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TMDQA! Entrevista: Rodrigo Lima fala sobre os 25 anos do Dead Fish

Conversamos com o vocalista do Dead Fish sobre gravação de novo DVD de 25 anos, setlist da apresentação, aprendizados, política e mais. Leia!

Dead Fish
Foto: divulgação

Duas décadas e meia de carreira é um feito e tanto! Por isso, no dia 26 de agosto, o Dead Fish vai celebrar o seus os 25 anos com a gravação de um DVD ao vivo no Audio Club, em São Paulo. Formada em 1991, em Vitória, Espírito Santo, a banda tem como formação atual Rodrigo Lima no vocal, Ricardo Mastria na guitarra, Alyand no baixo e Marcão na bateria.

São 25 anos, diversas trocas de integrantes, sete discos de estúdio e três registros ao vivo, além de EP, demos, slipts e um projeto paralelo. Agora, o Dead Fish escreve mais um capítulo na história do hardcore nacional.

Em entrevista, o vocalista Rodrigo Lima nos falou sobre a trajetória da banda e deu alguns detalhes sobre o registro desse show. Vem novidade por aí!

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TMDQA!: Como é ver o Dead Fish completar 25 anos? Você achou que chegaria a essas duas décadas e meia de carreira? 

Rodrigo: É bizarro por um lado e muito gratificante por outro. Como nunca fizemos planos a longo prazo, chegar onde chegamos fazendo o que fazemos é realmente gratificante, mas, sinceramente, nem nós esperávamos.

Lembro que nos anos 90 fizeram uma pesquisa no ES, dessas de publicitários, pra saber o que daria ou não certo na música capixaba. Mais uma pesquisa idiota sobre mercado, tendências e possibilidades comerciais. Lembro que as bandas tidas como “boas comercialmente” foram exatamente as bandas que deram muito errado, lembro que o Dead Fish era uma aposta ruim nessa pesquisa (risos) e nós achávamos tudo isso muito engraçado, já que cagávamos para o que mercado achava bom ou ruim. O importante era estar ali fazendo o que queríamos. Deu no que deu.

TMDQA!: Qual o melhor e o pior em estar há tanto tempo em uma mesma banda?

Rodrigo: A melhor coisa é estar na estrada, conhecer gente louca, interessante e diferente do que você estava acostumado na sua cidade, no seu colégio e da sua família, e ainda receber pra isso. A carga de conhecimento e jogo de cintura que tenho vivido no punk/hardcore nenhuma universidade do mundo ensina.

O pior, além da convivência longa com muitas pessoas que, mesmo fazendo o tipo de música que você ama, são diferentes de você, é adaptar suas próprias prioridades para o grupo e em nome da coletividade. Estar numa banda é abrir mão de muitas prioridades individuais e nem todo mundo consegue se adaptar a isso. Eu mesmo, duas décadas e meia depois, ainda sinto uma baita dificuldade.

TMDQA!: No dia da gravação do DVD de 20 anos, no Circo Voador, você me disse que tinha “uma estranha sensação de cansaço e dever cumprido”. Esse sentimento permanece o mesmo?

Rodrigo: Sim, permanece. É um desafio já ter um legado de duas décadas e ainda estar animado para fazer mais. Mas não deixa de ser um desafio bom.

TMDQA!: Comparado ao anterior, o que podemos esperar desse show e do DVD comemorativo?

Rodrigo: Talvez ele tenha uma qualidade sonora e de imagem um pouco melhor do que o de 20 anos, naquele projeto queríamos mostrar a banda como ela é ao vivo de verdade e foi exatamente o que aconteceu. No show do DF quase tudo pode acontecer e é isso que, em parte, ainda anima a banda e ainda atrai o público para estarem lá. Nesse projeto acredito que queremos algo que foque mais na banda tocando com amigos, algo como nos ver ensaiando com luz e imagem brutal.

TMDQA!: Em 2011, vocês meio que se arrependeram de deixar o público escolher o setlist porque acabaram selecionando as mesmas músicas de sempre. Desta vez, como vai ser o processo de escolha do repertório?

Rodrigo: Desta vez nós escolhemos e posso te dizer que foi dureza porque muitos dos “hits” da massa deadfishiana estão fora, mas ao mesmo tempo conseguimos colocar músicas que as pessoas definitivamente não esperam que toquemos num ao vivo.

TMDQA!: Será o terceiro DVD em formato de show. Vocês pensam em lançar futuramente um trabalho em forma de documentário contando a história da banda?

Rodrigo: Acho que realmente temos uma fixação pela banda tocando ao vivo. Eu particularmente curto, é o que fazemos melhor. Nosso documentário está quase pronto, será lançado até o fim do ano e mostraremos as primeiras imagens justamente no dia da gravação do DVD de 25 anos.

TMDQA!: O Sonho Médio e o Zero e Um foram divisores de água na história do Dead Fish.  De certa forma, o Vitória também representa uma volta por cima, já que veio após atrasos, saída de integrante e um recorde na campanha do crowdfunding?

Rodrigo: Sim, nunca tinha parado pra pensar nisto. O Vitória realmente é mais uma vitória da banda, não só musicalmente, mas no respaldo com seu público, que nós nem sabíamos que temos. Queremos fazer outro disco de inéditas logo.

TMDQA!: Politicamente falando, o que vocês percebem de diferente entre os fãs das antigas e os fãs mais jovens? As mensagens da banda são assimiladas da mesma forma?

Rodrigo: Não, sempre existiu a rapeize que está ali pra entrar no moshpit ou tomar uma cerva e também sempre existiu aquela molecada que está ali pelas letras, nesse quesito pouca coisa mudou em relação a banda.

TMDQA!: Depois da polêmica sobre fãs de direita não serem bem-vindos e aquela discussão toda sobre a administração das redes sociais da banda, vocês passaram a tomar mais cuidado com o que publicam? As opiniões políticas que continuam sendo postadas são feitas por vocês mesmos ou ainda por pessoas que trabalham com vocês?

Rodrigo: Ainda por pessoas que trabalham conosco, mais preparadas em sua postura política, talvez. Nós internamente não estamos muito interessados no que o social media da Veja ou o moleque branco raivosinho de classe média tem de opinião sobre qualquer assunto ou sobre nós.

No fim das contas, essa onda de merda toda na internet foi bastante esclarecedora pra todos nós, percebemos o quanto estamos numa sociedade ainda muito preconceituosa, racista, manipulada, misógina e oligarca no sentido escravagista da palavra.  Seguiremos com nossa mensagem, nosso lado está bem claro agora e aparece quem quiser, né?

 

TMDQA!: Mesmo com muitas bandas movimentando o hardcore nacional, o Dead Fish ainda é visto como o grande representante da cena, a ponto de festivais não serem tão bem sucedidos quando não há a presença da banda. Isso gera uma cobrança maior, chega a incomodar de alguma maneira?

Rodrigo: Não incomoda, não nos levamos tão a sério quanto as pessoas levam. Já deveríamos ser uma banda veterana numa cena de bandas bastante novas, mas isso não acontece, talvez por conservadorismo até do público. Seria um peso grande carregar essa responsabilidade de maior banda disso ou daquilo, não compramos essa ideia, é cristão demais. Movimentos de música têm ondas que vêm e vão e/ou desaparecem, é assim a vida.

Procuramos ser o mais gregários possível, não só com bandas de nosso estilo, afinal é uma cena musical que luta grandemente pra se sustentar. Eu particularmente acho que podemos fazer mais em muitos aspectos, mas nem sempre é possível. Eu, pessoalmente, acho muito feio montar um palco e fazer as bandas naquela noite tocarem na frente da bateria da minha banda. Sempre achei super feio e demonstra um certo egoísmo, e é até bastante contraditório pra uma banda envolvida com as ideias do hardcore, mas pelo que me diz a equipe, nem sempre é possível e pode comprometer a qualidade do nosso show. Enfim, estar num patamar mediano num cenário que é super pequeno leva a alguns paradoxos.

TMDQA!: Depois da gravação do DVD quais serão os planos da banda? Acha que veremos a comemoração dos 30 anos do Dead Fish?

Rodrigo: Vamos lançar o documentário e começar a pensar um álbum novo e só; 30 anos ainda é muito longe e como te disse, não fazemos planos.