Vencedor do Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes 2016, “É Apenas o Fim do Mundo” faz parte da programação do Festival do Rio deste ano e se destaca pelo retrato fiel e ao mesmo tempo incômodo de uma família aterrorizada por mágoas do passado e situações mal resolvidas. O longa, com previsão de estreia no Brasil para 24 de novembro, é uma produção franco canadense adaptada da peça homônima escrita por Jean-Luc Lagarce e dirigida por Xavier Dolan (“Mommy”).
A trama, roteirizada pelo próprio cineasta quebequense, gira em torno do escritor Louis (Gaspard Ulliel), que, após doze anos sem ver a mãe, Martine (Nathalie Baye), e os irmãos, Suzanne (Léa Seydoux), e Antoine (Vincent Cassel), hoje casado com Catherine (Marion Cotillard), decide voltar à casa para contar sobre sua morte iminente. No entanto, a dinâmica familiar aos poucos vai se revelando tão desarmônica e desconfortável que Louis não consegue revelar o real motivo de sua visita.
As cenas exploram a tensão emocional que Antoine provoca o tempo todo nos outros e o constrangimento revelado na expressão de cada personagem parece ultrapassar a tela de modo a ser percebido na pele pelo espectador. Dolan dá indícios de seu amadurecimento como cineasta a cada take de “É Apenas o Fim do Mundo” e consegue extrair o melhor dos seus comandados em cena. O resultado é a perfeita combinação entre competência técnica e sensibilidade.
É impossível assistir ao filme sem procurar os motivos que teriam feito todos estarem tão desconectados. A relação entre Catherine e Antoine é um exemplo. Os dois se mostram tão distantes que você se pergunta o que leva ambos a insistirem naquele casamento, já que ter filhos não é desculpa desde o século passado. Os diálogos de “É Apenas o Fim do Mundo” também valem menção. O texto se apresenta ora divertido ora denso, deixando quem assiste com a impressão de que está em uma montanha-russa.
A trilha sonora é outro ponto certeiro, principalmente nas sequências de flashback, em que não há falas. O clímax de “É Apenas o Fim do Mundo” chega com o enfrentamento verbal a que todos são submetidos quando Louis já não sabe mais se vai embora ou se fica mais tempo com a família.
O contraste da brutalidade de Antoine com a passividade de Louis deixa o espectador inquieto, quase sufocado. É quando tudo é posto em xeque e nada mais pode ser feito, apenas aceitar que a vida, muitas vezes, não se encaminha da forma que a gente espera. O que resta é a frustração.