Textos e fotos por Eduardo Nogueira, Rakky Curvelo e Stephanie Hahne
O João Rock leva em sua história o mérito de ser um dos maiores festivais de rock nacional do país. Na edição comemorativa de 15 anos e com um palco inteiro dedicado aos primórdios do festival, o Parque Permanente de Exposições recebeu 50 mil pessoas que esgotaram os ingressos poucos dias depois do anúncio das vendas. Se foi para ver CPM 22 de novo – a banda completa 3 anos consecutivos no line-up do festival e também estava na primeira edição, além de ter tocado em algumas outras –, para se encantar e se encher de orgulho com o palco Fortalecendo a Cena ou para prestigiar o rock brasileiro, marca registrada do festival, não se sabe. O que dá pra dizer com certeza é que o grande público que se espalhava pelo espaço ampliado disponível pelo evento aprovou a pontualidade britânica de quase todos os shows e soube aproveitar o espaço extra e as já tradicionais mudanças de temperatura de Ribeirão.
Palco João Rock
Localizado no espaço principal do Parque Permanente, o Palco João Rock trouxe, além da banda vencedora do tradicional concurso de bandas do festival, os garotos do Vigariztas, as principais atrações da noite. A troca de palcos, com estruturas que ficavam praticamente do lado da outra, colaboraram para a pontualidade dos shows, que no máximo, tiveram 5 minutos de atraso (se muito) entre um e outro.
Outro benefício da proximidade dos palcos foi a possibilidade de agendar encontros históricos, como o do Os Paralamas do Sucesso com o Nação Zumbi, e deixar outros acontecerem naturalmente, como o de Black Alien com D2 e BNegão. Ponto pra organização!
Palco 2002
Em comemoração aos 15 anos da primeira edição do João Rock, a organização criou o Palco 2002 e chamou apenas a galera que tocou por lá naquele ano, na época para “apenas” 18 mil pessoas, para compor o lineup. Abrindo com Cidade Negra, passando pelo IRA! e CPM 22, e encerrando com Titãs, este foi um dos palcos mais lotados do evento e levou um público de todas as idades para conferir as bandas tocando seus clássicos e novas músicas.
A localização, bem no meio do parque, trouxe como vantagem a possibilidade de correr de um palco para outro para aqueles que não quiseram esperar por atrações confirmadas ali e ao mesmo tempo o incômodo do vazamento de som do palco que ficava logo à frente, o Fortalecendo a Cena, mas não foi nada desesperador.
Palco Fortalecendo a Cena
Uma das grandes novidades dessa edição foi a criação do palco Fortalecendo a Cena. Abrir espaço para bandas mais novas era um respiro necessário para o João Rock e, com um lineup como o selecionado, fica impossível não dar aprovação de 100% para a organização do evento. As próprias bandas, em entrevistas que vocês vão acompanhar por aqui ao longo dessa semana, elogiaram a iniciativa.
A banda paulistana Marrero não apenas inaugurou essa novidade, como também abriu a edição 2016 do festival, começando a atrair aqueles que já chegavam ao local. Passaram também por lá Far From Alaska, Supercombo, Dona Cislene e Scalene.
Os shows que o TMDQA! viu
Festival é festival, né? Enquanto corríamos feito loucos no meio do Parque para trazer o melhor conteúdo para vocês, conseguimos admirar algumas obras primas que tocaram pelo João Rock. Dá uma olhada no que a gente recomenda dessa aventura!
Far From Alaska
Segunda banda a tocar no palco Fortalecendo a Cena, já no começo da noite de Ribeirão Preto, o Far From Alaska mostrou que seu público o acompanha em todo lugar: era quase impossível passar pelos fãs para chegar um pouco mais perto do palco quando Emmily Barreto e companhia tocavam os primeiros acordes de “Thievery”, decoradíssima pelos fãs que se apertavam na grade para ver aquelas cinco criaturas mais de perto. O decorrer do show mostrou que a banda podia confiar no público do interior, que cantava, gritava e reagia a cada uma das brincadeiras do quinteto. O grupo explorou músicas do primeiro disco, na ponta da língua dos fãs, como “Politiks”, “Dino vs Dino” e “Monochrome”.
Show do #FarFromAlaska no #JoaoRock foi FODA! Entrevista em breve no http://tmd.qa Uma foto publicada por Tenho Mais Discos Que Amigos! (@tmdqa) em
É claro que a zueira não tem limites e, já no final da apresentação, rolou uma pequena invasão no palco. Com o lineup só formado por amigos, outras atrações que tocariam mais tarde por ali invadiram a apresentação no meio de “Communication”, inserindo pandeiros, mais backing vocals, umas batidas aqui e ali na bateria e bastante alegria. Era a galera da Dona Cislene, do Scalene e do Supercombo, as duas últimas bandas com as quais o Far From Alaska tem músicas em parceria. Mas as apresentações ao vivo de “Relentless Game” ou “Surrendo” não aconteceram, apesar das expectativas.
Conversamos com a banda depois do show para saber um monte de coisas e esse papo sai por aqui ainda essa semana, então fica ligado, hein?
Nação Zumbi
As pistas premium e comum do palco João Rock, que se dividiu em dois e era o maior do evento, ainda estavam tímidas quando o Nação Zumbi tomou o palco esquerdo às 17h30. Com o sol se pondo e o público chegando ao local, a trupe de Jorge Du Peixe iniciou a apresentação grandiosa com o clássico “Maracatu Atômico”, e já deixou claro que o show seria uma grande celebração da vida do saudoso Chico Science.
Misturando hits antigos com atuais, o Nação foi responsável por empolgar o público que crescia cada vez mais por ali, e arrancaram lágrimas ao homenagear David Bowie tocando uma versão ótima da canção “China Girl”, algo que eles fizeram no último Cultura Inglesa Festival e deu muito certo. Apesar de tocar em um horário de menor destaque na edição deste ano, o Nação Zumbi entregou uma apresentação memorável no João Rock.
Os Paralamas do Sucesso
Enquanto o Nação Zumbi encerrava sua apresentação no lado esquerdo do palco João Rock, a parte direita da estrutura já estava sendo preparada para um dos shows mais esperados do festival. Os Paralamas do Sucesso estão em turnê celebrando os clássicos da carreira de mais de 30 anos, e em uma apresentação redonda e repleta de momentos emocionantes, a banda fez um público já bem maior cantar em coro diversos hits. Músicas como “Aonde Quer Que Eu Vá” e “Cuide Bem do seu Amor” embalaram os casais espalhados pelas duas pistas, e hits como “Meu Erro” e “Uma Brasileira” animaram a plateia aglomerada para ver os caras. Perto do fim da apresentação, o Nação Zumbi voltou ao palco João Rock para cantar os clássicos “Manguetown” e “Que País é Esse?” com Herbert Viana e companhia, e fizeram uma das várias críticas ao cenário político brasileiro que rolou no festival.
Nando Reis
Outra atração mais que obrigatória do João Rock, Nando Reis trouxe seu repertório já decorado pelos fãs interioranos para encher de violões e de romantismo a noite que já caia no interior. O músico, que não se apresentou com os Titãs – apesar dos boatos que rolavam a esse respeito durante todo o dia no festival – trouxe grandes sucessos da carreira solo e de parcerias com outras bandas. No set, as obrigatórias “Luz dos Olhos”, “Sou Dela”, a titânica “Os Cegos do Castelo”, a dobradinha de “Relicário” com “All Star” e o choro comovido de quem nunca vai deixar de lembrar de Cássia Éller ouvindo essas canções e o final com “Do Seu Lado”, consagrada na voz do Jota Quest, fizeram um show sem altos nem baixos, mas que garante sempre um lugar no coração dos fãs do ruivo.
#NandoReis no #JoaoRock! @nandoreis @festivaljoaorock Um vídeo publicado por Tenho Mais Discos Que Amigos! (@tmdqa) em
IRA!
Para a alegria dos fãs mais velhos e mais novos, o IRA! continua forte após a volta em 2013. Tomando o palco 2002 às 19h10, com um público majoritariamente jovem, o grupo liderado por Nasi e Edgar Scandurra provou para a plateia e para si mesmo que o rock nacional respira bem, e que as bandas clássicas dos anos 80 ainda demorarão um bom tempo para serem esquecidas.
Hits como “Dias de Luta”, “Eu Quero Sempre Mais”, “Núcleo Base” e “O Girassol” fizeram a plateia cantar em coro durante toda a apresentação. Ao perceber que a juventude reunida por ali sabia tinha todas as canções na ponta da língua, Scandurra brincou: “Vocês são mais afinados que seus pais”. O IRA! encerrou a apresentação com o clássico “Envelheço na Cidade”, um dos pontos altos do festival.
Supercombo
Com um público mais jovem ali presente, o Supercombo agitou do começo ao fim. O quinteto demonstrou bastante empolgação em sua estréia no festival, interagindo com o público. Músicas como “Campo de Força”, “Se Eu Quiser” e “Amianto” rechearam o repertório, durante os 50 minutos de apresentação no palco Fortalecendo a Cena. A banda também aproveitou a presença no evento para executar pela primeira vez ao vivo seu novo single, intitulado “Rogério”. O grande momento do show, sem dúvidas, foi nos instantes finais, quando o grupo cantou o seu maior hit, “Piloto Automático”. Com um coro único, o quinteto contou com a presença de outras atrações que, assim como eles, também estavam fazendo suas estreias ali. A entrada de Scalene, Far From Alaska e Dona Cislene pulando no palco mostrou o momento mais memorável da apresentação, com essa união entre essas bandas, que ganham cada vez mais evidência dia a dia.
CPM 22
Às 21h, vinte minutos antes do início da apresentação, o público reunido na frente do palco 2002 pra ver o CPM 22 já era gigantesco. E não é pra menos: os caras são uma das bandas de hardcore brasileiro mais consolidadas da cena, com 20 anos de carreira, e arrastam multidões por aí até hoje. Tocando clássicos como “Um Minuto Para o Fim do Mundo”, “Regina Let’s Go”, “Irreversível” e “Tarde de Outubro”, a banda fez todo mundo cantar e pular até o fim, com direito até a roda punk na pista. Um dos pontos mais interessantes da apresentação foi o trechinho que o grupo tocou de “Detroit Rock City”, do Kiss, e uma cover de “Three Little Birds”, de Bob Marley, acompanhada em coro pela plateia.
#CPM22 no #JoaoRock! Teve Live no Facebook, se liga: /tenhomaisdiscosqueamigos @cpm22oficial @festivaljoaorock Um vídeo publicado por Tenho Mais Discos Que Amigos! (@tmdqa) em
Conversamos com a banda após o show sobre novo álbum, projetos paralelos e turnê atual, então fique ligado aqui no TMDQA! para conferir a entrevista em breve.
Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá – Legião Urbana XXX anos
Um dos shows mais esperados da noite era o de uma dupla de senhores que também comemoravam 30 anos de carreira. Se a ausência sempre dolorida de Renato Russo dá à Legião Urbana um saudosismo difícil de não emocionar, a presença do declarado legionário André Frateschi em cima do palco dá a alegria que os fãs precisavam. Iniciando o espetáculo com seu toque particular, a intro de “Space Oddity”, Frateschi, conhecido na noite paulistana por suas interpretações de David Bowie, sequer tentou se comparar a Russo: ele é um fã, que sabe que todos aqueles embaixo do palco sabiam o que ele sentia ali em cima, porque são semelhantes a ele – apaixonados pela Legião. Com “Será” seguida de “Soldados” o show curto ganhou clima de protesto, já que trouxe apenas músicas lá do final dos anos 80 que não poderiam ser mais atuais.
Brincando, pulando e interagindo com o público, Bonfá e Dado também sabiam que a noite era deles. Dado, que se dirigiu ao público para dizer que era maravilhoso estar ali celebrando tanto tempo da banda da vida dele e perceber que ainda havia gente para ouvir suas músicas, e emendando “Tempo Perdido” para ouvir um coro gigantesco gritar que “Somos tão joooooveeeennnnssss” e Bonfá, que se sentou na beira do palco para admirar o mar de gente que cantou com ele que “É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã”, na consagrada “Pais e Filhos”.
O fim do show trouxe “Faroeste Caboclo”, amada e odiada por muitos já que, apesar de ser quase obrigatória, rouba o tempo de 3 outras canções e fica complicada para um set de festival, e claro, “Que País É Esse?”, que já havia sido apresentada pelos Paralamas, mas que não custa repetir, não é mesmo?
Titãs
Já habitual em seus shows de divulgação do álbum Nheengatu, os caras do Titãs subiram para sua histórica apresentação no Palco 2002 totalmente mascarados, ficando assim durante as primeiras músicas.
O veterano grupo conseguiu lotar as proximidades do palco, tocando seus maiores sucessos, além de músicas mais recentes, que empolgaram por igual a plateia. Uma das surpresas da noite ficou com a participação de Nasi, do IRA!, que cantou com eles a faixa “Sonífera Ilha”, levando os presentes a uma euforia sem fim.
O Titãs levantaram o público com grandes clássicos como “A Melhor Banda Dos Últimos Tempos Da Última Semana”, “Aluga-se”, e garantiram a emoção da galera com a maravilhosa “Epitáfio”.
Scalene
O Scalene já provou que faz música boa e que veio pra ficar na cena rock brasileira, e o show dos caras no palco Fortalecendo a Cena do João Rock só reforçou isso. Com um público consideravelmente grande em frente à estrutura, Gustavo Bertoni e companhia aqueceram a noite já muito fria de Ribeirão Preto ao som de músicas como “Sublimação”, “Surreal”, “Entrelaços” e gritos dos fieis fãs que tomavam o local.
Planet Hemp
Depois de uma participação pra lá de especial no finalzinho do show do Black Alien, D2 e BNegão trocaram de palco rapidamente para fazer “os maconheiros mais famosos do Brasil” darem uma festa verde no palco principal do João Rock. Defendendo a legalização da maconha (a principal pauta da banda) e convidando a galera para cantar junto, o Planet Hemp trouxe punk, rock, hip-hop e hardcore para o final da noite do festival. Sempre arteiros, D2 e BNegão pareciam dois adolescentes pulando no palco, apresentando a banda, cantando, esperneando e claro, se divertindo bastante. “Mantenha o Respeito”, “Legalize Já” e “Dig Dig Dig” estavam na boca da galera, que gritava cada verso enquanto fazia as maiores rodas vistas no festival desde o show dos Raimundos de 2014. A erva que é remédio e não faz mal tinha tanto adeptos quanto fosse possível contar enquanto o show acontecia, mas a galera soube disfarçar. Tanto que um BNegão que pediu ao público para acender os isqueiros antes de cantar “Queimando Tudo” ficou assustado com a baixa “adesão” do público à ferramenta e teve que pedir de novo para que mais isqueiros subissem ao ar. “Agora sim”, exclamou o rapper antes de chamar uma das últimas músicas da apresentação, homenageando Chico Science.
Criolo
Mas a função de fechar a noite de festa de Ribeirão Preto ficou para Criolo, que trouxe seu consagrado “Convoque seu Buda” para o palco do interior paulista. O rapper, que levou Tulipa Ruiz e Rael entre seus convidados, apresentou a diversificação de sua música, tratando com a devida atenção temas como homofobia, direitos das mulheres, racismo e a política brasileira. As canções “Mariô”, “Convoque seu Buda”, “Duas de Cinco”, “Grajauex” e “Bogotá” fizeram parte da apresentação que terminou com uma autocitação de um trecho da música “Sucrilhos”: “Eu tenho orgulho da minha cor / do meu cabelo e do meu nariz / Sou assim e sou feliz / Índio, caboclo, cafuso / Criolo! Sou brasileiro!”, para delírio da galera que ainda lotava o Parque Permanente de Exposições.
O mestre @criolomc também está tocando hoje aqui no @festivaljoaorock ! #JoaoRock #Criolo Um vídeo publicado por Tenho Mais Discos Que Amigos! (@tmdqa) em
Ao longo desta semana, postaremos as entrevistas bem legais que fizemos com alguns atos do festival, então fiquem ligados no TMDQA!
Perguntamos pro #Nasi, do #IRA!, se ele tem mais discos que amigos. Mais no Snapchat > tenhomaisdiscos @oficialira @festivaljoaorock Um vídeo publicado por Tenho Mais Discos Que Amigos! (@tmdqa) em