Jay Vaquer está lançando seu oitavo disco de estúdio, Canções de Exílio. Já tendo experimentado brevemente os holofotes do mainstream com os singles “Cotidiano de um Casal Feliz” e “A Falta que a Falta Faz”, o carioca hoje é um quarentão com família e anos de estrada – experiência que se reflete na calma e serenidade de quem, no momento, só procura fazer a melhor música possível, deixando a busca pelo sucesso comercial em segundo plano.
No novo álbum, Jay assume um alterego e analisa o mundo de quem não está em seu próprio domínio, por força maior ou vontade própria, e os sentimentos e perguntas nascidos a partir desse exílio. Aproveitamos a ocasião para discutir o processo de gravação, as influências, o retorno da parceria com Megh Stock, a vida de um músico independente, e muito mais. O álbum já está disponível em formato físico e nas plataformas de streaming, e você pode ouvi-lo ao final da entrevista.
Leia abaixo!
TMDQA!: Vamos começar falando um pouco sobre o Canções de Exílio. Qual a ideia e o conceito por trás dele?
Jay: Sendo muito franco, não fiz o álbum com um conceito deliberado. Foi espontâneo, veio do meu desejo de me expressar da melhor forma que posso. Reuni os melhores profissionais ao alcance e fizemos tudo com muito esmero e cuidado. São pessoas experientes, capazes, criativas. Começamos com um diálogo com elas e chegamos a um resultado; observo o que conseguimos e, a partir disso, tento pinçar algo que seja emblemático. Nada é muito arquitetado, não penso “vou por aqui, depois por ali” e tal. Só sigo o que quero fazer com muita atenção à verdade e à necessidade de me expressar.
TMDQA!: E como rolou o processo de gravação desse álbum? Você tem ouvido algum artista alguma banda que te inspirou durante a composição, que ajudou a moldar essa sonoridade?
Jay: É claro que estou atento, consumindo e me mantendo curioso a bandas e artistas o tempo todo, e hoje em dia conseguimos garimpar pelas plataformas sociais, que nos ajudam a encontrar novos artistas diariamente. Faço isso quando tenho tempo. Mas quando eu componho, tudo o que consumi ao longo da vida acaba sendo expresso nas minhas composições de forma natural. Tem Paul McCartney, bandas dos anos 80 e 90 que consumi na infância e adolescência… você ouve e identifica Depeche Mode, New Order, A-Ha, Duran Duran, e também ouve Caetano Veloso, Renato Russo, Cazuza, Chico Buarque. Tá tudo no meu DNA, mas não é porque ouvi o novo do Arctic Monkeys que vou querer imitar. É tudo um resultado de um leque muito abrangente de influências.
TMDQA!: O álbum foi lançado há pouco mais de um mês. Como tem sido a recepção dele até aqui?
Jay: É difícil determinar quando o lançamento ocorre de verdade. Ele se dá por etapas: pagamos um lote físico de mil cópias e vendemos autografado pelo site, depois vendemos pela gravadora, e agora tem lançamento no show no Rio de Janeiro no dia 22 de julho. A recepção tem sido muito, muito bacana! Ter o feedback tanto de colegas que você admira quanto de qualquer outra pessoa é importante porque eu sempre aprendo algo. E é interessante que as canções tocam as pessoas de forma diferente. Você tem 10 músicas no disco, e no Blog da Mundiça que é constituído por fãs, todas as canções foram citadas como preferidas por alguém. Todas tem um propósito, e tem sido recebidas muito bem. E não só o publico como pessoas da imprensa tem elogiado. Mas esse nunca é o objetivo – é consquência de trabalho feito com cuidado, afeto e respeito.
TMDQA!: Umas das músicas mais interessantes e ao mesmo tempo mais simples é “Legítima Defesa”, que é a mais longa do álbum e possui uma letra muito interessante, com várias referências à cultura pop. Como foi a composição dela e como rolou a ideia de gravar com a Megh Stock?
Jay: a Megh é uma artista incrível, canta de forma divina. Eu acredito que ela só não esteja no mainstream por opções pessoais. Admiro muito ela e já havíamos cantado juntos antes, na música “Estrela de Um Céu Nublado”. “Legítima Defesa” é o terceiro episódio dessa história – ainda vou lançar o primeiro e o quarto episódios, sempre com a Megh.
TMDQA!: Hoje a indústria da música é fundamentada em métricas diferentes das de quando você começou sua carreira. É cada vez mais difícil as pessoas pararem e ouvirem um álbum inteiro. A venda de CDs se reduziu a uma parcela bem menos significante. Como é ser músico independente no Brasil em 2016?
Jay: Não é facil, né? A gente começa a olhar pra ideias como o arrecadamento coletivo pra se virar. Penso em fazer um show em Belém, por exemplo, e vou fazer as contas: passagem aérea, hospedagem, dinheiro da banda de apoio… tem que encher 600 pessoas pra ficar no zero, sem dívida mas também sem lucro. É difícil ser músico hoje, mas é muito democrático. Vejo com bons olhos a efemeridade da mídia. E realmente temos de nos adaptar – existem ferramentas com as quais tenho muita dificuldade, como o Snapchat. Não vou ficar fazendo snaps de mim dizendo “Oi gente, estou aqui no show, oieee!” (risos). Eu não consigo, minha personalidade não permite. Mas vou me adaptando.
TMDQA!: E como você acha que evoluiu ao longo desses mais de 15 anos de carreira?
Jay: Hoje, administro de forma mais responsável as coisas que me chateiam. Conheço atalhos para obter resultados desejados. Também consigo escolher as pessoas certas pra cada função. É tudo fruto da experiência, que abre caminhos e me oferece uma forma mais madura e suave de lidar com as adversidades. Hoje fico numa boa, sabendo que tenho público suficiente para me sustentar e perpetuar meu trabalho. As pessoas às vezes não entendem, chegam no show e ficam procurando um cenário superproduzido, mas eu sei que ela vai encontrar um trabalho digno, bem feito e bem tocado.
TMDQA!: Você tem mais discos que amigos?
Jay: Tenho mais discos que amigos sim, infinitamente mais discos. Tenho muitos CDs, guardo tudo e não abro mão.