30 de Julho de 2001: foi nesse dia, em meio a várias mudanças de datas e programações diferentes para regiões diversas do mundo que Is This It, o disco de estreia da banda nova-iorquina The Strokes, foi lançado na Austrália.
A banda havia feito uma turnê bem sucedida por lá e em tempos onde a Internet não tinha o impacto que tem hoje, a gravadora dos caras resolveu lançá-lo primeiro no país do Hemisfério Sul, para depois disponibilizá-lo no Japão em 22 de Agosto e Reino Unido em 27 de Agosto para bater com os festivais de Reading e Leeds. Nos Estados Unidos ele só saiu em 09 de Outubro.
Vale lembrar que nesse meio tempo o país da banda foi atingido pelos ataques às torres gêmeas do World Trade Center, justamente na cidade de Nova York, terra do Strokes, e isso bagunçou ainda mais os planos de lançamento do álbum.
Além disso, o álbum trazia uma faixa chamada “New York City Cops” cuja letra traz a banda falando mal dos policiais locais que acabaram se tornando heróis por conta dos resgates no WTC, e a faixa foi substituída por “When It Started” na versão norte-americana.
Apesar do levemente caótico lançamento de Is This It, o álbum foi um sucesso e acabou entrando para a história recente do rock and roll.
Início e Gravações
Foto por The Fader
Em 2000 uma demo do Strokes chamou a atenção de Ryan Gentles, responsável por marcar shows de bandas no Mercury Lounge, local icônico de Nova York.
Após quatro shows na casa, a banda gravou um EP com três faixas que apareceriam em Is This It, “The Modern Age”, “Last Nite” e “Barely Legal”, e o registro acabou sendo lançado como The Modern Age pela Rough Trade.
O registro foi responsável por uma turnê com shows sold out no Reino Unido e depois de explodir por lá, os Estados Unidos também começaram a prestar atenção em Julian Casablancas e companhia, e uma guerra entre grandes gravadoras começou para contratar o Strokes.
A RCA foi a vencedora e a banda começou a trabalhar com o produtor Gil Norton (Foo Fighters, Jimmy Eat World, Dashboard Confessional, Pixies) no seu aguardado disco de estreia, mas as partes não se entenderam e o disco acabou sendo gravado por Gordon Raphael.
Para gravar o álbum, produtor e banda optaram por uma abordagem suja e se inspiraram em ícones da sua cidade como Velvet Underground e Ramones e a gravação da bateria, por exemplo, tinha apenas três microfones para capturar “um som explosivo”.
Lançamento
Encontre o nome do The Strokes se conseguir
A gravadora do Strokes usou e abusou dos festivais de música mundo afora para divulgar o álbum, e a época pré e pós lançamento aconteceu entre alguns dos maiores do planeta, como Summer Sonic no Japão, T In The Park na Escócia e Reading/Leeds no Reino Unido.
Com o single “Hard To Explain” explodindo nas rádios a banda excursionou com o jogo ganho e vários shows com todos os ingressos esgotados na Europa.
Em Novembro, após o lançamento tardio nos Estados Unidos, veio o lançamento do segundo single com “Last Nite” e aí o país natal do Strokes abraçou a banda de vez: assim, a banda conquistava o mundo.
Recepção e Influência
Para entender a influência que o primeiro disco do Strokes teve no rock and roll, é preciso contextualizar o período antes.
No início dos anos 2000 o rock estava nas grandes rádios e na MTV, mas havia alguns nichos bastante específicos como o pop-punk do Blink-182 e o new metal do P.O.D., que explodiu com “Alive” naquele ano pois a canção se tornou uma espécie de hino após os ataques de 11 de Setembro.
Havia alguns bons nomes surgindo entre o mainstream e o underground com alguns de seus melhores discos da carreira: o Jimmy Eat World lançava Bleed American, o At The Drive-In causou um impacto estrondoso com Relationship Of Command um ano antes, o Queens Of The Stone Age lançou Rated R também em 2000 e, os suecos do The Hives explodiram com Veni Vidi Vicious e o White Stripes apareceu com o terceiro álbum White Blood Cells e o mega hit “Fell In Love With A Girl”.
Mais uma vez, a indústria via com bons olhos o movimento do rock no underground que produzia bandas já com públicos bem estabelecidos e precisavam de um empurrão para explodir entre os grandes públicos. Como você deve imaginar, o “empurrão” acabou vindo por parte do Strokes.
Quando hits como “Last Nite”, impulsionado em boa parte pelo seu clipe retrô, explodiram nas rádios e canais de televisão, o rock and roll clássico, garage e inspirado nos anos 70 e 80 estava de volta aos grandes públicos e quando isso acontece é normal que as pessoas comecem a procurar nomes similares, o que aconteceu de forma global.
O mundo todo começou a prestar atenção em bandas como White Stripes e The Hives, citadas acima, além de The Vines, The Libertines, Arctic Monkeys, Kings Of Leon e mais, que se inspiraram no disco de estreia do Strokes para pegar seus instrumentos, gravar e lançar discos. Jared Followill do KoL, por exemplo, disse que o álbum foi um dos principais motivos pelos quais ele quis estar em uma banda.
Foi assim, nascido do underground de Nova York e chamando a atenção desde o começo, que o Strokes lançou seu disco de estreia que passou a ser chamado por veículos do mundo todo como “a salvação do rock and roll”, afinal de contas, o rock estava de volta aos principais postos do planeta e vários outros nomes começaram a pipocar por aí.
Como uma nova versão do grunge no final dos anos 80 e início dos anos 90 e do punk rock e rock alternativo na metade dos anos 90, uma grande banda liderou o caminho como fizeram Nirvana, Pearl Jam, Soundgarden, Ramones, Green Day, The Offspring e tantas outras em suas épocas, abrindo espaço para nomes que faziam parte das mais prolíficas cenas locais.
Arte de Capa
A arte de capa de Is This It também foi fundamental para o sucesso do trabalho, já que é provocadora e mostra uma bela foto com um o corpo nu de uma mulher usando uma luva.
A foto foi tirada por Colin Lane e mostra sua ex-namorada usando uma luva que estava na casa do fotógrafo e veio de uma sessão de fotos espontânea realizada depois da moça sair do banho.
Infelizmente, após o lançamento na Austrália, Japão e Reino Unido, a capa foi alterada para uma outra com uma foto de partículas subatômicas e, de acordo com empresários do Strokes, foi uma decisão da própria banda, incluindo uma suposta declaração de Julian Casablancas que, ao telefone, teria dito que “achou uma imagem muito mais legal que a foto da bunda” para a capa do álbum.
A arte foi mudada para essa versão e uma biografia da banda diz que os integrantes ficaram preocupados com setores mais conservadores dos Estados Unidos que poderiam boicotar o disco.
Legado
Foto do The Strokes por Shutterstock
Is This It foi um sucesso gigantesco de público e crítica, e um dos últimos álbuns de rock and roll a causar barulho no mainstream a ponto de catapultar uma série de outras bandas similares aos holofotes, criando uma nova cena própria que gerou artistas que lotam seus shows até hoje, 15 anos depois.
Boa parte da cena indie como a conhecemos hoje também foi inspirada, influenciada e moldada pelos acordes, linhas de baixo, vocais e letras do disco.
Se “salvou o rock”, fica para a opinião de cada um, já que a frase é sempre polêmica, mas que foi responsável por milhões de pessoas voltarem seus olhos para o estilo e formou toda uma geração de novos roqueiros, isso foi.