Resenha: Maximus Festival tem uma grande estreia em São Paulo

Maximus Festival tem boa estreia em São Paulo e é uma esperança para os fãs de metal no país. Veja como foram shows de Marilyn Manson, Rammstein e mais.

Maximus Festival

No feriado de 7 de Setembro rolou a primeira edição do Maximus Festival, que teve o Autódromo de Interlagos como local escolhido para o evento.

Phil Rodriguez, CEO da Move Concerts, disse que deseja que o festival siga os moldes dos grandes festivais de metal na Europa, como o francês Hellfest e o alemão Wacken. E isso já pôde ser visto na montagem dos palcos principais, que ficaram um ao lado do outro, fazendo com que o público consiga assistir todos os shows sem precisar se locomover em longas distâncias, como é o caso do Lollapalooza, por exemplo.

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Foi usada apenas uma parte do autódromo, um espaço que tem capacidade aproximada para 30-40 mil pessoas.

Para acesso ao festival, compra de alimentos, bebidas e merch oficial, foi escolhido o sistema cashless, que é o uso de uma pulseira onde o dinheiro é carregado em um chip para ser usado dentro do evento.

(foto: Maximus Festival)

As bandas escolhidas para o lineup estão em alta no cenário do rock/metal alternativo atual, e algumas delas já consagradas, como é o caso dos dois nomes que encabeçaram essa edição de estreia: Rammstein e Marilyn Manson.

Além dos palcos Rockatansky e Maximus, há também o Thunder Dome; menor e que recebeu as bandas brasileiras Ego Kill Talent, Project 46, Woslom e Far From Alaska, além dos britânicos do RavenEye.

Com certo atraso, por volta de 11:40am, os portões foram abertos e aos poucos os espaços dos palcos foram preenchidos pelos fãs das bandas presentes.

(foto: Maximus Festival)

Às 13h, a banda finlandesa Steve n’ Seagulls abriu o palco Rockatansky e teve uma boa resposta do público com suas versões em country/bluegrass de músicas famosas de hard rock e metal. Rolou Metallica, Iron Maiden, AC/DC, entre outros clássicos.

(foto: Maximus Festival)

Em seguida, abrindo o palco Maximus, veio o Hollywood Undead. Banda formada na Califórnia em 2005, que mistura rap com rock.
J-Dog e companhia entraram mascarados e conseguiram animar os presentes que já aguardavam ansiosamente pelo Rammstein. Mesmo com muitas bases pré-gravadas, principalmente nos refrães, e uma sonoridade, digamos, peculiar, que flerta entre uma coisa tipo o Limp Bizkit e o Imagine Dragons, a banda seguiu sua curta performance de 30 minutos sem maiores incidentes.

(foto: Maximus Festival)

O mesmo não pode ser dito do Shinedown. Em 15 anos de carreira, em sua primeira passagem pelo Brasil, a banda teve que cortar seu set praticamente pela metade, tocando apenas 4 músicas, por problemas no som que geraram um atraso de quase 20 minutos antes de subirem ao palco. Desde o início do show, o microfone de Brent Smith falhou várias vezes, sendo impossível de escutá-lo em alguns momentos. Após “Cut the Cord“, o vocalista pediu muitas desculpas, agradeceu o apoio do público e a banda fechou a breve performance com “Sound of Madness“.

(foto: Flavio Florido/UOL)

Depois foi a vez do Hellyeah, que fez, sem dúvida alguma, o show mais pesado e bruto do festival. Durante 40 minutos, Chad Gray, Vinnie Paul e cia. fizeram Interlagos tremer com os riffs pesados e o pedal duplo.
A banda tocou músicas de seu disco novo, Unden!able, e também de outros trabalhos. O destaque foi “Say When“, responsável por abrir um circle pit enorme na pista. Foi difícil não ficar com o ouvido zunindo depois.

(foto: Maximus Festival)

O Black Stone Cherry fez um show enxuto e que agradou o público no palco Rockatansky. Nos 40 minutos que foram lhe dados, a banda mostrou competência nas nove músicas que tocou e ainda fechou com o clássico do Motörhead, “Ace of Spades“. Ponto pros caras.

(foto: Flavio Moraes/G1)

Seguindo no palco Maximus, o Halestorm levantou os fãs da banda que estavam presentes e também fez um bom show. A vocalista Lzzy Hale, conhecida pelo seu belo vocal, esbanjou técnica, até exagerando um pouco em certos momentos do show, onde pareceu que estava num show de talentos, mas nada que fizesse com que o show perdesse em qualidade.

(foto: Flavio Moraes/G1)

O festival estava na metade, e às 17:15h o Bullet for My Valentine subiu ao palco para delírio dos inúmeros fãs que aguardavam o grupo.
Os caras fizeram um bom show, que percorreu toda a carreira nas 11 músicas que escolheram pro setlist, e fizeram os fãs cantarem alto suas músicas ao longo de 1h. Destaque para a famosa “Tears Don’t Fall“, cantada em coro.

(foto: Flavio Moraes/G1)

Quem teve a missão de tocar antes do Rammstein no palco Maximus foi o Disturbed, que não parou um minuto na 1:10h que teve, tocando 17 músicas.
Proposital ou não, o baixo de John Moyer estava extremamente alto e chegava a incomodar os ouvidos em alguns momentos. A presença de palco do vocalista David Draiman deixa um pouco a desejar, mas o público pareceu não se importar muito com isso. Das 17 músicas, quatro foram covers: “The Sound of Silence” (Simon & Garfunkel), “I Still Haven’t Found What I’m Looking for” (U2), “Baba O’Riley” (The Who) e “Killing in the Name” (Rage Against the Machine).

(foto: Raphael Castello/UOL)

Assim que o Disturbed acabou seu set com “Down With the Sickness“, às 19:35h em ponto a música “Bitch Better Have My Money” da Rihanna começa a tocar nos alto-falantes, para a confusão – e até certa revolta – de algumas pessoas. Isso foi proposital, é claro.

Após a música, uma introdução obscura e tensa, típica de seus shows, começa. A banda vem entrando aos poucos e por último, ele.
Nove anos após sua última passagem pelo Brasil, Marilyn Manson subia ao palco do Maximus Festival para fechar as apresentações do Rockatansky.

O show começou com “Angel With the Scabbed Wings“, do clássico Antichrist Superstar de 1996 e teve resposta imediata do público, que antes do show começar já entoava o coro com o nome do cantor.

Durante 1:15h, Manson e banda desfilaram hits, músicas inesperadas e até uma homenagem a David Bowie, um de seus maiores ídolos.

Antes de “mOBSCENE“, Manson apareceu no palco com um chapéu coco e paletó com estampa de oncinha. Apontou para Tyler Bates, um dos guitarristas, fazendo sinal para começar o riff e então cantou “Moonage Daydream“. Uma bonita e justa homenagem a um dos maiores artistas da história, e que deixou muita gente em Interlagos emocionada.

Do The Pale Emperor, seu lançamento mais recente, de 2015, Manson escolheu a poderosa e atmosférica “Cupid Carries a Gun” e a ótima “Deep Six“, primeiro single do álbum.

Em “Sweet Dreams (Are Made of This)“, o músico volta ao palco usando pernas de pau e muletas, um artifício clássico que Manson usa há mais de uma década.

As surpresas ficaram por conta de “Tourniquet” e “Cruci-Fiction in Space“, que não estavam presentes nos sets mais recentes. Uma grata surpresa para os fãs.

O momento emocional e de calmaria ficou com “Coma White”, onde Manson cantou vestindo uma blusa preta com capuz, usando um pedestal cheio de flores vermelhas.

Pra fechar o show, a mais do que clássica “The Beautiful People“, onde Manson atiça o público ao tocar uma parte do “riff” da bateria em uma espécie de tambor, segurado pelo tecladista e percussionista da banda, Daniel Fox, antes da música, de fato, começar.

Ao final, Manson para, vai até o baixista Twiggy Ramirez e começa a cantar os versos iniciais da música novamente com Twiggy apenas acompanhando no baixo. O público começa a cantar em coro, a banda volta com todo o instrumental e o show se encerra com uma chuva de papeis picados e notas de dólar personalizadas com o rosto do Manson, no valor de 666 dólares. Entendeu o sentido de “Bitch Better Have My Money“?

Algumas pessoas ainda insistem em ter aquela imagem mais “chocante” do Manson da década de 1990 e início dos anos 2000, quando ele usava cinta-liga e cantava seminu. Essa época passou, agora ele tem 47 anos e deve pensar que isso não é mais necessário. E realmente não precisa.

Os shows continuam intensos, a banda está em ótima sintonia – uma das melhores formações até hoje, principalmente com a adição de mais uma guitarra – e é isso que vale mais. Manson ainda se utiliza de elementos que provocam as pessoas, mas de uma forma mais sutil, e também porque nos dias atuais nada mais é tão chocante quanto nos anos 1990.

Manson surgiu em uma época em que foi necessário fazer o que ele fez. Os EUA e o mundo precisavam daquilo, como um contraponto às boybands, a Hollywood, à fascinação dos EUA com a violência (que persiste até hoje). Mostrou a que veio, deixou sua mensagem e hoje não precisa mais provar nada a ninguém.
O palanque usado para cantar “Antichrist Superstar” não veio, mas a bíblia que pega fogo, sim, e apareceu brevemente antes de “Cruci-Fiction in Space“. Ele corta a mão e deixa o sangue escorrer em “No Reflection“, enquanto canta com um microfone que parece um facão. Brinca com o público antes de “The Dope Show“, perguntando se estávamos chapados naquela noite.

Entre tudo isso, o que mais surpreendeu, na verdade, foi ele, pela primeira vez na história, fazendo um show de cavanhaque. Coisa que ninguém comentou em outros espaços, chegando ao ponto de colocarem o físico dele como um aspecto negativo do show. O rock n’ roll e o metal não são isso. O mundo não deveria ser assim.

Marilyn Manson envelheceu bem, continua relevante, cativante e despertando a nossa curiosidade. E é isso que importa.

(foto: Edi Fortini)

Agora… fechando o festival, os donos de um dos shows mais impressionantes na atualidade: o Rammstein.

Os alemães levaram o público à loucura quando pisaram no palco às 21h da noite em Interlagos. Percorrendo todos os álbuns, Till Lindemann e cia. fizeram um show de extrema competência.

O Rammstein tem um lance engraçado, na verdade. Tudo é tão friamente pensado e calculado pra sair perfeito que o show acaba parecendo uma peça de teatro. Não, isso não faz com o show seja “menos bom”, mas é uma coisa curiosa de se perceber, porque se a pessoa viu um show, ela viu todos. Aquela sensação do inesperado, do imprevisível é quase nula.

A banda é conhecida pela pirotecnia que usa ao longo de toda a performance. As mais impressionantes ao meu ver, foram durante “Du Hast“, onde “torpedos” são lançados até as duas torres que têm ao fundo da plateia, voltam ao palco e explodem; labaredas saem do chão e do teto do palco e também das torres. Mesmo longe, é possível sentir o calor das chamas. Quem ficou na grade sofreu um bocado, sem dúvida.

A outra foi em “Engel“, música de encerramento do show, onde Till canta toda a música suspenso por uma asa que pega fogo no final.

Entre as 18 músicas tocadas pelos caras, estava um belo cover de “Stripped” do Depeche Mode e também “Te Quiero Puta!“, que saiu no disco Rosenrot de 2005 e, curiosamente, os caras só tocam na América Latina, por ter o espanhol (língua em que a música é cantada) como idioma majoritário.

E o Maximus Festival terminou assim. A próxima edição já foi anunciada: 20 de Maio de 2017, num sábado que tem tudo para dar certo, e torcemos para que dê, porque a sua estreia foi muito boa e um festival deste porte estava em falta no país.

Os fãs de rock/metal alternativo também merecem ter um evento que os contemplem, e o Maximus parece estar empenhado em entregar isso.

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