Fotos por Matheus Pileggi
À uma da manhã da madrugada do dia 6 de maio, o termômetro chegava a marcar 11 graus em Ponta Grossa, na região dos Campos Gerais do Paraná. Nada que incomodasse muito o sulista acostumado ao frio do meio do ano, mas certamente o tipo de clima ao qual uma noite calorosa viria a calhar. Para a maioria da população, cobertores e o conforto da cama foram a pedida natural; já no caso de algumas dúzias de jovens, era hora de tomar um vento na fila da Rusty Lounge, no centro da cidade. O calor viria ao entrar na ‘casa’ que, naquela noite, se faria tão acolhedora quanto os lares familiares.
É verdade que o show da turnê comemorativa pelos 15 anos – hoje, 17 – da Fresno não chegou nem perto de lotar; nas vendas antecipadas, dois dos quatro lotes de ingressos ainda estavam com suas cargas disponíveis. Problema nenhum para a banda gaúcha de tempero nordestino: com apenas poucos minutos de atraso o quinteto subiu ao palco, rapidamente saudou o público e deixou a canção “À Prova de Balas” fazer 200 soarem como mil e isolarem o local de qualquer resquício de temperatura amena.
Houve quem preferiu decorar o setlist da turnê antes para fazer bonito na hora, como uma fã gritando “Die Lüge!!” ao fim da canção de abertura, avisando qual seria a próxima. A maioria, porém, delirava como se pega de surpresa por cada anúncio do vocalista Lucas Silveira ou do guitarrista Vavo Mantovani, os dois remanescentes da formação original da banda e, consequentemente, ‘diretores’ do espetáculo, tanto nas vozes quanto na presença de palco.
Não que o tecladista Mário Camelo, o baterista Thiago Guerra e o baixista Tom Vicentini fossem coadjuvantes – pelo contrário. A química do quinteto resultou em músicas mais enérgicas que as versões gravadas, e o show seria impecável não fossem alguns problemas técnicos, espalhados ao longo de toda a performance. Em certo momento, a microfonia obrigou Lucas a abortar uma música, pedir desculpas ao público, e recomeçar.
Quem optou por ficar ‘no escuro’ quanto às músicas selecionadas para o show pode ter lamentado a falta de alguns dos maiores sucessos da Fresno, como “Polo” e “Alguém Que Te Faz Sorrir”, além de populares faixas do começo da carreira do grupo, a exemplo de “Stonehenge”. Mas cada uma das 17 escolhidas fluiu com naturalidade, alternando pop rock contido e envolvente (“Desde Quando Você Se Foi”, “Eu Sei”) e hinos carregados em grande parte pelo público (“Diga, Parte 2”, “Cada Poça Dessa Rua Tem Um Pouco de Minhas Lágrimas”, “Porto Alegre”). Ainda deu pra dançar com “Minha História Não Acaba Aqui” e esconder o choro com a nostálgica “Quebre As Correntes”.
Ao preterir faixas dos dois primeiros discos, Quarto dos Livros (2003) e O Rio, A Cidade, A Árvore (2004), em favor dos mais recentes Redenção (2008), Revanche (2010), Infinito (2012) e o EP Eu Sou a Maré Viva (2014), a banda conferiu maturidade e coesão à performance e demonstrou estar mais do que nunca com os dois pés no rock alternativo, ocasionalmente pisando em alguma nova influência externa que estiver passando por ali. Ao encerrar com “Revanche”, a Fresno viu o coro de “não há mais nada a dizer” que termina a música se misturar a gritos de êxtase, gratidão, e anseio por mais. De repente aquele frio do começo foi embora…
A turnê comemorativa se encerra neste mês, dando lugar a outra série de shows celebratórios – agora pelos dez anos do Ciano, disco que colocou o grupo no radar do país. As excursões devem se alongar mais um pouco, mas os caras disseram pra gente antes do show que já estão compondo o novo disco há bastante tempo. Ficou curioso? A nossa entrevista com a banda será publicada nos próximos dias, fique de olho!
Setlist:
- À Prova de Balas
- Die Lüge
- Manifesto
- Minha História Não Acaba Aqui
- Desde Quando Você Se Foi
- Eu Sei
- Redenção
- Diga, Parte 2
- Eu Sou a Maré Viva
- Cada Poça Dessa Rua Tem Um Pouco de Minhas Lágrimas
- Porto Alegre
- Milonga
- Infinito
- Acordar
- Maior Que As Muralhas
- Quebre As Correntes
- Revanche