Resenha: Pierce the Veil - Misadventures

Banda de post-hardcore busca aperfeiçoar sua sensibilidade pop em álbum mais acessível, mas menos empolgante da carreira

Resenha: Pierce the Veil - Misadventures

“Tempos desesperados e medidas desesperadas”. Essa expressão começa o refrão de uma das faixas de Misadventures, aguardadíssimo quarto álbum do Pierce The Veil, e parece vir a calhar no momento. Seja por impulso criativo ou por possível “recomendação” da gravadora – independente, mas repleta de potenciais minas de ouro em seu catálogo -, o quarteto preferiu não arriscar e recompensou a espera de quatro anos dos fãs com um trabalho de fácil consumo e digestão, mas que não deve deixar grandes marcas.

Com musicalidade muito mais criativa que seus contemporâneos, a banda californiana se destacou no cenário do post-hardcore pela sua combinação de peso e acessibilidade: seu maior hit, “King For a Day”, alcançou dezenas de milhões de visualizações no YouTube e se tornou um dos maiores sucessos a saírem da cena da Warped Tour mesmo sendo uma das faixas mais frenéticas de Collide With The Sky, o ótimo antecessor do novo, mais contido e menos empolgante, álbum de estúdio dos californianos.

Vamos, então, a Misadventures: enquanto verdadeiras porradas como “Texas is Forever” e “Today I Saw The Whole World” sinalizam a manutenção de boas qualidades demonstradas anteriormente pelo quarteto – riffs viscerais, troca incessante de ritmo na batida, e letras que conseguem se conter no quesito ‘forçação de barra’, do qual a banda é campeã -, “The Divine Zero” carrega versos insossos que se quebram em um refrão fraco, da melodia branda aos efeitos computadorizados nas guitarras, ainda mais presentes e desnecessários durante a ponte.

No lado pop da coisa, pouco mudou. “Floral & Fading” é a tradicional “balada do adolescente de classe média que gosta de fingir viver em um filme de romance caótico”, desempenhando o mesmo papel (e reciclando o conceito) de “Props & Mayhem” e “Bulletproof Love”, de álbuns anteriores. Vá dizer se o verso da ponte (“Feche seus olhos / imagine eu e você / vendendo a luz do dia / por gasolina”) não parece feito exclusivamente para legendar centenas de fotos no Tumblr! Já o provável próximo single “Circles” se apoia numa estrutura básica repleta de power chords, alguns “woah-oh oh woah-oh oh”, e instrumentação pouco inspirada. O resultado final é seguro demais para se destacar dentro do álbum, tendo chances quase nulas de impactar as rádios.

Aos até aqui preocupados, calma: o álbum traz, sim, boas notícias consigo. A suplicante “Gold Medal Ribbon” tem um quê de anos 80, e o groove de “Sambuka” só peca por ser curto demais. Para compensar a previsibilidade do resto da obra, “Bedless” carrega boa dose de experimentação em uma espécie de ópera-rock, e a faixa de encerramento “Song For Isabelle” fica em um respeitável segundo lugar entre os quatro números finais do Pierce The Veil. Fica difícil, contudo, não retomar a comparação com o álbum anterior quando estas duas músicas são superadas com facilidade por suas ‘irmãs’ mais velhas – “Tangled In The Great Escape” e “Hold On Till May”, respectivamente – dentro de suas propostas.

Este é um álbum acessível, daqueles a serem tocados à exaustão por uma semana; algumas das músicas aqui têm toda a chance de resistirem ao teste do tempo e estarem entre as preferidas dos fãs ao longo dos próximos anos. Mas quando o assunto é o disco como uma peça inteira, o resultado não é dos mais proveitosos: enquanto as faixas pesadas abastecem o catálogo de acertos, flertes com o pop como “Circles” ainda são pesados demais para o mainstream. Eventualmente, o álbum esgota suas reservas qualitativas e dá lugar ao impulso de revisitar Collide With The Sky, dono de melodias mais marcantes e musicalidade mais envolvente enquanto híbrido de pop punk e post-hardcore.

Em termos simples, Misadventures não é aquele álbum que define uma carreira – a “cara” do Pierce The Veil. A banda segue como promessa prestes a se realizar – tentando fazer os últimos parafusos se acertarem dentro de seu sistema, com resultados mistos. Se ainda está permitido ficar com o riff de “Today I Saw The Whole World” na cabeça? Não tenha dúvida.

https://www.youtube.com/watch?v=sjhHy2Wi3hU