rivers Cuomo em sua velha forma. O refrão dessa canção se destaca muito, o que acaba acontecendo em várias outras músicas do disco, como em “Do You Wanna Get High?” ou mesmo na lenta balada “(Girl We Got A) Good Thing”.

Eu entendo que até mesmo em sua pior época, o Weezer já fazia refrães sólidos, mas o diferencial nesse álbum é simplesmente todo o resto da estrutura musical: além dos arranjos estarem com o mesmo tom power pop remanescentes dos seus primeiros álbuns de estúdio, as letras como um todo demonstram uma dimensão à parte para a banda.

Esse é o caso de “King of the World”, linda canção onde Rivers fala sobre a infância e os medos de sua esposa, ao mesmo tempo em que reforça a ideia de que sempre estará lá para fazê-la se sentir feliz. A escrita de Rivers está consistente e impressiona em várias faixas, como em “Wind in Our Sail” e a fortíssima “Thank God For Girls”. Inclusive, o modo como o vocalista “canta” essa última é sensacional — em alguns pontos, Rivers parece até estar mais fazendo um rap do que cantando de fato.

Um dos pontos baixos do White Album é “Summer Elaine and Drunk Dori”, que acaba se saindo como uma música filler, algo que parece só estar lá para cumprir com o tracklist e não tem muito a incrementar num disco que já parece tão completo. Felizmente, esse tipo de sensação é quase inexistente durante o restante do álbum, que combina três excelentes faixas.

A primeira delas é “L.A. Girlz”, que apesar de parecer meio bobinha no seu refrão apresenta versos muito bem escritos e difere bastante do resto do disco na sua melodia, lembrando — e muito — “Holiday”, canção do primeiro álbum do grupo. “Jacked Up” é mais um dos pontos altos do White Album, com uma letra melancólica sobre azar no amor e uma base de piano muito bem colocada que completa o resto dos instrumentos, enquanto que a performance vocal de Rivers é extremamente passional.

Por fim, o encerramento com “Endless Bummer” é mais um tom refrescante para quem pudesse estar se sentindo saturado com tanto “hit”. Os arranjos da faixa acústica são perfeitos, e Rivers novamente brilha ao cantar sobre términos de relacionamentos. A minha única reclamação é com o modo como a música termina — a banda dá sinais de que vai fazer um grand finale com todos os instrumentos explodindo e, no fim, usa apenas um solo de guitarra “comportado”. Mas talvez essa seja a intenção do grupo, levando em conta o próprio título da faixa (“Chatice Interminável”, num português meio torto).

Não me entenda mal, o White Album do Weezer não é uma grande revolução no mundo da música. Apesar de bons arranjos, ótimas letras e basicamente apresentar hit atrás de hit, ele não reinventa a roda e não oferece nada único para o cenário. Mas eu acredito que isso nem sempre seja necessário. Às vezes é bom ter alguma banda que, apesar de ser sempre ‘mais do mesmo’, faça seu trabalho bem feito, que seja consistente. E depois de tantos anos parecendo completamente desorientados, “consistência” é definitivamente algo que o Weezer precisava.

Sair da versão mobile