Entrevistas

Atalhos fala sobre novo disco em entrevista e libera demo inédita

Os rumos que a banda toma neste trabalho, o conceito do disco, participações especiais e posicionamento político da banda são alguns dos temas abordados

Atalhos fala sobre novo disco em entrevista e libera demo inédita

Já falamos diversas vezes aqui no TMDQA! sobre a banda paulista Atalhos. Após o excelente Onde A Gente Morre, de 2015, o grupo agora finaliza as gravações de Animais Feridos, terceiro disco de sua carreira.

Para fechar os trabalhos do último disco e seguir com a nova empreitada, a banda divulgou a versão demo da faixa “Ínsula”, que pode ser ouvida com exclusividade ao fim desta publicação.

Em uma conversa com o vocalista Gabriel Soares, o músico divulgou alguns detalhes do registro, que tem previsão de lançamento para Agosto. Os rumos que a banda toma neste trabalho, o conceito do disco, participações especiais e posicionamento político da banda são alguns dos temas abordados. A entrevista pode ser lida na íntegra logo abaixo.

TMQA! – O que a gente pode esperar do sucessor de Onde a gente morre? Sobre o que é o registro?
Gabriel Soares – O Onde A Gente Morre foi um disco de ruptura essencialmente, um trabalho que queríamos deixar claro um rompimento com a estética vulgar e padronizada do primeiro disco (Em Busca do Tempo Perdido). Foi um trabalho que, pela primeira vez, tivemos o controle total da produção e das escolhas artísticas, e até por isso nós consideramos como se fosse nosso primeiro disco de verdade. Já esse novo trabalho representa não uma ruptura, mas uma certa continuidade no padrão estético que encontramos pro nosso som.

TMDQA! – Quais são os pontos em comum e as diferenças entre o trabalho anterior e esse?
Seguimos explorando o estranhamento e o experimental mas também buscamos a simplicidade das canções em si, a intensidade honesta da melodia, da letra, e até da brevidade; o disco terá oito faixas, em contraste com o anterior que era um vinil duplo com doze músicas e somava quase uma hora e quinze de duração.

TMDQA! – Como foi a gravação do álbum? Há alguma participação especial?
A gravação está na parte final, só faltam alguns últimos arranjos a serem gravados. Gravamos metodicamente da mesma maneira que o anterior, ou seja, eu levava as composições inéditas, sem o resto da banda conhecer, e a partir da gravação das guias do meu violão nós todos começávamos a arranjar e a definir a estrutura das músicas.
Resolvemos ter apenas duas participações no álbum: Thiago Klein tocando piano, teclado e synths em diversas faixas, e Eduardo Praca, tocando guitarra numa das faixas, os dois do Quarto Negro, banda que gostamos desde há muito tempo. Desde o começo do ano estou tocando bateria pra eles, participando das turnês, tocando em palcos importantes como o Bananada de Goiânia, o Primavera Sound em Barcelona etc, enfim, tenho amadurecido bastante musicalmente com essa experiência e a participação deles no disco é até uma forma de retribuir esse carinho e amizade, além de materializar influencias artísticas que temos trocado nesse tempo.

TMDQA! – Em toda a divulgação de Onde a gente a morre dá para ver que o visual é muito importante para a composição do conceito do álbum. Os clipes, por exemplo, são primorosos. Nesse disco isso também acontece?
Sim, a gente acredita muito que essa coisa do ‘conceito’ extrapola os cuidados que temos na produção, gravação, mixagem e masterização, ou seja, da parte audível do material, e também se estende aos vídeos, fotos etc., enfim, a tudo que diz respeito a imagem da banda. O grande esforço está em tentar transmitir uma imagem mais próxima da verdadeira, ou seja, daquilo que exatamente somos, das coisas que gostamos e que nos influenciam, especialmente quando falamos de filmes e livros, algo que fica mais evidente nos videoclipes.

TMDQA! – Vocês sentem falta de posicionamento político na classe artística? Como analisa a participação de artistas em pautas importantes no desenvolvimento social brasileiro?
Na verdade não sinto falta, acredito que a classe artística brasileira já é e deve continuar sendo participativa nas pautas políticas. Só acho meio complicado usar o objeto artístico, no caso a banda, pra fazer posicionamentos políticos. Eu por exemplo, voto no PT, sou de esquerda e tenho minhas posições políticas, uso meu único perfil pessoal de rede social (Facebook) pra falar sobre política quando tenho vontade, mas acho que associar o trabalho da banda a algum posicionamento político é um erro. O material artístico é sempre apolítico, mesmo quando o tema é a política, mesmo quando se usa a arte pra criticar, pra se revoltar, pra transgredir, pra provocar, pra denunciar. Por outro lado, acredito que o artista, a pessoa, pode sim e deve se posicionar. Por exemplo, recentemente o diretor Kleber Mendonça e a equipe do filme Aquarius deram uma excelente demonstração na oportunidade que tiveram em Cannes de denunciar o golpe bizarro que está acontecendo no Brasil. Isso torna o filme, a obra deles, o material artístico, um filme de panfleto de esquerda, um filme viciado pela política? Obvio que não. Só quem é ridiculamente míope e estreito não consegue separar uma coisa da outra.

TMDQA! – Vocês tem mais discos que amigos?
Falando por mim, acho que não. Acho que tenho mais amigos que discos. Mas certamente só alguns discos podem apaziguar minha mente quando me sinto absolutamente sozinho e sem nenhum amigo.