por Raphael Dias
No último fim de semana foi dada a largada a temporada de festivais da Europa. Agora que venham Sonar, Roskilde, Glastonbury, Pinkpop, Open’er, Montreux e muitos, muitos outros.
Mas antes deles, falemos de Primavera Sound: o Parc Del Fórum, em Barcelona, foi a meca, recebendo a migração de diferentes nacionalidades da Europa, além de latino americanos. Com ingressos esgotados há mais de dois meses, muitos se plantavam na porta em busca de entradas de última hora.
A grande expectativa era presença do Radiohead e sua nova turnê, os primeiros ingressos a esgotarem. A banda liderada por Thom Yorke teve performance impecável, apenas prejudicada pelo tamanho do local. Fãs que não conseguiram assistir de um bom local sofreram com o som oscilante, conversas e burburinho de parte do público que estava ali apenas para curtir o ambiente. Além dos ingleses, como headliners tivemos LCD Soundsystem, Brian Wilson e Sigur Rós (estes em sua primeira turnê com um trio), que fizeram grandes shows e não deixaram a desejar.
Mas o que olhos desatentos não vem, o que poucos sabem, é tudo que acontece além dos palcos principais. A área do festival se estende por mais 8 palcos só no Parc Del Fórum, sem falar nos palcos espalhados pela cidade de Barcelona. Até mesmo grupos brasileiros como O Terno, Mahmed, Quarto Negro, Nuven e Aldo, The Band se mostraram para aqueles curiosos. Até mesmo o icônico Bob Mould, passeando por palcos menores se mostrava interessado por coisas novas.
Sim, o Primavera Sound é assim, quando você menos esperava, cruzava com aquele seu ídolo ali, assistindo à mesma banda “underground” que você achou que quase ninguém gostava.
Antes de sua apresentação no Auditório Rockdelux, o inglês Richard Dawson sentava na plateia trocando ideia rapidamente com fãs: “ops, tenho que ir, em 10 minutos começo tenho que me apresentar”.
O festival marcou a volta do Avalanches, lançando seu segundo disco após um hiato de 16 anos, e o Lush com apresentação fechada. Teve corrida para fila para buscar os limitados ingressos: em torno de 300 entradas distribuídas em menos de 20 minutos assim que abriram os portões do Parc Del Fórum.
Saindo do cenário indie-alternativo-rock, o saxofonista norte-americano Kamasi Washington foi o grande protagonista, com uma apresentação épica. A fila do Auditório Rockdelux também foi grande, o público ficou de pé e se recusou a sentar, dançando ao som de solos de sax e duelos de bateria. Kamasi mostrou que aquela Primavera vai muito além do que um look produzido para desfilar ao som de três acordes.
O lado ruim fica com as áreas vips em frente aos palcos principais, inexistentes em festivais como Coachella, Lollapalooza e Rock in Rio, que dificilmente lotavam e dificultavam o acesso para o público portador de ingressos normais.
Além de concorridos palcos e inusitados achados, tem muito mais. Uma série de painéis e palestras acontecem, encontros que discutem música. Mídias digitais, audiovisual, tudo se encontra para debater e apresentar tendências, soluções para um mercado em constante mutação. Ali também teve Brasil, com uma apresentação das políticas públicas de incentivo ao mercado musical brasileiro e de incubadoras musicais. Falando disso, seguindo o que já foi visto em Cannes, cartazes “Fora Temer” e “Ocupa Minc” também foram vistos na capital catalã.
Se olharmos para o Primavera Sound e muitos dos outros festivais que vemos no Brasil e em outras partes do mundo, fica esse aprendizado: que tais eventos podem ser muito mais do que uma banda subindo a um palco. Todas essas palestras, workshops e painéis apresentados oferecem um intercâmbio perfeito para aqueles que realmente querem conectar com o mercado musical e o que está acontecendo no mundo. Talvez o que falte um pouco aqui no Brasil, o mercado musical se ver e pensar com um coletivo e não individual, em todas as nuances e agentes que participam de sua produção, do começo ao fim. O grande ponto é que o Primavera não é um festival de música, é um festival SOBRE música.