Como todos os outros discos da carreira de Lucinda Williams, The Ghosts of Highway 20 não é um disco simples. Williams escreve e descreve como poucos suas emoções e impressões sobre temas recorrentes na sua discografia, como a religião, o amor e, nesse disco em particular, a sua mortalidade. O 13º disco da carreira de Williams é um atestado de uma mulher que não se envergonha em dividir as cicatrizes e perdas que a vida lhe impôs, condensando seus sentimentos em uma rara sinceridade lírica.
Depois de quase 40 anos de uma carreira de sucesso, a cantora rompeu com a Mercury Records e surpreendentemente deu uma virada (para melhor) em sua carreira. Fundou o selo Highway 20 e lançou em 2014 o álbum duplo Where the Spirit Meets the Bone.
The Ghosts of Highway 20 chega como uma sequência do disco anterior, uma reflexão sobre a vida e os fantasmas que acompanharam Williams pela Highway 20, uma estrada que liga a Carolina do Sul ao Texas, caminho que a cantora percorreu por boa parte da sua vida. Um desses fantasmas é o de Miller Williams, famoso escritor, poeta e pai de Lucinda, falecido em 2015, daí a forte presença da morte no disco. “Até seus pensamentos viram poeira,” ela canta na faixa “Duets”, emprestando uma frase de um dos poemas de seu pai. Em “If my Love Could Kill”, ela desconta toda sua raiva no Alzheimer que levou seu pai embora; enquanto em “Death Came” e “Doors of Heaven”, Williams se rende ao encontro final que todos conheceremos um dia.
O grande mérito de The Ghosts of Highway 20 é a vontade e a capacidade de Williams em explorar uma diversidade de gêneros sem se distanciar das suas raízes. O disco se constrói aos poucos, num crescendo de emoções que chega ao auge nas últimas faixas, como “If there’s a Heaven” repleta de influências de mestre Hank Williams. Assim como toda a obra da cantora, esse álbum, de uma forma metafórica, explora a beleza da viagem, sem se preocupar com destino final.
É um disco para ouvidos atentos e coração forte.