Texto: William Galvão / Fotos: Renata Basílio
Em sua quarta edição, o Popload Festival aconteceu no sábado, 8 de Outubro, em novo local, a Urban Stage, em Santana, na zona norte de São Paulo.
O evento migrou de um ambiente fechado para um aberto e, apesar disso conferir ares de festival grande, continua de médio porte e teve até um dia a menos.
Com público de 7,8 mil pessoas, segundo a organização, a edição teve atrações brasileiras como Bixiga 70 e a cantora Ava Rocha, estreia do Ratatat no Brasil, além dos grandes nomes da noite: Wilco, com show intenso; e The Libertines em uma apresentação de rock de garagem com um público cheio de saudades.
O novo espaço manteve a qualidade do evento, sem grandes filas de banheiro ou para comprar e retirar comes e bebes, com shows bastante pontuais.
Bem localizado, a organização prestou um bom serviço, com direito a bilhete do metrô de graça para o público voltar para casa e distribuição de água na saída.
The Libertines traz saudosismo ao Popload
De rostos colados dividindo o mesmo microfone na maior parte do tempo, a dupla Pete Doherty e Carl Barât deu ao público brasileiro o que se queria ver desde Up The Bracket (2002), o disco de estreia do The Libertines, que ilustrou o fundo do palco com sua capa.
O grupo passou pelo Brasil em 2004, mas sem sua figura central, Pete Doherty, na época em reabilitação. Após brigas, problemas judiciais e algumas internações, o grupo conseguiu driblar as catástrofes do piegas sexo-drogas-rockandroll e voltou em 2015 com o disco Anthems For Doomed Youth que, apesar de não estar à altura dos dois anteriores, é um prêmio de consolo aos fãs da banda.
Pontualmente no palco às 23h, o quarteto britânico mostrou o melhor de seu rock de garagem descompromissado, com bom desempenhos de Pete, Carl, e também do baterista Gary Powell e do baixista John Hassal.
O setlist contou com 21 músicas passando por todos os discos em uma hora e meia de show, tempo menor que o Wilco, que abriu a apresentação para os britânicos em uma polêmica escolha da produção.
Apesar de ainda lotado, muitos fãs do Wilco foram mais pra trás do palco ou embora antes do fim do Libertines. O quarteto abriu com “The Delaney” e a recente “Barbarians”, trouxe ainda músicas mais lentas como “What Katie Did” e “Music When The Lights Go out”, uma das baladas indie em que Pete e Carl arrancam suspiros do público enquanto cantam como se fossem se beijar de tão próximos do microfone.
Do Up The Bracket vieram as explosivas e dançantes “Vertigo”, “Death On The Stairs”, as garageiras de “Horrorshow” e “Up The Bracket” no bis, além de “Tell The King” e “What a Waster”.
Para os saudosos de The Libertines, o disco de 2004, o superhit “Can´t Stand Me Now” apareceu algumas músicas antes do bis, com “Music When The Lights Go out” abrindo a segunda parte do show.
Visualmente em forma, o grupo continua com o potencial de uma das bandas britânicas mais importantes dos anos 2000, além de muito querida do público.
O jogo de cena entre Pete e Carl aliado à qualidade dos instrumentistas faz do show do Libertines divertido, juvenil e com um toque de descompromisso que só grandes astros do rock conseguem empregar sem caricaturar a si mesmos.
Wilco revisita carreira em apresentação intensa
O sexteto de Chicago voltou ao Brasil após ter tocado no Rio de Janeiro em 2005 para uma estreia intensa em São Paulo.
A banda ficou tanto tempo sem aparecer em solo brasileiro que presenteou os fãs com um show extra na capital paulista e outro no Rio de Janeiro. Muita gente, inclusive, tem excursionado atrás dos caras.
Subindo ao palco às 20h30, o Wilco fez um show bastante extenso para um festival, com duas horas de duração e músicas que perpassaram quase todos os seus 10 álbuns de estúdio. Ficou de fora apenas o disco autointitulado de 2009. O grupo excursiona com base no último trabalho, Schmilco, lançado esse ano.
Das 12 músicas de Schmilco, o público pôde conferir três: a balada “Cry All Day” ainda no início da apresentação; a guitarra chorosa de “Someone To Lose” e os gemidos e mudanças sonoras de “Locator”.
O disco mais conhecido do grupo, Yankee Hotel Foxtrot, de 2001, teve quatro músicas para a alegria dos fãs. “I’m Trying To Break Your Heart”, a amada do público “Jesus, Etc”, “Heavy Metal Drummer” e “I’m The Man Who Loves You” foram responsáveis por alguns dos grandes momentos.
O conceito de banda “country rock alternativo” é muito melhor compreendido ao vivo. Os remanescentes originais da banda, o vocalista Jeff Tweedy e o baixista John Stirratt, e companhia, sabem traçar de maneira única duas sonoridades distintas, que se contrapõem de maneira experimental e sem medo de errar.
De vocais alinhados em uma pegada folk/country limpa, bateria e guitarras barulhentas e desconexas surgem e se somam em um teor passivo agressivo executado com maestria. Tweedy, em meio ao caos, parece sempre inabalável em sua calmaria vocal.
Foram 21 músicas e um Jeff Tweedy bastante simpático com seu chapéu de cowboy. Foi o show mais consistente da noite, com direito a favoritas de fãs como “Via Chicago”, “Forget The Flowers”, “Box Fill of Letters” e um bis com a dobradinha “Spiders” e “The Late Greats” e uma promessa do vocalista: “Não vamos demorar tanto pra voltar”.