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7 aprendizados de brasileiros que tem bandas com gringos na Europa

Descubra como é a vida de bandas em Londres e Frankfurt comparada ao universo brasileiro do rock independente.

7 aprendizados de brasileiros que tem bandas com gringos na Europa

“Lá na gringa é outra coisa”, você talvez já tenha escutado, sobre as vantagens de se ter uma banda em outros lugares do mundo. Mas será que é mais fácil mesmo? Conversamos com duas bandas formadas por brasileiros na Inglaterra e Alemanha para descobrir as vantagens e desventuras de fazer rock autoral em terras europeias, ao lado de músicos locais.

A mescla de integrantes é curiosa: enquanto no The Flowerscents, formado em Londres, o único local é o vocalista Peter Davies, no Die Traktor o brasileiro “perdido” entre os alemães em Frankfurt é Pedro Américo, ex-integrante das bandas Estigma, Hill Valleys e Nipshot.

As respostas deste post foram dadas por Pedro Américo (PA) do Die Traktor e Steffan Duarte (SD) do The Flowerscents. Quando necessário, incluímos “Londres” e “Alemanha” para identificar o espectro da resposta. Enquanto uma banda tem quase três anos na capital do Reino Unido, a outra tem mais de oito anos com um brasileiro na formação, por isso a diferença na experiência é refletida na identificação entre cidade e país.

Confira 6 lições dadas por eles caso você tenha planos de ter uma banda na Europa ou apenas curiosidade em saber sobre a vida no rock em diferentes lugares do mundo:

Muitos espaços para shows

PA: O corre é o mesmo, mas acho que para o rock é um pouco mais fácil na Alemanha, onde ele faz parte da cultura. Qualquer cidadezinha tem um bar com rock ao vivo, então fica mais simples de arrumar shows. Se você olhar as bandas que fazem tour pela Europa, pequenas ou grandes, elas sempre tem um ou dois shows em cada país e o resto da tour é pela Alemanha.

SD: A principal diferença em Londres é a quantidade de casas de shows e a infraestrutura. A grande maioria oferece um equipamento de som honesto e existem muitos bares com música ao vivo que abrem as portas. O público também é mais receptivo ao trabalho autoral.

Publico receptivo, bandas concorrentes

SD: Em Londres são muitas oportunidades. Consequentemente, muitas bandas também. Sinto falta de uma união entre as bandas em si, de se ajudarem como tínhamos o costume de fazer no Brasil, talvez por a gente vir da cena punk rock-hardcore. Aqui as bandas estão em disputa, cada uma trilha o seu caminho sozinha. É um pouco triste isso, uma vez que em grande maioria somos independentes e necessitamos desse networking.

Na Alemanha as pessoas apoiam e curtem bandas novas. Elas consomem merchandising e se interessam. Se a banda for de fora, eles compram só para ajudar, antes mesmo de assistir o show.

PA: Ao mesmo tempo que sobram espaços para tocar, falta solidariedade entre as bandas. Todas precisam ter equipamento próprio, o backline inteiro. Algumas casas de show pedem pra banda trazer até P.A. Geralmente as bandas não emprestam, e se você não tiver, não faz o show.

Ensaio somente com estúdio próprio

PA: Na Alemanha, as bandas alugam uma sala e preparam o espaço. Não há esses estúdios prontos para ensaio. Começar uma banda é caro.

Barreiras linguísticas

SD : No começo quando mandávamos e-mails a procura de shows, a gente não fazia ideia por exemplo do que eram os breakables, que são basicamente as peças de bateria que precisamos levar.

PA: Quando eu fui pra Alemanha, não sabia nada da língua. Fui contratado para trabalhar em inglês e na banda só o vocalista falava inglês! Ele ia traduzindo, eu fazia gestos. Eles foram sempre muito pacientes e me ensinaram uma língua. Foi importante também aprender a língua para conversar com os fãs. Eles também sempre tiveram muita paciência com o meu alemão maluco!

Cidade grande é transtorno

SD: Moramos em cantos diferentes da cidade e nem sempre é fácil ter que ir ensaiar depois de trabalhar 12 horas seguidas. Eu pedalo por quase 1 hora com guitarra nas costas, os piás enfrentam o metrô em horário de pico cheio de equipamentos. Não é tão simples, uma vez que moramos aqui longe da família e trabalhar o dia todo para se manter é uma realidade.

Acesso a equipamentos e estúdio

SD: Hoje em dia todo mundo consegue gravar um disco cheio no seu próprio quarto, certo? Não vejo muita diferença em relação a isso estando em Londres, mas é claro que se você puder  investir um estúdio de alta qualidade, aqui tem vários. A parte boa que é o acesso fácil a bons equipamentos. Aqui dando uma suadinha você consegue comprar aquilo que sonhou a vida toda.

Tocar para os amigos no Brasil é complicado

Geralmente os primeiros fãs de uma banda são os próprios amigos dos integrantes. Porém tocar para muitos dos amigos não passa de um desejo para estas bandas, ao menos por enquanto. O Die Traktor pretendia ir ao Brasil, porém o vocalista há pouco virou papai e a turnê ficou em segundo plano. “Agora vamos focar em gravar o nosso disco novo em setembro, e a partir daí vamos nos planejar. Quem sabe em 2018?”, planeja Américo.

Já para o The Flowerscents, uma turnê pode ser quase toda feita apenas com os integrantes sincronizando suas férias. “Estamos em fase de entrar no estúdio para gravar o nosso primeiro full-length. Vamos provavelmente fazer uma série de shows por aqui e em seguida planejar a nossa ida ao Brasil. É o Peter quem vai em turnê, nós vamos de férias”, brinca Duarte.