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Resenha e entrevista do Scalene no Imperator, no Rio de Janeiro

Assistimos ao show do Scalene no Rio de Janeiro, cheio de energia, e também conversamos com a banda após a apresentação. Leia.

Scalene no Rio de Janeiro

Fotos por Fabrício Mainenti

Dois meses depois do lançamento do DVD Ao Vivo em Brasília, o Scalene voltou a encontrar os fãs cariocas ao se apresentar no Imperator, casa de shows localizada no Méier, Zona Norte do Rio de Janeiro, na última sexta-feira (9). A noite começou cedo, por volta de 21h, quando a banda Trampa, liderada pelo vocalista André Noblat, subiu ao palco, mostrando seu competente novo disco, Viva La Evolución! de 2016.

Com um bom público, o Scalene começou sua apresentação às 22h18 e o repertório contou com diversas faixas dos seus dois últimos discos de estúdio, Real/Surreal (2013) e “Éter” (2015). Formado por Gustavo Bertoni (vocal), Tomas Bertoni (guitarra), Lucas Furtado (baixo) e Philipe “Makako” Nogueira (bateria), o grupo brasiliense, que também tinha Samyr Aissami como guitarrista de apoio, contagiou o público com uma performance bastante técnica e ao mesmo tempo cheia de energia, como de costume.

Um bom exemplo foram as clássicas rodinhas que podiam ser vistas o tempo inteiro no meio da galera, recebendo até elogios da banda. Depois de “Surreal”, Gustavo fez a interação inicial com a plateia: “Obrigado, galera. Vocês são foda pra caralho. É a nossa primeira vez aqui no Imperator. Várias bandas amigas já tocaram aqui e realmente é foda pra caralho”. Outras canções que são verdadeiros petardos sonoros agitaram bastante os fãs, como “Nós > Eles”, “Silêncio” e “Sonhador”.

Na segunda parte desta última, o Scalene chamou ao palco o vocalista e guitarrista da Hover, Saulo von Seehausen, para cantar o refrão da música. Já antes de “Inércia”, Tomas quis falar do conturbado clima político que o Brasil atravessa: “Galera, todo mundo diz que o país está vivendo um momento de merda, mas na verdade é um momento ótimo, em que a gente pode aprender a ouvir opiniões divergentes e fazer um país melhor a partir disso”. Mais tarde, em “Tiro Cego”, um fã foi levado até o palco através das mãos suspensas da plateia, sendo rapidamente retirado do palco por um segurança.

Ao testemunhar a cena, Gustavo soltou de forma bem humorada: “Da próxima vez deixa que eu jogo ele de volta”. Para fechar a apresentação, pouco antes do relógio marcar 23h40, o Scalene escolheu a faixa “Legado”, permitindo que muitos fãs tomassem o palco. Ao lado dos ídolos, todo mundo, claro, aproveitou a oportunidade para registrar várias selfies com os integrantes. Assim terminava mais um show da banda que tinha uma base sólida no underground quando explodiu durante o reality show global “Super Star” e hoje figura entre os principais nomes do cenário atual do rock brasileiro.

Confira a seguir a entrevista que o TMDQA fez logo após a apresentação no Imperator:

TMDQA: O que vocês acham do público carioca e como sentiram o show de hoje (9/9)?
Scalene: Toda vez que a gente vem aqui é uma surpresa nova. O Rio de Janeiro é bom porque é uma cidade grande, então cada bairro acaba tendo pessoas diferentes, pessoas que acompanham a gente bastante. O público daqui está entre os que mais representam. Pelo fato do Rio ser uma cidade que atrai, sempre vem gente de outros lugares, como de Cabo Frio e Búzios (Região dos Lagos) ou até mesmo de São Paulo, que é pertinho. A galera se movimenta para vir par o Rio e curtir o show. A gente teve rodinha durante o show inteiro, inclusive em “Entrelaços”.

TMDQA: Vocês adotam uma postura bastante cuidadosa com relação aos próximos passos da carreira da banda, quais são os planos do Scalene para o futuro?
Scalene: O DVD consumiu bastante a gente e esse ano ainda tem clipe novo, coisa que nós ainda não tínhamos divulgado, então é uma novidade em primeira mão para vocês. Além disso, a turnê segue com tudo já que a nossa agenda está bem cheia e vamos continuar divulgando o DVD. Para o ano que vem a gente ainda está planejando tudo, mas tem bastante coisa boa para acontecer.

TMDQA: O Scalene procura sempre apoiar bandas que ainda estão começando, qual é a importância de dar voz aos grupos que estão buscando um espaço no cenário independente?
Scalene: Isso é essencial. É preciso criar um ciclo que nunca se encerre, como um movimento. A gente teve apoio de outras bandas quando a gente estava no início e a gente quer também dar suporte às novas bandas, assim como a gente espera que elas também façam o mesmo com as próximas que surgirem depois, e por aí vai. A gente sente falta de que isso aconteça mais. Além disso, nós gostamos de descobrir novas bandas e queremos apoiar música boa para sempre. E às vezes elas nem são brasileiras, mas a gente descobre e manda ver mesmo assim.

TMDQA: O Brasil está vivendo um período de muita turbulência na política, como se houvesse apenas um lado A e lado B. Como vocês costumam manifestar suas opiniões sobre o governo nas redes sociais, o que têm a dizer sobre o assunto?
Scalene: O brasileiro é muito ingênuo. Ele se apega a qualquer identificação momentânea que faça ele se sentir bem. Quando alguém diz “Fora, Temer”, é preciso se questionar o porquê de estar dizendo isso. Ninguém pode se permitir virar apenas massa de manobra. Todo mundo precisa dar um passo para trás. O brasileiro está sendo manipulado e tudo ficou polarizado, parece que todo mundo precisa vestir uma camisa, mas na real a discussão precisa sem bem mais ampla. A galera vai para rua defender algo que ela nem sabe muito bem porque defende. Enquanto os políticos apertam as mãos no dia seguinte, você está aí sem falar com o seu amigo. O que a gente pode levar de melhor disso tudo são as ideias progressistas, de perceber como a sociedade é machista, racista, homofóbica etc. Pelo menos é algo positivo no meio de tudo isso.