Entrevistas

Do Texas para Nova York: conversamos com o Parquet Courts

Conversamos com Andrew Savage, líder da elogiadíssima banda nova-iorquina Parquet Courts, a respeito do novo álbum 'Human Performance'. Leia!

Parquet Courts

Quando trocou a pacata cidade universitária de Denton, no Texas, pela selvageria intimidante de Nova Iorque, Andrew Savage também começou a deixar para trás o início de sua carreira musical. Ele liderou o Teenage Cool Kids, uma banda indie/punk que desenvolveu uma espécie de status cult ao longo de sua breve existência, até 2011 – quando resolveu dedicar-se inteiramente ao projeto que havia começado no ano anterior, o Parquet Courts.

Foi na cidade mais famosa do mundo que Andrew começou a experimentar algo parecido com o estrelato: nada de capas de revistas ou hits na rádio, mas todos os discos de sua banda foram banhados em elogios pela crítica especializada, particularmente a respeito da forma como retrataram a vida do “típico nova-iorquino de vinte e poucos anos bem intencionado, mas socialmente inepto e emocionalmente instável”.

O quinto disco de estúdio, Human Performance, aborda questões cotidianas através de narrativa um pouco mais filosófica e reflexiva. Repleto de metáforas sob um garage rock tingido de punk, o Parquet Courts deve marcar presença nas listas de ‘melhores do ano’ mais uma vez.

Conversamos com Andrew sobre o novo trabalho, as inspirações, as diferenças entre o interior do Texas e a megalópole da costa leste norte-americana e mais. Leia abaixo!

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TMDQA!: Human Performance saiu há alguns meses, e sei que a recepção da crítica foi excepcional como de costume para a banda. E quanto aos fãs? O quão bem recebidas têm sido as mensagens e histórias contadas no disco?  
Andrew: Eu só posso julgar a recepção do álbum pelo que as pessoas têm me dito. Ouvi de muitas que é o álbum preferido delas. Acho que tem sido bem recebido, porque temos muitas pessoas vindo aos shows.

TMDQA!: Acho que os temas que inspiraram a composição do disco estão bem claros, mas gostaria que você falasse um pouco sobre a gravação dele. A banda chegou a ter dúvidas a respeito da direção que ia tomar? O produto final é o que imaginavam que seria no começo?
Andrew: Foi diferente neste ciclo. O que teríamos ao final, o resultado de toda a composição, foi um mistério durante muito tempo. Nos outros álbuns, nós chegávamos ao estúdio com as ideias prontas para serem desenvolvidas e tomarem forma, mas desta vez simplesmente entramos lá e começamos a compor. Dessa experiência surgiram músicas que soavam como o Parquet Courts, mas também aconteciam muitas improvisações e acabamos seguindo em várias direções diferentes. Chegamos ao fim do processo com 32 músicas dentre as quais escolher para o álbum e selecionamos nossas 13 favoritas. A gravação ocorreu em três estúdios diferentes, o principal sendo o Dreamland em Nova Iorque. Era uma velha igreja que foi convertida em estúdio, e passamos três semanas praticamente morando nela. Foi excitante, pois tivemos a oportunidade de imergir na experiência de compor. Tudo o que fizemos lá foi compor.

TMDQA!: Recentemente, vocês lançaram um videoclipe com conceito bastante intrigante para a faixa-título. Analisando o vídeo e o tema geral do disco, você acha que nós passamos muito tempo focados em nos comportar de acordo com as expectativas de terceiros e, nisso, acabamos nos tornando um pouco vulneráveis e irreconhecíveis?  
Andrew: Acho que você acertou em cheio. Essa canção é desconfortável até para mim mesmo, e nós queríamos que o videoclipe refletisse isso. O diretor curte programas infantis do leste europeu e eles trabalham muito com essa proposta das marionetes. A ideia foi ótima porque fez a ligação entre o tema lírico e o tema musical. Sobre a sua pergunta não posso responder por todos, mas eu com certeza tenho medo de desapontar as pessoas que esperam coisas boas de mim.

TMDQA!: Me parece que ao menos algumas das letras do disco são inspiradas por filosofia. Há algum livro ou diário que tenha influenciado a composição de Human Performance?
Andrew: Eu não leio livros ou blogs dedicados à filosofia. A maioria é ficção. Diria que leio pessoas que leem filosofia e isso pode ter influenciado um pouco o disco.

TMDQA!: Como você acha que amadureceu, olhando lá para a época do Teenage Cool Kids e comparando com o presente?
Andrew: Acho que me tornei um compositor melhor. O Parquet Courts é meu maior projeto. Com o Teenage Cool Kids eu era bem jovem, minha voz fala por si só. Foi uma experiência mais juvenil e eu tinha uma visão diferente das coisas. Ainda não havia chegado ‘lá’ como cantor. Talvez só a partir do último disco do TCK (Denton After Sunset, 2011) eu tenha começado a me tornar o compositor que sou hoje.

TMDQA!: Quais são as maiores diferenças entre ter uma banda no Texas e ter uma banda em Nova Iorque? Acha que, se fosse voltar para Denton ou outra cidade menor, sua forma de compor mudaria?
Andrew: Sim, mudaria. Há uma grande diferença entre o Texas e Nova Iorque: lá, as pessoas têm vans e dirigem para onde querem ir, e nós podemos nos juntar para praticar no barraco atrás de nossas casas. Você não pode fazer isso em Nova Iorque. É difícil ensaiar com a banda aqui, porque as pessoas vão querer te matar se você começar a fazer barulho no seu apartamento. Você precisa pegar um táxi e encontrar sua banda em algum lugar afastado, e demora demais se não fizer isso.

TMDQA!: O que o Parquet Courts tem planejado para o resto de 2016?
Andrew: Terminamos nossa turnê norte-americana em agosto. Vamos dar uma pausa e ir para a Europa em outubro, depois o México em novembro e a Austrália antes do fim do ano.

TMDQA!: Pra terminar, o que você conhece sobre o Brasil e a América do Sul? E podemos esperá-los por aqui no futuro próximo?
Andrew: Ninguém nos convidou ainda! Mas queremos ir. Sei que é caro. Pra ser sincero o meu conhecimento do país de vocês é igual ao de qualquer americano comum: uma visão meio romantizada e não muito aprofundada. Eu adoraria ir, mas pra isso precisa haver demanda.