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Resenha e fotos: gravação do DVD de 25 anos do Dead Fish

Dead Fish apostou na organização e no setlist com raridades no lugar de alguns de seus principais hits. Bullet Bane e Zander abriram a noite.

Dead Fish na gravação do DVD de 25 anos
Foto por Renata Monteiro

Em 11/11/11, o Dead Fish gravou o seu DVD de 20 anos de carreira em um Circo Voador caótico: o palco era terra de ninguém, a equipe de filmagem passou um perrengue e algumas músicas tiveram que ser regravadas. Agora, para o DVD de 25 anos anos, tivemos uma data não simbólica e um Audio Club “arrumadinho”, que teve somente na pista o momento de caos. Nada de fãs no palco dessa vez – apesar da persistência de alguns teimosos.

Mas, antes do grande evento da noite, o público contou com uma abertura em grande estilo com as bandas Bullet Bane e Zander (que também abriu para o Dead Fish no DVD anterior).

Bullet Bane - Renata Monteiro
Bullet Bane – Foto por: Renata Monteiro

Victor (vocal), Danilo (guitarra), Fernando (guitarra), Rafael (baixo) e Renan (bateria) deram início à apresentação do Bullet Bane com a vibe experimental que eles têm feito há algum tempo. Após uma intro, mandaram “Capadócia”, adaptação de “Jorge da Capadocia”, do Jorge Ben Jor. A faixa encerra o disco Impavid Colossus, de 2014 e, do mesmo trabalho, vem “Hate And Haste Street”, música que deu sequência ao setlist.

A pista começava a tomar forma e as primeiras rodas iam surgindo. O entrosamento da banda nesse outro formato de show tem sido cada vez melhor. “Hoje é um dia muito especial pra gente. É uma honra fazer parte disso”, falou Victor.

Atualmente, o Bullet Bane está em fase de produção de um novo disco, com letras em português, que deve sair no começo de 2017. A banda mostrou um pouco do que vem por aí com as novas músicas “Catalise” e “Mutação”, que teve seu videoclipe gravado pelo projeto Gravando Bandas, com lançamento previsto para o mês que vem.

Voltando às origens, “Option To Repression” e “Dance Of Eletronic Images”, do primeiro disco, New World Broadcast, incendiaram a galera ainda mais. O misto de sons mais psicodélicos com a agressividade do hardcore funcionaram muito bem durante todo o show.

Em “Impavid” e “Anchorage” a casa já estava cheia e a plateia cada vez mais envolvida. “Obrigado! Curtam a saideira!”, se despediu Victor antes de “Crystalline”, que encerrou deixando os presentes bastante satisfeitos, além de devidamente aquecidos para a atração seguinte.

Zander- Foto por: Renata Monteiro
Zander- Foto por: Renata Monteiro

Eu não via show do Zander há muito tempo e fiquei bastante impressionada com a proporção do efeito que a banda tem causado no público. Gabriel Zander (vocal), Gabriel Arbex (guitarra), Marcelo (baixo) e Bruno (bateria) fizeram com que o praticamente todo mundo cantasse todas as músicas do início ao fim. A apresentação começou com “Todos Os Dias” e imediatamente o mosh rolou na pista.

“Até A Proxima Parada” teve início pelas vozes dos fãs, que estavam em perfeita sintonia com a banda e seguiram ainda mais participativos em “Auto-Falantes”, que além de também começar com o coro do público ainda fez marmanjos se abraçarem emocionados.

Também mostrando um pouco do seu próximo trabalho, o Zander apresentou “Avesso”, do álbum Flamboyant, que sai no dia 14 de setembro via Flecha Discos. E, mesmo com um repertório que focou principalmente em seu primeiro disco, Brasa, de 2010, a banda conseguiu abranger todos os seus lançamentos, como na sequência “Como Arde, Sô”, “Linha Vermelha” e “Hortelã”.

Os fãs seguiram compartilhando uma energia incrível com o grupo. Após “Meia-Noite”, veio “Dezesseis”, que foi dedicada a Vivian, uma amiga da banda que “passou por muita coisa”. O momento foi um dos destaques do show, com os presentes cantando muito alto.

Caminhando para o final do show, a clássica “Humaitá” foi seguida por “Pólvora”, que encerrou a apresentação do grupo. Foi de lavar a alma! Nas palavras do próprio Zander: “um puta clima bom!”

Foto por: Renata Monteiro
Foto por: Renata Monteiro

Já passava de meia-noite e o Audio Club estava completamente lotado. Enquanto os últimos ajustes eram feitos no palco, os fãs ansiosos curtiram a discotecagem de Luka e Thiago DJ, ao som de bandas como Ramones, System Of A Down e Planet Hemp.

Os gritos de “hey, Dead Fish, vai tomar no cu” não poderiam faltar e já rolavam em alto e bom som antes mesmo da banda aparecer no palco. E bastou Rodrigo (vocal), Rick (guitarra), Alyand (baixo) e Marcão (bateria) entrarem em cena que a casa foi abaixo. Já tinha roda e mosh antes mesmo dos primeiros acordes serem executados.

Dead Fish - Foto por: Renata Monteiro
Dead Fish – Foto por: Renata Monteiro

“Afasia” abriu o show e logo de cara gerou-se uma catarse coletiva. A pista virou um formigueiro humano totalmente insano, que duraria até o fim. Rodas, moshs, pulos, gritos, fãs cantando a uma só voz. Não tinha como ser diferente.

O diferente ficou por conta do setlist. Como Rodrigo já tinha adiantado com exclusividade para o TMDQA!, muitos hits ficaram de fora. Se na gravação dos 20 anos o repertório ficou a cargo do público e resultou em mais do mesmo, agora a banda surpreendeu com faixas que praticamente nunca aparecem nos shows. Mais da metade das músicas tocadas em 2011 não se repetiram dessa vez.

Depois de “Sobre A Violência” e “Molotov”, o vocalista trocou as primeiras palavras com a plateia: “essa é pra quem embarca e desembarca na estação República às 8h da manhã”, falou ao anunciar “912 Passos”, do disco mais recente, Vitória. Intercalando todos os álbuns, a banda seguiu fazendo uma apresentação impecável.

“Boa noite, São Paulo! É preciso lembrar que é um DVD e vocês tem que ficar bonitos”, cumprimentou Rodrigo, que continuou: “Eu entrei na banda porque precisava falar sobre algumas coisas que eu vivia no Espírito Santo e, 25 anos depois, eu continuo precisando. Nós estamos vivendo um golpe e são vocês que vão ter que lutar!”

Certamente um show desses no momento político e social desordenado em que vivemos traz um sentido a mais. Durante “Proprietários Do Terceiro Mundo” já era possível notar cartazes e camisetas com os dizeres “Fora Temer”. O protesto presente em tantos eventos não poderia ficar de fora desse show.

Dead Fish - Foto por: Renata Monteiro
Dead Fish – Foto por: Renata Monteiro

E, à essa altura, as pessoas já estavam se matando para tentar subir ao palco, mesmo com a segurança super reforçada. Dead Fish sem stage dive não é a mesma coisa, mas é compreensível que em uma gravação de DVD a prioridade seja não comprometer equipamentos e qualidade da imagem.

Seguindo o baile, vieram “JogoJogo”, “Rei De Açúcar”, “Queda Livre”, “Perfect Party” e “Venceremos”, que abriu uma puta roda e proporcionou um dos grande bate cabeças da noite.

Então, a primeira participação especial foi anunciada: Murilo Queiroz, que foi guitarrista da banda de 1998 a 2003, subiu ao palco para tocar “Ad Infinitum” e “Revolver”, ambas do disco Afasia, de 2001. Um momento e tanto! Principalmente para quem, assim como eu, nunca havia tido a oportunidade de vê-lo ao vivo com o Dead Fish.

“Nous Sommes Les Paraibes” foi dedicada a “todos os imigrantes que chegaram sem terra e sem respaldo”. Para “MST”, a banda chamou Michelle, uma amiga do Rodrigo, para dividir os microfones com ele. O show seguiu intenso e explosivo. Durante “Modificar”, o vocalista acabou pegando um dos cartazes de “Fora Temer” e segurou em direção à plateia: “Vamos aproveitar que somos vizinhos dele e mandar um recado”. Não sabemos se um dia isso chegará ao golpista, mas recado dado.

A galera da pista seguia incansável. A troca de energia entre banda e público era indescritível. Em “Zero E Um” o clima estava tão louco que as rodas se misturavam, era gente rolando por cima de gente, pessoas perdendo sapato, pessoas involuntariamente sendo sugadas pela multidão e mais. Galera da pista manda o camarote tomar no cu, mas ali de cima a vista é muito privilegiada. Sensacional ver tudo isso acontecendo ao mesmo tempo.

“Autonomia” foi anunciada como “sobre ser livre e ter livre arbítrio”. O mosh estava incontrolável e uma pessoa quase conseguiu subir ao palco. Seria a primeira de muitas a quase conseguir. “Destruir Tudo De Novo” e mais dois fãs quase conseguiram passar pelos seguranças, mas acabaram ficando no fosso e sendo retirados. “Armadilhas Verbais” e o bate cabeça seguia generalizado. “Couraça” e mais uma tentativa de subir ao palco. A expectativa de ver se alguém conseguiria o stage dive acabou se tornando uma diversão à parte.

Dead Fish - Foto por: Renata Monteiro
Dead Fish – Foto por: Renata Monteiro

E era a hora de mais um convidado se juntar à banda. “Quando o conheci, ele era um molequinho”, disse Rodrigo ao receber Vitor Isensee, ex-Forfun e atual Braza. “Todo respeito a essa entidade que há 25 anos representa o hardcore brasileiro”, declarou o músico. Assim, “Tão Iguais” surgiu com uma presença de palco contagiante e com novos versos inclusos. Foi um dos destaques da noite e uma parceria que funcionou muitíssimo bem.

Depois de uma pausa, Rodrigo falou sobre quem havia viajado de longe para estar ali. Salvador, Brasília, Vitória, Rio de Janeiro e até Uruguai estavam representados. O vocalista chamou então o próximo a participar com a banda. Phil Fargnoli, guitarrista do Dead Fish de 2003 a 2013, teve um recepção calorosa do público e dos integrantes. As músicas da vez foram “Asfalto”, que sempre rende um belo momento com muita participação dos fãs, e “Diesel”, do disco Um Homem Só, que nesse show marcou presença com músicas pouco tocadas em shows.

“Selfegofactóide” antecedeu “Shark Attack” e “Just Skate”, faixas em inglês dos discos Contra Todos e Sirva-se, respectivamente. Durante “Hoje”, enquanto mais um fã tentava subir ao palco, Rodrigo o chamou, mas o segurança não deixou e tirou o rapaz à força. O vocalista insistiu e acabou descendo no fosso, terminando de cantar por lá mesmo.

Na pista, muitos gritos de “hey segurança, vai tomar no cu”. Rodrigo pediu pra repetir a música: “eu não apareci e eu sou muito importante no vídeo”, brincou. Sem novos contratempos, “Hoje” foi executada mais uma vez, com direito a uma tentativa de pirâmide humana entre o público e até Reynaldo do Plastic Fire pipocando no meio da galera tentando ir pro palco.

Com uma apresentação repleta de convidados ilustres, a última participação veio depois de “Vitória”, com o rapper Black Alien durante “Mulheres Negras”, também com novos versos. É uma música que ao vivo sempre emociona, tanto pela entrega do público quanto pela própria letra e, dessa vez não foi diferente. Foram minutos lindos e marcantes!

Dead Fish e Black Alien - Foto por: Renata Monteiro
Dead Fish e Black Alien – Foto por: Renata Monteiro

Infelizmente, o show entrava na sua reta final. Depois de Rodrigo declarar que “Neymar é uma piada, CBF é um lixo”, tivemos “Contra Todos”, a última faixa antes do bis. A apresentação estava acabando e mesmo assim a energia dos fãs seguia inesgotável.

A cereja do bolo veio com a sequência “A Urgência”, “Bem-Vindo Ao Clube”, e “Sonho Médio”, que promoveram os instantes finais da pancadaria na pista. Impressionantemente a segurança conseguiu mesmo barrar o povo e ninguém subiu para o stage dive. Um detalhe que não atrapalhou o brilho dessa noite que vai ficar na memória.

Após cerca de duas horas de show, ficou a sensação de dever cumprido. Os 25 anos da banda foram muito bem representados por todos que fizeram parte da celebração. Vida longa ao Dead Fish! Que venham mais festa bonitas como essa!

Dead Fish - Foto por: Renata Monteiro
Dead Fish – Foto por: Renata Monteiro

SETLIST:

1 – Afasia (Afasia – 2001)

2 – Sobre A Volência (Sonho Médio – 1999)

3 – Molotov (Sirva-se – 1997)

4 – 912 Passos (Vitória – 2015)

5 – Proprietários do Terceiro Mundo (Afasia – 2001)

6 – JogoJogo (Vitória – 2015)

7 – Rei De Açúcar (Um Homem Só – 2006)

8 – Queda Livre (Zero e Um – 2004)

9 – Perfect Party (Afasia – 2001)

10 – Venceremos (Contra Todos – 2009)

11 – Ad Infinitum (Afasia – 2001)

12 – Revólver (Afasia – 2001)

13 – Nous Sommes Les Paraibes (Vitória – 2015)

14 – MST (Sirva-se – 1997)

15 – Modificar (Sonho Médio – 1999)

16 – Zero e Um (Zero e Um – 2004)

17 – Autonomia (Contra Todos – 2009)

18 – Desturir Tudo De Novo (Um Homem Só – 2006)

19 – Armadilhas Verbais (Contra Todos – 2009)

20 – Desencontros (Zero e Um – 2004)

21 – Couraça (Um Homem Só – 2006)

22 – Tão Iguais (Zero e Um – 2004)

23 – Asfalto (Contra Todos – 2009)

24 – Diesel (Um Homem Só – 2006)

25 – Selfegofactóide (Vitória – 2015)

26 – Shark Attack (Contra Todos – 2009)

27 – Just Skate (Sirva-se – 1997)

28 – Hoje (Sonho Médio – 1999)

29 – Vitória (Vitória – 2015)

30 – Mulheres Negras (Sonho Médio – 1999)

31 – Contra Todos (Contra Todos – 2009)

BIS

32 – A Urgência (Zero e Um – 2004)

33 – Bem-Vindo ao Clube (Zero e Um – 2004)

34 – Sonho Médio (Sonho Médio – 1999)