Entrevistas

A música, o livro e o mapa: conversamos com a banda Baleia sobre o novo álbum, 'Atlas'

Conversamos com a ambiciosa banda carioca Baleia, que está preparando um mega pacotão do seu novo disco de estúdio, Atlas.

Baleia

Formada em 2010, época em que ficou conhecida por seus covers jazzísticos de canções pop, a Baleia despontou de vez como uma das boas novidades do cenário alternativo nacional em 2013, com o disco de estreia Quebra Azul. Numa época em que gêneros são separados e definidos à perfeição, como encaixes circulares, a banda carioca está mais para um cubo – sua sonoridade rica e expansiva não permitindo que o sexteto fique restrito só ao rock, ao pop, ou à erudição completa.

Atlas, disponibilizado nas plataformas digitais em março deste ano, segue trilhando o caminho desafiador pavimentado por Quebra Azul. Liricamente impactante, infinitamente atraente, e executado com paixão da primeira à última nota, o quebra-cabeça está prestes a receber sua versão física.

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Mas não é como se um CD em uma caixa fosse suficiente para contar toda a história de um dos melhores discos do ano. Em parceria com a designer e ilustradora Lisa Akerman, a banda desenvolveu um livro com 32 páginas que expandem o universo de Atlas, além de um mapa. O álbum-livro, como vem sendo chamado, estará disponível no site oficial da banda no dia 29 de agosto.

Aproveitamos a fase final de preparação antes do lançamento para conversar com Gabriel Vaz, vocalista e compositor da Baleia. Leia abaixo!

TMDQA!: Vocês já disponibilizaram o Atlas nos serviços de streaming e ele vai ser lançado em formato físico no dia 29 de agosto. Mas além do CD, vocês estão incluindo um livro e um mapa que dialogam com o conteúdo das músicas. Qual a ideia por trás dessa reimaginação do lançamento físico do disco? 
Gabriel: Quisemos fazer algo um pouco maior do que simplesmente botar o CD numa caixa. Primeiro porque a mídia do CD é uma coisa que já não faz mais sentido – aí pensamos “bom, vamos fazer algo maior, que tenha valor material de verdade”. Gravamos todo o instrumental antes, sem letra, então deu muito tempo para irmos pensando, entendendo e sentindo o que eram o lugar e o universo do disco. Desde sempre ele veio surgindo como uma coisa mais coesa. O conceito de lugar que disco habita, as histórias, as temáticas… foi tudo mais enredado. E tínhamos a ideia de transformar ele num universo, com habitantes, que tivesse dimensão estética e gráfica, além do som. Eu considero o livro uma parte complementar da obra, não só um adendo. É um portal para o público ter um entendimento mais profundo desse conceito que quisemos trazer.

TMDQA!: O álbum tem uma sonoridade muito expansiva e ambiciosa: ouvindo ele, parecia que eu tava numa peça da Broadway ou assistindo um filme de art house… são muitas texturas e alguns instrumentos são até difíceis de identificar. Como rolou o processo de gravação?
Gabriel: Foi muito engraçado porque, de certa forma, o caminho até o disco pronto se desenvolveu muito naturalmente. Quando lançamos o Quebra Azul (2013) achávamos que ainda estávamos num caminho incompleto, descobrindo muitas coisas, então estávamos em ponto de bala querendo fazer algo novo. Nos isolamos por dez dias em um sítio para gravar todos os instrumentais, levantamos as músicas em pouco tempo. Foi muito intenso. E para nós, não nos distanciamos dele com o Atlas – por mais que pareça que há uma certa quebra, foi uma espécie de continuação. Fomos influenciados por situações difíceis. 2015 foi um ano difícil para a humanidade, portanto existia esse espirito combativo, intenso, explosivo, de ‘chute na porta’, que acabou impresso no resultado final. O nome do disco não é à toa: Atlas é um titã da mitologia grega, condenado a segurar os céus nos ombros.

TMDQA!: E o resultado foi o que vocês esperavam? Planejavam desde o início que o disco tivesse essa densidade de detalhes?
Gabriel: Não pensamos muito sobre como ele seria. A ideia inicial era utilizar menos elementos, seguindo a filosofia do ‘menos é mais’. Mas no final das contas isso foi por água abaixo. É um disco que precisávamos botar para fora, e ele tem muita informação porque é um produto dessa era do excesso de informação. Mas chegamos à conclusão de que o terceiro álbum será bem, bem mais tranquilo (risos).

TMDQA!: Entre o lançamento digital do Atlas, em março, e o físico, no fim de agosto, vai haver um intervalo de cinco meses. Isso está se dando pelo custo da produção do álbum-livro, é uma estratégia de marketing, ou apenas uma opção de vocês?
Gabriel: Esse intervalo não foi necessariamente pré-concebido. É uma ideia que custa e demanda tempo, a ser levantada com recursos de uma banda que não é necessariamente mainstream. Somos uma banda pequena no meio alternativo. E pra gente pode até ser bom, vamos lançá-lo de novo com um complemento, apresentando o outro lado do disco em uma outra dimensão conceitual. Acho legal, porque o álbum se transformou num objeto artístico com desenhos e coisas que você pode ter em mãos, das quais você pode se apropriar.

TMDQA!: Que artistas ou bandas inspiraram vocês durante a composição desse disco? Eu, particularmente, consigo ouvir desde Arcade Fire e Radiohead até Marisa Monte e Arnaldo Antunes.
Gabriel: Existem bandas que não necessariamente influenciam a gente o tempo inteiro, mas que abriram nossa cabeça pro que queremos fazer, e devemos muito a elas. Radiohead é uma das maiores influências, porque cada um de nós veio de um lugar diferente igual eles. Nós nos inspiramos não necessariamente na música, mas no pensamento e na forma de trabalhar. Grizzly Bear, Caetano Veloso… a liberdade na qual esses artistas se colocam é admirável. A nível de universo lírico, acho que a maior influência é o autor português Valter Hugo Mãe. Eu e minha irmã costumávamos ler ele o tempo todo.

TMDQA!: O quão viável é ser uma banda alternativa no Brasil em 2016?
Gabriel: É muito gratificante. Também é foda mas, aqui no Rio, 2016 tá foda pra todo mundo. Temos muita sorte porque viemos de famílias estabelecidas. Temos outros pequenos trabalhos por fora, e sempre tivemos a possibilidade de reinvestir o dinheiro que a banda ganhava nela mesma. Começamos a tirar dinheiro para nós só esse ano. Então um dos fatores de estarmos onde estamos é que investimos nela, buscamos fazer as coisas com qualidade. E como tivemos a sorte de poder dedicar todo o dinheiro nela, a coisa tá começando a andar com as próprias pernas. Mas exige muito tempo e muito amor. Tem que se unir e ter muita boa vontade.

TMDQA!: E o que a Baleia está planejando para o resto do ano?
Gabriel: Vamos fazer mais shows. Tem a segunda leva da turnêzinha do Atlas, e alguns projetos que não posso dizer ainda.

TMDQA!: Você tem mais discos que amigos?
Gabriel: Eu sem dúvida alguma tenho mais discos que amigos! Aliás sempre adorei o nome do site de vocês. É mais fácil ter discos bons que amigos bons.

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