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Faixa Título: Liniker & Os Caramelows provocam e divertem em "Remonta"

Liniker & Os Caramelows estreiam oficialmente com "Remonta", álbum de estreia repleto de canções de amor intrinsecamente políticas.

Liniker

Em outubro de 2015, uma avalanche varreu as redes sociais. O país reverberava os primeiros passos da atual crise política, o debate em torno de temas espinhosos excitavam os ociosos e incansáveis comentaristas virtuais, mas não se tratava de nada disso. Não era meme, textão ou gif de bichinho. Era um vídeo de edição simples, revelando um grupo desconhecido por muitos tocando uma canção descomplicada de amor, arranjada em referências próximas ao universo romântico da música negra.

Sim, era – pasmem! – música independente, essa tão subestimada forma de arte, espalhada sem publicidade, jabá ou estratégia de marketing de gravadora. Mais especificamente, era “Zero”, de Liniker & Os Caramelows, carro-chefe do EP Cru (2015), cartão de visitas oficial do grupo formado meses antes em Araraquara (SP). Aclamado por um público generoso desde então, Cru ganhou os palcos em shows vigorosos e alegres que se tornariam a base do movimento mais importante da banda até aqui: o lançamento de Remonta, o primeiro álbum de Liniker & Os Caramelows, nessa sexta-feira (16).

Produzido por Márcio Arantes (Tulipa Ruiz), Remonta é um disco de arranjos refinados e distantes do lugar comum da MPB radiofônica, mesmo composto por treze músicas com grande potencial de mercado. “O Márcio trouxe uma visão externa muito ligada ao que a gente acreditava, levou a gente por caminhos que a gente não tinha experimentado ainda”, diz Liniker com a mesma voz limpa e marcante das músicas, em um papo leve e bem-humorado por telefone. “Ele levou a gente pro risco mesmo, nos ajudou a aparar algumas arestas e a desapegar de algumas coisas que a gente já tinha feito. Mas tudo com muita liberdade”, relata.

Se Cru resumia em nome e em som o espírito do grupo até ali, Remonta revela um grupo maduro, consciente da expectativa criada a seu redor e focado em extrair o melhor de si. A produção ambiciosa, aliada à experiência adquirida ao vivo, revelou uma banda segura e consciente do próprio potencial. “Passar por todas as cidades em que passamos nos ajudou a entender como o nosso som refletia nas pessoas, como as pessoas recebiam as músicas no show”, atesta a vocalista.

Gravado no Red Bull Studios em São Paulo, um dos principais polos de gestação da nova música independente no Brasil, Remonta enfileira composições inéditas e regravações das três músicas de Cru, com participações de Bixiga 70, Jeneci, Aeromoças e Tenistas Russas, Tulipa Ruiz, Tássia Reis, Xênia França, e as vocalistas d’As Bahias e a Cozinha Mineira, Assucena Assucena e Raquel Virgínia. E mesmo indiretamente, o álbum traz o tom político subliminar inerente ao trabalho da banda, já acostumada a desafiar estereótipos de gênero, raça e sexualidade em um país de crescente impulso conservador.

“O nosso trabalho levanta questões que não têm como não serem políticas. É um trabalho político por si só, naturalmente”, afirma Liniker. “Não tem como não defender coisas que o país tenta inviabilizar e marginalizar como se não existisse. Todas as questões que a gente traz não são coisas que a gente tá instituindo agora, são coisas que vêm de muito tempo. É um movimento que continua, e o Remonta mostra isso”, discorre. “A gente não quer falar de amor. As músicas é que falam de amor. A gente quer mostrar que esse amor é universal, independe de quem você é ou a quem é direcionado esse amor. Todo mundo ama”, completa a backing vocal Renata Éssis.

Também intrínseco a Remonta é a postura carismática e bem-humorada da banda, que contrasta momentos sérios ou emocionalmente intensos (“Ralador de Pia”, “Remonta”) com uma espécie de graça despretensiosa (“Você Fez Merda”, a instrumental “Funzy”). Tal atitude é o núcleo responsável tanto pela leveza das apresentações do grupo quanto por mantê-lo unido em momentos adversos, como a morte precoce da backing vocal Bárbara Rosa, em Junho deste ano, após uma batalha conta o câncer.

“Se as pessoas não encararem a vida positivamente, a gente cai num buraco sem fim de reclamação, porque realmente existem coisas muito ruins no meio”, alega Renata. “A gente manda essa mensagem positiva porque mesmo nos momentos difíceis a gente sabe que a gente tem o apoio desse grupo que a gente formou”. Com voz serena, Liniker concorda com Renata e resume o espírito do novo trabalho: “Essa é a nossa verdade, é isso que a gente tem pra oferecer hoje”.

Remonta está disponível nas principais plataformas digitais, e estará à venda em CD a partir de 30 de Setembro.