Bananada 2016 surpreende com pequenos detalhes e grandes destaques musicais

O festival aconteceu em Goiânia de 9 a 15 de maio e reuniu artistas de diversos estados. Confira o que rolou de interessante no evento!

Bananada 2016 visto de cima

Se você acompanhou a cobertura que o TMDQA! fez do 18º Festival Bananada pelo Snapchat (tenhomaisdiscos), deve ter percebido que o ritmo dessa última semana foi frenético. Mais de 70 bandas se apresentaram de 9 a 15 de maio, ocupando com o melhor da música independente brasileira diversos espaços em Goiânia.

E se você não acompanhou a cobertura ao vivo, olhou pra foto aí em cima e não entendeu: é a vista superior do Centro Cultural Oscar Niemeyer (local onde foram realizados os três últimos dias do evento) no último dia de shows. E tinha mais gente do que é possível ver ali.

Publicidade
Publicidade

É, esse ano parece que com a maioridade o festival ultrapassou as expectativas tanto na quantidade de bandas quanto de público.

Mas nem só de grandiosidade foi feita a história desta edição do festival. Pequenos detalhes também fizeram uma (grande) diferença. Para os mais ligados às artes visuais, a retomada da discussão de ocupação artística dos espaços urbanos foi um dos pontos altos do evento, com a volta do polêmico mural do Bicicleta Sem Freio por meio de uma projeção.

Uma imagem vale mais do que mil palavras. F*DA ?? @bicicletasemfreio @festivalbananada #bananada2016

Um vídeo publicado por @feermeireles em

Chamaram a atenção também as diversas intervenções colaborativas da exposição Blackbook por todo o festival. Já para os mais acalorados em discussões políticas, a maioria dos shows contou com demonstrações de repúdio ao atual cenário político e a desvalorização das ações de cultura no Brasil. Teve artista gritando que “não vai ter golpe”, teve plateia respondendo em coro, teve faixa de “Fuck Temer” e “Fuck Malafaia” no show do Hellbenders, teve projeção no show do Planet Hemp direcionada a diversos nomes da política brasileira, teve “chuva de lacre” buscando ressaltar a representatividade e o direito de ser diferente no show do Liniker, entre várias outras manifestações.

E no que diz respeito à música, a maior surpresa do festival foi o palco Casa do Mancha, que reproduziu o espaço homônimo já existente em São Paulo. Com estrutura enxuta (bem mais humilde que os palcos principais) mas com uma qualidade de som e apresentações que compensaram a simplicidade da estrutura, o local foi reservado para a apresentação de novos artistas e nomes promissores da cena independente.

A ideia de trazer a Casa do Mancha para o Festival era preservar a característica intimista que o espaço paulistano tem e foi exatamente isso que aconteceu. Com 7 shows marcados previamente, com curadoria feita pelo próprio Mancha, o local recebeu também algumas surpresas inesperadas durante o festival.

Além dos shows surpreendentes de Sara Não Tem Nome, My Magical Glowing Lens, Kastelijns, Vitreaux, Ventre, Wolfgang e FingerFingerrr, que mostraram o talento e a alta qualidade de produção que os músicos independentes têm hoje em dia, rolaram também shows surpresa dos icônicos MQN e de outras bandas como Catavento, Bike, Dogteeth e The Sinks. Apesar de alguns shows terem acontecido simultaneamente com atrações dos palcos principais, o público resolveu apostar em conhecer algumas novidades do cenário nacional e por vários momentos visitou o palquinho, dando uma movimentada interessante no espaço que é novato no festival. E pra quem gostou da novidade: durante um dos últimos shows o Mancha avisou que com certeza vai repetir a parceria nas próximas edições.

Nos shows principais muita coisa também surpreendeu. Os gringos da Yonatan Gat dispensaram a necessidade de um palco, tocando no meio do público com uma das apresentações mais enérgicas do fim de semana. Juçara Marçal não deixou por menos, fez um show com sonoridade mais intimista que o anterior mas com uma presença de palco imponente, com muita potência vocal e músicos de apoio reproduzindo as composições do álbum Encarnado, que inclusive figurou na nossa lista de melhores discos nacionais de 2014. Juçara deu um show visceral ali naquele palco e chamou  a atenção do público que já movimentava o CCON.

Teve ainda um encontro maravilhoso (e inédito) entre a banda Carne Doce e Ava Rocha, que destacou a força e presença da mulher na música brasileira atual. Com duetos das duas cantoras em diversas faixas, o pessoal da Carne Doce conseguiu surpreender o público goiano já cativo e levou calorosos aplausos para casa. No meio do pessoal, o que mais se ouvia eram elogios a respeito da apresentação marcante. Pontuada também por um tom político e de questionamento a valores da sociedade atual, a apresentação contou ainda com a participação especial de um conhecido da banda, que chegou a fugir dos seguranças do local escalando pela estrutura do palco.

Foto: Gustavo Xavier

Na mesma noite teve SIBA, que transformou o local quase que em um carnaval com músicas animadas e uma grande interação (e movimentação) do público. Jorge Ben Jor foi o headliner da noite e fez cerca de duas horas de show (com algumas falhas técnicas em sua guitarra) e inseriu muito hits no repertório como “Jorge da Capadócia“, “Salve Simpatia“, “Fio Maravilha“, “País Tropical” e “Taj Mahal“. Jorge fez valer a espera até altas horas da madrugada por seu show e fechou com chave de ouro a primeira noite do festival com muito carisma, participação efusiva do público e inclusive com a contribuição empolgada de parte dele em cima do palco no fim da apresentação.

Foto: Pedro Margherito

Já no sábado, Riviera Gaz se apresentou ainda cedo mas chamou bastante a atenção com um som noventista que trouxe um pouco das raízes rock do festival com uma performance interessante e bem divertida. A banda é resultado do encontro surpreendente entre membros do grupo brasileiro Forgotten Boys e Steve Shelley, baterista do Sonic Youth. Felipe Cordeiro também se apresentou no sábado, com uma sonoridade exageradamente misturada que reúne o ritmo paraense a influências latinas como a cúmbia, zouk, reggaeton, bachata e cacicó. Felipe colocou todo mundo para dançar, fazendo quase o mesmo que SIBA fez na noite anterior.

E o maior destaque da segunda noite foi, com certeza, o show de Liniker. A cantora (no feminino mesmo, é como prefere ser chamada) abordou temas como a liberdade de gênero e de expressão e com sua voz impressionante e composições com influências estéticas que passam pela soul music, samba e até mesmo um pouco de pop, o paulista seguiu com sua missão de desconstruir preconceitos e estereótipos através de sua música e performance no palco, como já vem fazendo em diversas apresentações. A plateia cantou junto em todas as músicas e mostrou bastante entusiasmo em cada canção. Durante o show o artista disse que volta a Goiânia em breve e, pela recepção do público, deverá ser mais uma apresentação memorável.

O Bananada este ano deu espaço para o ritmo eletrônico também, com os mashups de Omulu (RJ) e os DJ’s Anderson Noise (MG), Renato Cohen (SP) e Mau Mau (SP) fechando a segunda noite do evento. Parte do público gostou da inserção do ritmo na programação, apesar do local já contar com um número bem reduzido de pessoas se comparado com os outros dois dias de evento, dando a entender que pelo menos boa parte do público ainda prefere ir aos eventos pare ver bandas ao invés de discotecagem.

No domingo, o rock esteve mais presente na programação, com Molho Negro (PA) e Autoramas (RJ) como bons representantes do gênero. The Helio Sequence foi a única atração internacional da noite, fruto de uma parceria do festival com a Sub Pop, fazendo o rock voltar ao festival com força total mais uma vez. Alternando composições de sonoridade mais pop com outras faixas mais pesadas e com refrães certeiros, o duo americano agradou o público e o vocalista chegou a gritar um “Fuck Temer!” de cima do palco.

E a banda Hellbenders mostrou que continua atraindo um grande público para seus shows, confirmando o bom aceitamento de seu novo disco Peyote, que foi gravado no Rancho de La Luna e lançado recentemente, mas já estava na ponta da língua da plateia que seguiu cantando empolgada e fazendo vários moshes durante o show. Com uma apresentação agressiva, o local do evento teve a parte da frente do palco praticamente lotada para conferir o stoner rock dos goianos.

A atração final do festival foi o Planet Hemp , que com seu discurso político e composições polêmicas, voltou a Goiânia depois de 19 anos. Contando com BNegão e Marcelo D2 na formação que se apresentou no festival, os cariocas tinham ao fundo do palco uma imagem do Planalto Central que posteriormente foi substituída por palavras de ordem contra diversos nomes da política brasileira. A apresentação explodiu, tanto no palco quanto na resposta do público que lotava a esplanada do Centro Cultural Oscar Niemeyer. No repertório, faixas como “Procedência C.D.“, “Ex-Quadrilha da Fumaça“, “Legalize Já“, “Raprockandrollpsicodeliahardcoreragga” e “Maryjane“.

E as surpresas da música não ficaram restritas apenas ao fim de semana. Várias bandas goianas e artistas de outros estados tiveram espaço o festival também durante a semana no “Bananada nas casas”, que apresentou showcases interessantes de várias produtoras em palcos distribuídos pela cidade com as bandas Dogman (GO), Dry (GO), Overfuzz (GO), Almost Down (GO), Sheena Ye (GO), Catavento (RS), Cuscobayo(RS), Hell Oh (RJ), Bang Bang Babies (GO), Components (GO), Institution (SP), Trivoltz (GO), Lutre(GO), Taunting Glaciers (SC), João Canta Brandão (GO), Thiago Pethit, Mahmundi e Bruna Mendez, além de artistas que voltaram a se apresentar durante o fim de semana como Supercordas, Hellbenders, Mahmed e Liniker. Foram apresentações simultâneas, mas que atraíram para diversas partes da cidade um público bastante interessado e aumentou mais ainda a representatividade do festival na cidade, como um forte agente de ocupação artística.

Além de tudo isso, este ano a organização focou em outros detalhes importantes, como o aumento do número de caixas (o que melhorou um pouco o problema com filas que aconteceu no ano passado) e a criação de um espaço específico para as crianças (o Meninada no Bananada) onde os pequenos participaram de diversas atividades educativas e tiveram até a oportunidade de brincar com instrumentos de verdade, plugados em amplificadores e tudo.

Em resumo, a produção do Bananada 2016 está de parabéns. Surpreendeu em diversas áreas e com uma curadoria pra lá de interessante manteve a pluralidade do ano passado mostrando os diversos gêneros que estão se destacando na produção musical brasileira e atingindo uma plateia mais ampla indo além do habitual público alternativo.

Confira abaixo uma galeria de fotos que foram tiradas durante o Festival:

Sair da versão mobile